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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Uma casa que não se aluga

Quinta-feira 5 de Junho de 2014

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 24 de 12 de junho de 2014

«Uniformistas, alternativistas e vantagistas»: foram os três neologismos que o Papa Francisco cunhou — «martirizando um pouco a língua italiana» como ele mesmo admitiu — para descrever as três categorias de cristãos que provocam divisões na Igreja.

Inspirando-se no Evangelho de João (17, 20-26), o Pontífice reflectiu sobre a imagem «de Jesus que reza pelos seus discípulos; reza por todos os que chegarão, que virão à pregação dos apóstolos; reza pela Igreja. E o que o Senhor pede ao Pai?», perguntou-se. A resposta foi: «a unidade da Igreja: que seja una, que não haja divisões, que não haja discussões». Por isso, comentou «é necessária a oração do Senhor, porque a unidade na Igreja não é fácil».

Aos que dizem que são Igreja mas «estão dentro dela só com um pé», enquanto o restante fica «fora», o Papa advertiu que vivem como locatários, isto é, «alugam a Igreja, mas não a consideram a própria casa».

Entre estes, o bispo de Roma indicou três categorias, começando por aqueles que «querem que todos sejam iguais na Igreja»: os «uniformistas», cujo estilo é «uniformizar tudo. Todos iguais», fazendo confusão entre o que Jesus pregou no Evangelho e a sua doutrina de igualdade. Dizem-se cristãos, católicos, mas a sua atitude rígida afasta-os da Igreja.

Quanto ao segundo grupo os «alternativistas», o bispo de Roma catalogou-os entre os que pensam da seguinte maneira: «Entro na Igreja, mas com esta ideia, com esta ideologia». Põem-se condições «e assim a sua pertença à Igreja é parcial». «Um pé dentro outro fora; alugam a Igreja», sem que a sintam própria.

Enfim, o terceiro grupo: «os que procuram vantagens». «Vão à Igreja a fim de obter vantagens pessoais e acabam fazendo comércio na Igreja». São os homens de negócios. «Pavoneiam-se por ser benfeitores e no final, atrás da mesa, só fazem os próprios negócios». Não sentem a Igreja como mãe.

Contudo a mensagem de Cristo é outra: a todas estas categorias, prosseguiu o Pontífice, Jesus diz que «a Igreja não é rígida, é livre! Nela há muitos carismas, existe uma grande diversidade de pessoas e de dons do Espírito. Ele diz que na Igreja «devemos oferecer o nosso coração ao Evangelho, ao que o Senhor ensinou, e não ter uma alternativa! Ele diz-nos: se quiseres entrar na Igreja faz «por amor, para doar tudo, todo o coração e não para comercializar para teu lucro». De facto, «a Igreja não é uma casa para ser alugada» por quantos «querem fazer a própria vontade»; ao contrário «é uma casa para viver».

E a quantos afirmam que não é fácil estar na Igreja com ambos os pés, porque «são muitas as tentações», o bispo de Roma recorda aquele que «realiza a unidade na Igreja, a unidade na diversidade, na liberdade, na generosidade», isto é o Espírito Santo. Somos todos chamados à docilidade do Espírito Santo. E é precisamente esta virtude que nos salvará da rigidez, do ser «uniformista», «alternativista» ou «vantagista». É esta docilidade que transforma a Igreja de uma casa «alugada» em casa que cada um sente como própria.

 



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