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SOLENIDADE DE MARIA SANTÍSSIMA MÃE DE DEUS
XLIV DIA MUNDIAL DA PAZ

HOMILIA DO PAPA BENTO XVI

Basílica Vaticana
1° de Janeiro de 201
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Queridos irmãos e irmãs!

Ainda envolvidos pelo clima espiritual do Natal, no qual contemplámos o mistério do nascimento de Cristo, hoje celebramos com os mesmos sentimentos a Virgem Maria, que a Igreja venera como Mãe de Deus, enquanto concebeu na carne o Filho do Pai eterno. As leituras bíblicas desta solenidade ressaltam principalmente o Filho de Deus que se fez homem e o «nome» do Senhor. A primeira leitura apresenta-nos a solene bênção que os sacerdotes pronunciavam sobre os Israelitas nas grandes festas religiosas: ela é marcada precisamente pelo nome do Senhor, repetido três vezes, como que para exprimir a plenitude e a força que deriva desta invocação. Este texto de bênção litúrgica, de facto, evoca a riqueza de graça e de paz que Deus concede ao homem, como uma disposição benevolente em relação a Ele, e que se manifesta com o «resplandecer» do rosto divino e o «dirigi-lo» para nós.

A Igreja ouve de novo hoje estas palavras, enquanto pede ao Senhor que abençoe o novo ano há pouco iniciado, na consciência de que, diante dos trágicos acontecimentos que marcam a história, perante as lógicas de guerra que infelizmente ainda não estão totalmente superadas, só Deus pode tocar o fundo do coração humano e garantir esperança e paz à humanidade. De facto, já está consolidada a tradição de que no primeiro dia do ano a Igreja, espalhada por todo o mundo, eleve uma oração coral para invocar a paz. É bom iniciar um novo trecho de caminho pondo-se com decisão na via da paz. Hoje, queremos ouvir o brado de tantos homens e mulheres, crianças e idosos vítimas da guerra, que é o rosto mais horrendo e violento da história. Hoje nós rezamos a fim de que a paz, que os anjos anunciaram aos pastores na noite de Natal, possa chegar a toda a parte: «Super terram pax in hominibus bonae voluntatis» (Lc 2, 14). Por isso, sobretudo com a nossa oração, queremos ajudar todos os homens e povos, sobretudo quantos têm responsabilidades de governo, a caminhar de modo cada vez mais decidido pela senda da paz.

Na segunda leitura São Paulo resume na adopção filial a obra de salvação realizada por Cristo, na qual está como que encastoada a figura de Maria. Graças a ela o Filho de Deus, «nascido de mulher» (Gl 4, 4), pôde vir ao mundo como verdadeiro homem, na plenitude dos tempos. Este cumprimento, esta plenitude, refere-se ao passado e às expectativas messiânicas, que se realizam, mas, ao mesmo tempo, refere-se também à plenitude em sentido absoluto: no verbo feito homem, Deus deu a sua Palavra última e definitiva. No limiar de um novo ano, ressoa assim o convite a caminhar com alegria rumo à luz do «sol que surge do alto» (Lc 1, 78), porque na perspectiva cristã, todo o tempo é habitado por Deus, não há futuro que não seja em direcção a Cristo e não existe plenitude fora de Cristo.

O trecho do evangelho de hoje termina com a imposição do nome de Jesus, enquanto Maria participa em silêncio, meditando no coração, o mistério deste seu Filho, que de modo totalmente singular é dom de Deus. Mas a perícope evangélica que ouvimos põe em particular evidência os pastores, que se vão embora «glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto» (Lc 2, 20). O cordeiro tinha-lhes anunciado que na cidade de David, isto é, em Belém, tinha nascido o Salvador e que teriam encontrado o sinal: um menino envolto em panos numa manjedoura (cf. Lc 2, 11-12). Tendo partido às pressas, eles encontraram Maria, José e o Menino. Observemos como o Evangelista fala da maternidade de Maria a partir do Filho, daquele «menino envolto em panos», porque é Ele — o Verbo de Deus (cf. Jo 1, 14) — o ponto de referência, o centro do acontecimento que se está a cumprir e é Ele quem faz com que a maternidade de Maria seja qualificada como «divina».

