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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

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Terça-feira, 17 de janeiro de 2017

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 03 de 19 de janeiro de 2017

O cristão, ciente de que «Deus não desilude», deve sempre manter «horizontes abertos» à esperança. Inclusive diante das adversidades não pode permanecer «estacionado» nem ser «preguiçoso», sem «vontade de ir em frente». Contém um convite decidido à «coragem» a meditação desenvolvida pelo Papa Francisco nesta homilia. A inspiração foi tirada da primeira leitura da liturgia do dia, na qual o autor da Carta aos Hebreus (6, 10-20) adverte precisamente «a sermos corajosos». A ponto que, disse o Pontífice, «se quiséssemos dar um título a este trecho poderíamos chamá-lo: “Sede corajosos”».

Portanto a coragem. Da qual se diz na Escritura: «Que cada um de vós demonstre o zelo — isto é, disse o Papa, “a coragem de ir em frente” — este zelo levar-vos-á ao cumprimento, até ao fim». De resto, explicou Francisco, coragem «é uma palavra da qual São Paulo gosta muito». Assim, por exemplo, quando o apóstolo reflete sobre a atitude do cristão em relação à vida «fala-nos sobre o treinamento que fazem no estádio, no ginásio, aqueles que desejam vencer», e explica que é preciso ter «coragem, ir em frente sem se envergonhar». Porque, acrescentou o Pontífice, «a vida do cristão é corajosa».

Mas o apóstolo das nações escreve também outra coisa: «para que não vos torneis preguiçosos». Reflete também sobre a atitude «contrária: a preguiça, isto é, não ter coragem». E o Papa traduziu o conceito com uma imagem concreta da vida diária: «viver na geladeira, de forma que tudo permaneça igual». A referência destina-se aos «cristãos preguiçosos, àqueles que não têm vontade de ir em frente, aos cristãos que não lutam para fazer com que as situações mudem, coisas novas que nos fariam bem se mudassem».

São, acrescentou utilizando outra imagem eficaz «os cristãos estacionados», aqueles que «encontraram na Igreja um bom estacionamento. E quando digo cristãos digo leigos, sacerdotes, bispos... Todos». Infelizmente, «há muitos cristãos estacionados! Para eles a Igreja é um estacionamento que salvaguarda a vida e vão em frente com todas as seguranças possíveis».

«Estes cristãos parados» recordaram ao Papa «algo que quando éramos crianças nos diziam os nossos avós: “Presta atenção que a água parada, a que não escorre, é a prima a corromper-se”». E quantos «não lutam», e «vivem na segurança que pensam lhes dê a religião», acabam precisamente deste modo. Pelo contrário, o convite do apóstolo e do Pontífice é: «Sede corajosos!». E por isso, lê-se no trecho bíblico, «Esta é a esperança à qual nos seguramos qual âncora da nossa alma, firme e sólida», que nos torna «cristãos corajosos e não preguiçosos».

O Papa explicou: «um cristão preguiçoso não tem esperança, é fechado, tem todas as vantagens, não precisa lutar, está na reforma». Mas se é verdade que «depois de muitos anos de trabalho ir para a reforma é justo e até bom» também é verdade que «passar toda a vida na reforma é terrível». E «os cristãos preguiçosos são assim. Por quê? Porque não têm esperança».

Eis então a mensagem proposta pela liturgia: «a esperança, aquela esperança que não desilude, que vai além». De facto, lê-se que ela é «uma âncora segura e sólida para a nossa vida». Portanto «a esperança é a âncora: lancemo-la e estejamos agarrados à corda». Mas não para permanecermos parados: «A esperança é lutar, agarrados à corda, a fim de chegarmos». E «na luta de todos os dias» a esperança «é uma virtude de horizontes, não de fechamento». Talvez, acrescentou Francisco, a esperança «seja a virtude menos compreendida mas a mais forte» porque nos permite viver «sempre a olhar para a frente com coragem».

Alguém — disse o Papa — poderia objetar: «Sim, padre, mas há momentos maus, nos quais tudo parece escuridão, o que devo fazer?». A resposta é: «Agarra-te à corda e suporta». Com efeito, devemos estar cientes de que «a nenhum de nós a vida é dada de presente, devemos lutar para ganhar a vida ou suportar». Não é por acaso, frisou o Pontífice, «coragem» e «suportar» são dois termos que «Paulo usa muito nas suas cartas».

Os cristãos devem ser «corajosos», ter a «coragem para ir em frente». É verdade — acrescentou Francisco — os «cristãos muitas vezes erram, mas quem nos prometeu que na vida nunca erraríamos? Todos erram. Erra quem vai em frente, quem caminha, aquele que fica parado dá a impressão que não erra». Por conseguinte, além da coragem serve a capacidade de suportar «no momento em que não se pode caminhar porque está tudo escuro, fechado, devemos suportar». Trata-se da constância através da qual, está escrito, nos tornamos «herdeiros das promessas». É a «constância nos maus momentos».

Por isso o Pontífice convidou todos a fazer um exame de consciência, perguntando-se: «Sou um cristão estacionado, preguiçoso ou corajoso? Sou um cristão que deseja todas as seguranças ou que arrisca? Sou um cristão fechado ou de horizontes, de esperança?». E também: «Como vai a minha esperança? O meu coração está ancorado no horizonte, estou agarrado à corda e tenho fé até nos maus momentos? E nos maus momentos sou capaz de suportar porque sei que Deus não desilude, sei que a esperança não desilude?».

Trata-se, concluindo, de uma pergunta mais profunda, isto é: «Como estou? Como está a minha vida de fé? É uma vida de horizontes, de esperança, de coragem, de ir em frente, ou uma vida tíbia que nem sabe suportar os maus momentos?».

A prece ao Senhor, concluiu o Papa retomando a oração litúrgica da coleta do dia, é para que «nos conceda a graça de superar os nossos egoísmos porque os cristãos estacionados, os cristãos parados, são egoístas. Olham só para si mesmos, não sabem erguer a cabeça e ver Deus».

 



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