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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Sem maquilhagem sobre a rocha

Quinta-feira, 4 de Dezembro de 2014

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 50 de 11 de Dezembro de 2014

Contra a «tentação de muitas pessoas boas» de serem cristãs «só de aparência», com a «maquilhagem» que desaparece com a primeira chuva, alertou o Papa, relançando o testemunho de muitos «cristãos firmes» que edificam a sua vida sobre a «rocha de Jesus» e vivem a «santidade escondida» no dia-a-dia.

Hoje em ambas as leituras — Is 26, 1-6 e Mt 7, 21. 24-27 — a Igreja «fala da força do cristão e da sua fragilidade; de rocha e de areia». Com efeito, «o cristão é forte não só quando diz que o é, mas quando leva uma vida cristã e pratica a doutrina cristã, as palavras de Deus, os mandamentos e as bem-aventuranças». O ponto central é «pôr em prática». Mas existem «cristãos só de aparência, que se pintam de cristãos e na hora da prova só mostram a maquilhagem». E «nós sabemos o que acontece quando uma mulher maquilhada anda pela rua, começa a chover e ela não tem um guarda-chuva: tudo desaparece». Eis a tentação da maquilhagem. Não basta dizer «Senhor, eu sou cristão» para o ser verdadeiramente. Ele diz: não é suficiente repetir «Senhor, Senhor!» para entrar no Reino. É preciso cumprir «a vontade do Pai» e «praticar a Palavra». Eis a diferença entre o cristão «de vida» e o «de aparência».

De resto, é claro como «o Senhor quer que sejamos». Antes de tudo, «o cristão de vida funda-se na rocha», como diz São Paulo quando «fala da água que saía da rocha, que é Cristo». Assim, «só é importante fundar-se na pessoa de Jesus, no seu seguimento, no seu caminho». O Papa confessou que encontrou «muitas vezes pessoas boas, vítimas da mania da “cristandade das aparências”», pessoas que dizem: «Sou de uma família muito católica, sou membro de tal associação e até benfeitor». Mas a verdadeira pergunta que devemos dirigir a estas pessoas é: «Diz-me, a tua vida está fundada em Jesus? Onde está a tua esperança? Na rocha ou nas pertenças?».

Eis a importância de «estar fundado na rocha», pois «vemos muitos cristãos de aparência que desabam diante da primeira tentação, ou seja da chuva». E «quando os rios transbordam e os ventos sopram — as tentações e provas da vida — o cristão da aparência cai porque está sem a rocha que é Cristo». Mas há «muitos santos no povo de Deus — não necessariamente canonizados — que vivem em Cristo, praticando o amor de Jesus!».

O Papa recordou o testemunho de tais santos: «Pensemos nos mais pequeninos, nos doentes que oferecem o seu sofrimento pela Igreja, pelo próximo», e «nos numerosos anciãos que rezam, nas mães e pais que levam em frente com dificuldade a família, a educação dos filhos, o trabalho, mas sempre com a esperança em Jesus», «sem se pavonear», «santos da vida diária. E convidou a pensar também nos «numerosos sacerdotes que não se mostram mas trabalham com grande amor nas suas paróquias: a catequese às crianças, o cuidado dos idosos e doentes, a preparação dos noivos. Fazem todos os dias a mesma coisa, mas não se aborrecem porque estão fundados na rocha», vivem em Jesus: «é isto que dá santidade e esperança à Igreja». Por isso, «devemos pensar muito na santidade escondida na Igreja, nos cristãos fundados em Jesus», nos «cristãos que seguem o conselho de Jesus na última Ceia: “Permanecei em mim!”». Sim, «todos somos pecadores», mas «o cristão que comete um pecado grave, se se arrepende e pede perdão, é grande», pois tem a capacidade de pedir perdão, de não confundir pecado com virtude». Também disto se compreende que é um cristão «fundado na rocha, em Cristo».

Na primeira leitura, Isaías «fala de uma cidade forte que segue Deus, é justa. A cidade é um povo. A sua vontade é firme e Deus garante-lhe a paz». Depois acrescenta: «Confiai sempre no Senhor, Ele é a rocha eterna», e derruba do trono «os soberbos, os vaidosos, os cristãos de aparência». O trecho de Isaías sugeriu outra reflexão, levando o Papa a pensar na «cidade derrubada, vaidosa, que não se funda na rocha de Cristo». Lê-se: «Os pés pisam-na, são os pés dos oprimidos, dos pobres». É uma expressão que «sabe de vingança». «Parece vingança, mas não é».

Até «Nossa Senhora disse: Ele derrubou do trono os poderosos, humilhou os soberbos». E «triunfarão os pobres de espírito, que diante de Deus se sentem humildes», pois «levam em frente a salvação praticando a palavra do Senhor». Aliás, «o resto é aparência: hoje existimos, amanhã não». Enfim, o Papa citou são Bernardo: «Pensa homem no que serás, alimento para os vermes» e «se não estiveres fundado nesta rocha, serás espezinhado».

Neste «tempo de preparação para o Natal peçamos ao Senhor para nos fundarmos na rocha que é Ele, a nossa esperança». Sim, «todos somos pecadores, frágeis, mas se tivermos esperança em Cristo conseguiremos ir em frente». E «esta é a alegria do cristão: saber que nele há esperança, perdão e paz». Por isso, não tem sentido «pôr a nossa esperança naquilo que hoje existe e amanhã deixará de existir».

 


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