Esta atenção prevalecente que as leituras de hoje dedicam ao «Filho», a Jesus, não diminui o papel da Mãe, aliás, coloca-a na justa perspectiva: de facto, Maria é a verdadeira Mãe de Deus precisamente em virtude da sua total relação com Cristo. Portanto, glorificando o Filho honra-se a Mãe e honrando a Mãe glorifica-se o Filho. O título de «Mãe de Deus», a que hoje a liturgia dá relevo, ressalta a missão única da Virgem Santa na história da salvação: missão que está na base do culto e da devoção que o povo cristão lhe reserva. De facto, Maria não recebeu o dom de Deus só para si mesma, mas para o levar ao mundo: na sua virgindade fecunda, Deus concedeu aos homens os bens da salvação eterna (cf. Colecta). E Maria oferece continuamente a sua mediação ao Povo de Deus peregrinante na história rumo à eternidade, como outrora a oferecera aos pastores de Belém. Ela, que deu a vida terrena ao Filho de Deus, continua a oferecer aos homens a vida divina, que é o próprio Jesus e o seu Espírito Santo. Por isso é considerada mãe de todos os homens que nascem para a Graça e ao mesmo tempo é invocada como Mãe da Igreja.

É no nome de Maria, Mãe de Deus e dos homens, que desde o dia 1 de Janeiro de 1968 se celebra em todo o mundo o Dia Mundial da Paz. A paz é dom de Deus, como ouvimos na primeira leitura: «O Senhor... te conceda a paz» (Nm 6, 26). Ela é o dom messiânico por excelência, o primeiro fruto da caridade que Jesus nos doou, é a nossa reconciliação e pacificação com Deus. A paz é também um valor humano que se deve realizar a nível social e político, mas afunda as suas raízes no mistério de Cristo (cf. Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 77-90). Nesta solene celebração, por ocasião do quadragésimo quarto Dia Mundial da Paz, sinto-me feliz por dirigir a minha deferente saudação aos ilustres Senhores Embaixadores junto da Santa Sé, com os melhores votos para a sua missão. Dirijo depois uma saudação cordial e fraterna ao meu Secretário de Estado e aos outros Responsáveis dos Dicastérios da Cúria Romana, com um pensamento especial ao Presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz e aos seus colaboradores. Desejo manifestar-lhes profundo reconhecimento pelo empenho quotidiano a favor de uma convivência pacífica entre os povos e da formação cada vez mais sólida de uma consciência de paz na Igreja e no mundo. Nesta perspectiva, a comunidade eclesial está cada vez mais empenhada a trabalhar, segundo as indicações do Magistério, para oferecer um firme património espiritual de valores e de princípios na busca contínua da paz.

Quis recordá-lo na minha Mensagem para a celebração do dia de hoje, com o título «Liberdade religiosa, caminho para a paz»: «O mundo tem necessidade de Deus; tem necessidade de valores éticos e espirituais, universais e compartilhados, e a religião pode oferecer uma contribuição preciosa na sua busca, para a construção de uma ordem social justa e pacífica a nível nacional e internacional» (n. 15). Por conseguinte, ressaltei que «a liberdade religiosa... é elemento imprescindível de um Estado de direito; não pode ser negada nem ao mesmo tempo minar todos os direitos e as liberdades fundamentais, pois é a sua síntese e ápice» (n. 5).

A humanidade não pode mostrar-se resignada à força negativa do egoísmo e da violência; não se deve habituar a conflitos que causam vítimas e põem em perigo o futuro dos povos. Face às tensões ameaçadoras do momento, e sobretudo diante das discriminações, dos abusos e das intolerâncias religiosas, que hoje atingem de modo particular os cristãos (cf. ibid., n. 1), dirijo mais uma vez o urgente convite a não ceder ao desânimo e à resignação. Exorto todos a rezar a fim de que tenham bom êxito os esforços empreendidos por várias partes para promover e construir a paz no mundo. Para esta difícil tarefa não são suficientes palavras, é preciso o compromisso concreto e constante dos responsáveis das nações, mas é necessário sobretudo que cada pessoa seja animada pelo autêntico espírito de paz, que se deve implorar sempre de novo na oração e viver nas relações quotidianas, em todos os ambientes.

Nesta celebração eucarística temos diante dos olhos, para a nossa veneração, a imagem de Nossa Senhora do Sagrado Coração de Viggiano, tão amada pela população da Basilicata. A Virgem Maria dá-nos o seu Filho, mostra-nos o rosto do seu Filho, Príncipe da Paz: que ela nos ajude a permanecer na luz deste rosto, que brilha sobre nós (cf. Nm 6, 25), para redescobrir toda a ternura de Deus Pai; que ela nos ampare ao invocar o Espírito Santo, para que renove a face da terra e transforme os corações, desfazendo a sua dureza perante a bondade desarmante do Menino, que nasceu para nós. A Mãe de Deus nos acompanhe neste novo ano; obtenha para nós e para o mundo inteiro o almejado dom da paz. Amém.

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