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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Como a flor da amendoeira

Sexta-feira, 8 de junho de 2018

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 24 de 14 de junho de 2018

Para compreender e viver o amor não servem lindos discursos, mas simples obras de misericórdia — dar de comer a quem tem fome, visitar os doentes e presos — que não devem ser confundidas com a beneficência leiga, mesmo se meritória. Pois ao amor de Deus, que é ilimitado e se manifesta na pequenez e na ternura, responde-se mais com obras do que com palavras. Eis a mensagem que o Papa Francisco relançou durante missa de 8 de junho, solenidade do Sagrado Coração de Jesus.

«Podemos dizer que hoje a Igreja celebra a solenidade litúrgica do amor de Deus: hoje é a festa do amor» afirmou o Pontífice no início da homilia. «O apóstolo João — acrescentou — diz-nos “o que é o amor: não porque nós amámos a Deus mas porque Ele nos amou primeiro. Ele esperava-nos com amor. Ele é o primeiro a amar”». E, acrescentou Francisco, «os profetas compreendiam isto e usaram o símbolo da flor de amendoeira: é a que floresce primeiro, na primavera». Também Deus «é assim: é sempre o primeiro: é o primeiro a esperar-nos, a amar-nos, a ajudar-nos». E «o amor é isto, é o amor de Deus».

A este propósito o Papa fez presente também que «é difícil compreender o amor de Deus: Paulo, no trecho da carta proposta hoje pela liturgia» (Ef 3, 8-12.14-19), fala de «anunciar às nações as riquezas impenetráveis de Cristo». Em suma, «fala do mistério escondido desde há séculos em Deus: aquelas “riquezas impenetráveis” de Deus». Mas reconheceu o Pontífice, «não é fácil compreender isto: é uma coisa distante, misteriosa».

Depois Paulo «reza a fim de que os cristãos sejam capazes de compreender qual é, e a este ponto cancela todos os limites, a amplitude, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Deus». Em síntese, o apóstolo «fala de Deus cancelando o limite: vai sempre além». Estamos diante de «um amor que não se pode compreender» reafirmou Francisco. Porque o «amor de Cristo supera qualquer conhecimento, supera tudo: como é grande o amor de Deus». A ponto que, afirmou, «um poeta dizia que era como o “mar, sem margens, sem fundo”, um mar sem limites».

É precisamente este o amor que nós devemos compreender, o amor que nós recebemos», explicou o Papa. E é «esta a graça que Paulo pede: compreender e “anunciar às nações as impenetráveis riquezas de Cristo”».

Por conseguinte, a questão de fundo, sugeriu o Pontífice, consiste em «como se pode compreender o amor» e também «como o Senhor nos revelou este amor». Olhando para «a história da salvação, o Senhor foi um grande pedagogo, com a pedagogia do amor». Referindo-se em particular ao excerto do profeta Oseias (11, 1.3-4.8-9) proposto pela liturgia, o Papa observou que «o Senhor explica como manifestou o seu amor: não com o poder, com o fazer sentir tudo». Aliás, com a atitude contrária. «Ouçamos» as palavras do profeta, sugeriu Francisco: «Eu, entretanto, ensivava Efraim a andar, tomava-o nos meus braços, mas não compreenderam que eu cuidava deles». Por conseguinte, Deus tomava o seu povo pela mão, próximo, como um pai». Ou melhor, continua o texto de Deus: «Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor, e fui para eles como os que tiram o jugo de sobre as suas queixadas, e lhes dei mantimento — quanta ternura. O meu coração revolve-se dentro de mim, eu me comovo de dó e compaixão».

O trecho de Oseias testemunha, afirmou o Pontífice, que Deus não «manifesta o amor com coisas grandiosas: torna-se pequeno, pequenino, com estes gestos de ternura, de bondade». É um Deus que «se faz pequenino, que se aproxima, e com esta proximidade, com esta pequenez, faz-nos compreender a grandeza do amor».

«O que é grande deve ser compreendido através do pequeno» insistiu o Papa, recordando também que Deus «vai além, envia o seu Filho, mas não o envia em majestade, em força, envia-o em carne pecadora: “o Filho humilhou-se a si mesmo, assumiu a forma de servo até à morte, à morte de cruz”». Por isso, reafirmou Francisco, «a grandeza maior tem que ser expressada na menor e mais dramática pequenez: este é o mistério do amor de Deus, deste amor que o Senhor nos ensina a demonstrar mais com as obras do que com as palavras».

É «um amor total» afirmou Francisco. E «o símbolo é o coração trespassado: assim podemos compreender também o percurso cristão». Com efeito, explicou, «quando Jesus nos quer ensinar qual deve ser a atitude cristã diz-nos poucas coisas, mostra-nos aquele famoso protocolo sobre o qual todos nós seremos julgados: Mateus 25».

E aquele protocolo evangélico, observou o Pontífice, «não diz “eu penso que Deus seja assim, entendi o amor de Deus”». O excerto do Evangelho de Mateus, ao contrário, afirma: «Dentro das minhas possibilidades, pus em prática o amor de Deus: dei de comer ao faminto, dei de beber ao sedento, visitei o doente, o preso». Porque, explicou o Papa, «são precisamente as obras de misericórdia o caminho de amor que Jesus nos ensina em continuidade com este amor de Deus, grande». E foi «com este amor sem limites que ele se aniquilou, se humilhou em Jesus Cristo, e nós devemos exprimi-lo assim». Por conseguinte, prosseguiu, «o Senhor não nos pede grandes discursos sobre o amor; pede-nos que sejamos homens e mulheres com um amor grande ou pequeno, o mesmo, mas que saibamos fazer estas pequenas coisas por Jesus, pelo Pai».

Nesta perspetiva, acrescentou o Pontífice, «compreende-se a diferença entre uma obra de beneficência merecedora, leiga, e as obras de misericórdia que são a continuidade deste amor, que se faz pequeno, chega até nós, e nós o levamos por diante».

«Hoje é a solenidade do amor de Deus — concluiu Francisco — e o amor de Deus, se o quisermos compreender, temos que o transmitir nas obras, nas pequenas obras de misericórdia: transmiti-lo assim, com simplicidade». E «este será o anúncio daquele amor que não tem limites e por isso foi capaz de se expressar nas pequenas coisas». Com os votos de «que o Senhor nos faça entrar neste mistério do amor de Deus».

 



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