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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Memória e esperança

Quinta-feira, 7 de junho de 2018

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 24 de 14 de junho de 2018

É entre «memória e esperança» que podemos «encontrar Jesus». E o Papa Francisco sugeriu três conselhos práticos para não sermos «cristãos desmemoriados» e portanto incapazes de dar «sal à vida»: recordar-nos dos primeiros encontros com o Senhor, de quantos nos transmitiram a fé — a começar pelos pais e avós — e da lei de Deus. Foi nestas indicações a «voltar atrás para ir em frente» que o Pontífice centrou a missa, propondo também um exame de consciência.

Francisco observou que «na primeira Leitura Paulo chama a atenção de Timóteo para a memória: “Meu filho, recorda-te de Jesus Cristo”». E, referindo-se ainda à segunda Carta paulina a Timóteo (2, 8-15), o Papa recordou também que, «mais adiante», o apóstolo insiste escrevendo: «Lembra-te disto».

Em síntese, Paulo «exorta» Timóteo «a recuar no tempo para encontrar Jesus; e a memória, como é apresentada na Bíblia, não é um pensamento, diríamos, um pouco romântico, como se disséssemos que “os tempos passados eram melhores”». Não, explicou o Papa, «a memória é um voltar atrás para encontrar forças e poder caminhar para a frente». Mais ainda, «a memória cristã é sempre um encontro com Jesus Cristo». Por isso, Paulo escreve a Timóteo: «Recorda-te de Jesus Cristo, lembra-te disto».

«A memória cristã é como o sal da vida: sem memória não podemos ir em frente», afirmou o Papa. A ponto que «quando encontramos cristãos “desmemoriados”, vemos imediatamente que perderam o sabor da vida cristã e acabaram» por ser «pessoas que cumprem os mandamentos, mas sem mística, sem encontrar Jesus». Ao contrário, «devemos encontrar Cristo na vida».

«Vieram-me à mente três situações em que podemos encontrar Jesus», disse o Papa, indicando-as: «Nos primeiros momentos, assim os chamo; nos nossos pais, nos nossos antepassados; e na lei».

Portanto, «Recorda-te de Jesus Cristo nos primeiros momentos» é a primeira indicação. E «a Carta aos Hebreus é clara sobre isto: “Lembrai-vos dos primeiros tempos, depois da vossa conversão”», um momento em que «éreis tão fervorosos», ardentes.

De resto, disse o Pontífice, «cada um de nós tem momentos de encontro com Jesus». E «na nossa vida existe um, dois, três momentos em que Jesus se aproximou, se manifestou». E é importante, observou, «não esquecermos estes momentos: temos que voltar atrás e retomá-los, pois são momentos de inspiração, onde encontramos Jesus Cristo». Nesta ótica, Francisco referiu-se novamente à Carta aos Hebreus: «Fixai os olhos, o olhar, em Jesus Cristo, que é o Criador, o consumador da fé; lembrai-vos daquele que sofreu tanta hostilidade». Portanto, eis o convite do Papa, «pensai sempre em Jesus Cristo, mas nos momentos cada um de nós tem momentos como estes, quando encontrou Jesus Cristo, quando mudou de vida, quando o Senhor lhe mostrou a própria vocação, quando o Senhor o visitou numa hora difícil».

E «no coração temos estes momentos: procuremo-los, contemplemos tais momentos», afirmou o Pontífice, renovando a exortação a «lembrar-me dos momentos em que encontrei Jesus Cristo, dos momentos em que Jesus Cristo me encontrou», pois aqueles momentos, explicou, «são a fonte do caminho cristão, a nascente que me fortalecerá». Por isso é importante «voltar sempre àqueles momentos para retomar as forças e poder ir em frente».

Nesta altura, insistiu o Papa, «cada um pode interrogar-se: lembro-me dos momentos de encontro com Jesus, quando mudou a minha vida, quando me prometeu algo?». E «se não nos lembramos deles, procuremo-los: cada um de nós os tem, busquemo-los».

