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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Quem diminui e quem cresce

 Sexta-feira, 9 de Maio de 2014

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 20 de 15 de Maio de 2014

O testemunho de são João Paulo II, assim como o de «tantos grandes santos» na história da Igreja, mostra que a regra da santidade consiste «em diminuir a fim de que o Senhor cresça». E «todos assistimos aos últimos dias de são João Paulo II: não podia falar, o grande atleta de Deus, o grande guerreiro de Deus, acaba assim. Aniquilado pela doença. Humilhado como Jesus». Evocando o testemunho do Papa Wojtyła — canonizado a 27 de Abril juntamente com João XXIII — o Pontífice traçou o perfil da santidade. Os santos, disse, não são heróis mas mulheres e homens que vivem a cruz no dia-a-dia: são pessoas escolhidas por Deus precisamente para demonstrar que a Igreja é santa mesmo sendo composta por pecadores.

«A Igreja é santa»: foi a partir desta verdade que o Papa Francisco iniciou a sua reflexão durante a homilia. E propôs imediatamente uma pergunta: como pode ser santa a Igreja se todos nós, que somos pecadores, estamos dentro? Com efeito, reiterou, «nós somos pecadores, mas a Igreja é santa, é a esposa de Jesus Cristo, e ele ama-a, santifica-a todos os dias com o seu sacrifício eucarístico». Portanto, «nós somos pecadores, mas numa Igreja santa».

Precisamente, com «esta pertença à igreja também nós nos santificamos: somos filhos da Igreja e a mãe Igreja santifica-nos com o seu amor, com os sacramentos do seu Esposo». Na prática, prosseguiu o bispo de Roma, «esta é a santidade diária, esta é a santidade de todos nós. A tal ponto que nos Actos dos apóstolos, quando se fala dos cristãos, está escrito “o povo dos santos”». Também são Paulo «fala dos santos» como ouvimos agora no Evangelho de João (6, 52-59). «Nesta Igreja santa — afirmou o Papa Francisco — o Senhor escolhe algumas pessoas para mostrar melhor a santidade, para indicar que é ele que santifica; que ninguém se santifica a si mesmo; que não existe um curso para se tornar santo; que ser santo não consiste em fazer o faquir» ou algo mais. Ao contrário, a santidade é um dom de Jesus à sua Igreja.

A liturgia de hoje apresenta, a este propósito, «a santificação de Saulo, de Paulo», narrada pelos Actos dos apóstolos (9, 1-20). Não se trata de um caso isolado, porque no Evangelho há muitas figuras de santidade. Por exemplo, prosseguiu o Papa, «há a Madalena, o Mateus; e ainda o Zaqueu». «Mas por que escolhe o Senhor, na história da Igreja, estas pessoas?» perguntou-se o Pontífice. O senhor escolhe estas pessoas — é a resposta — para que dêem testemunho mais claro da primeira regra de santidade: é necessário que Cristo cresça e que nós diminuamos. Em síntese, é necessária «a nossa humilhação a fim de que o Senhor cresça». É nesta perspectiva que o Senhor «escolhe Saulo, inimigo da Igreja», como narram os Actos dos apóstolos: Saulo, proferindo ainda ameaças contra os discípulos do Senhor, «apresentou-se ao sumo sacerdote e pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de ser autorizado a levar acorrentado para Jerusalém todos os que encontrasse, homens e mulheres, pertencentes a esta Via». Palavras fortes que demonstram quanto Saulo odiasse e perseguisse a Igreja: um ódio que, observou o bispo de Roma, «vimos também na lapidação de Estêvão» na qual, além disso, o Saulo estava presente. Cheio de ódio, ele «pede a autorização» para perseguir os cristãos. «Mas o Senhor espera por ele e faz sentir o seu poder» observou o Papa. E eis que Saulo «torna-se cego e obedece» quando, a caminho de Damasco, o Senhor lhe diz «levanta-te, entra na cidade, e te será dito o que deves fazer». Assim «de homem que tinha tudo claro, que sabia o que devia fazer contra esta seita de cristãos, torna-se obediente, espera rezando e fazendo jejum. O seu coração estava transformado».

A narração dos Actos apresenta, portanto, o discípulo de Ananias que baptiza Paulo. E assim finalmente «Paulo levanta-se e vai pelas sinagogas anunciando que Jesus é o Filho de Deus». A este ponto o Papa frisou que a diferença entre heróis e santos é o testemunho, a imitação de Jesus Cristo: percorrer o caminho de Jesus Cristo.

«Tantos santos canonizados na Igreja — afirmou o Pontífice — acabam tão humildemente». São «os grandes santos». E, a este propósito, o Papa Francisco repropôs o testemunho de são João Paulo II. Precisamente «este é o percurso da santidade dos grandes». Mas é «também o percurso da nossa santidade». Porque, explicou, certamente «não seremos santos se não nos deixarmos converter o coração por este caminho de Jesus: carregar a cruz todos os dias, a cruz simples e deixar que Jesus cresça. Se nós não percorrermos este caminho não seremos santos, mas se formos por esta via todos nós daremos testemunho de Jesus Cristo que nos ama tanto». Portanto «hoje — concluiu o Papa — talvez nos faça bem, na missa, sentir esta alegria: o sacrifício de Jesus aqui no altar santifica-nos a todos, far-nos-á crescer na santidade, para sermos autenticamente filhos da sua esposa, a Igreja nossa mãe que é santa».

 



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