A segunda situação para o «encontro com Jesus» é a memória dos nossos antepassados», afirmou Francisco. E «a Carta aos Hebreus é clara também sobre isto: “Recorda-te dos teus pais, de quantos te ensinaram a fé”, dos que te transmitiram a fé». Além disso, na mesma Carta proposta pela liturgia, «um pouco mais adiante Paulo volta a falar sobre isto e diz a Timóteo: “Recorda-te da tua mãe e da tua avó, que te transmitiram a fé”».

Concretamente, o apóstolo indica «o exemplo dos nossos pais, das nossas raízes, de quantos nos transmitiram a fé», porque «não recebemos a fé pelo correio». Foram «homens e mulheres que no-la transmitiram. A ponto que se lê ainda na Carta aos Hebreus: «Olhai para eles, que são uma multidão de testemunhas, e hauri força daqueles que padeceram o martírio e outros sofrimentos».

Sem dúvida, acrescentou Francisco, podemos receber a fé também daqueles «que estão mais próximos de nós, como diz Paulo a Timóteo: da tua mãe, da tua avó, de quantos nos transmitiram a fé». Com a consciência de que «sempre que a água da vida se torna um pouco turva é importante ir à fonte e nela encontrar a força para ir em frente».

Nesta direção, propôs o Pontífice, «podemos questionar-nos: recordo-me dos meus pais, dos meus antepassados, sou um homem, uma mulher com raízes ou tornei-me desenraizado, desenraizada, vivo só no presente?». E se for assim, é oportuno «pedir imediatamente a graça de voltar às raízes, às pessoas que nos transmitiram a fé: “Lembrai-vos dos vossos antepassados”».

«O terceiro ponto para trazer à memória é a lei», disse o Papa. E citando o trecho do Evangelho de Marcos (12, 28-34), explicou que «Jesus nos faz recordar da lei», repetindo claramente que «o primeiro mandamento é: “Escuta, Israel, o Senhor nosso Deus». Sim, «escuta Israel!» é uma «palavra que se repete muitas vezes no Antigo Testamento, no Deuteronómio, quando há muito o povo tinha perdido a memória, o Senhor» diz: «Escuta, Israel, não te esqueças, Israel!». A ponto que esta expressão «se tornou uma prece para os judeus: “Escuta, Israel!”». Portanto, «repetem as palavras do Senhor: a memória da lei». E «a lei é um gesto de amor do Senhor para connosco, porque nos indicou o caminho, dizendo: “Por esta senda não errarás”».

Eis a importância de «recordar a lei: mas não a lei fria, que parece simplesmente jurídica». Ao contrário, «a lei de amor, a lei que o Senhor inseriu no nosso coração». Neste sentido, o Papa sugeriu que nos perguntemos se «somos fiéis à lei, se recordamos e respeitamos a lei?». Pois «às vezes nós cristãos, até consagrados, temos dificuldade em repetir de cor os mandamentos: “Sim, recordo-me deles”, mas depois num certo ponto erro, não me lembro». Por isso, a «memória da lei, lei de amor, mas concreta».

«Recorda-te de Jesus Cristo», reiterou o Papa, convidando a manter «o olhar fixo no Senhor nos momentos da minha vida em que encontrei o Senhor, horas difíceis, de provação; nos meus antepassados e na lei». Certos de que «a memória não é só um voltar atrás», mas «é um voltar atrás para ir em frente».

Com efeito, observou Francisco, «memória e esperança caminham juntas: a memória cristã vai à esperança, e a esperança à memória». Assim «são complementares, completam-se». Com esta consciência, o Papa renovou o convite a recordar-se «de Jesus Cristo, o Senhor que veio, que me resgatou e que há de vir, o Senhor da memória, o Senhor da esperança».

O Pontífice concluiu com uma proposta: «Hoje, cada um de nós pode refletir por alguns minutos para se questionar como está a própria memória, a memória dos momentos em que encontrou o Senhor, a memória dos seus antepassados, a memória da lei». E interrogar-se também «como está a própria esperança, no que espera». Desejando «que o Senhor nos ajude neste trabalho de memória e de esperança».

 



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