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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

O escândalo dos hipócritas

 Quinta-feira, 20 de setembro de 2018

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 40 de 4 de outubro de 2018

«Quando caminha na história, a Igreja é perseguida pelos hipócritas: hipócritas dentro e fora» e «o diabo que é impotente com os pecadores arrependidos», é forte precisamente com os hipócritas: «Usa-os para destruir as pessoas, a sociedade, a Igreja». O Santo Padre convidou a confiar cada vez mais na misericórdia e no perdão de Deus, permanecendo à distância do «escândalo dos hipócritas».

«Nas leituras de hoje há três grupos de pessoas: Jesus e os seus discípulos; a mulher e Paulo; e os doutores da lei». Referindo-se ao trecho evangélico de Lucas (7, 36-50), «Jesus é convidado mas recebido sem muita amabilidade — a cortesia habitual da sua época — mas ele finge que não vê e vai em frente. E aparece uma mulher. O Evangelho fala de uma “pecadora” — assim a qualificavam — uma daquelas cujo destino era ser visitada às escondidas, até pelos fariseus, ou ser lapidada». Mas «esta mulher — disse o Pontífice — mostra-se com amor, com muito amor a Jesus, e não esconde que é pecadora, porque todos a conheciam, até muitos ali à mesa a tinham visitado».

Depois, referindo-se ao trecho da primeira carta aos Coríntios (15, 1-11), o Papa observou que «Paulo primeiro fala de muitas coisas, até dos carismas, da Igreja, e em seguida vai ao cerne da salvação: “Com efeito, a vós transmiti antes de tudo o que também eu recebi, ou seja, que Cristo morreu pelos nossos pecados [...] “Eu sou o menor dos apóstolos, e não sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus”».

Portanto, insistiu Francisco, «ambos procuravam Deus com amor, mas amor “pela metade”». Paulo, «porque pensava que o amor era uma lei e tinha o coração fechado à revelação de Jesus Cristo: perseguia os cristãos, mas pelo zelo da lei, por este amor imaturo». E «esta mulher procurava o amor, como a samaritana: pobrezinha, tinha muitos maridos mas não encontrava o amor que procurava. O pequeno amor. E Jesus diz: “Foi-lhe perdoado muito, porque amou muito”».

«Mas como amar? Elas não sabem amar. Procuram o amor», afirmou o Papa. E «Jesus, falando delas, diz — certa vez — que estarão à nossa frente no reino dos céus. “Mas que escândalo...” — os fariseus — “mas esta gente!”». Contudo, «Jesus observa o pequeno gesto de amor, de boa vontade; depois, toma-o e leva-o em frente. Esta é a misericórdia de Jesus: Ele perdoa sempre, recebe sempre».

«Outro grupo», explicou Francisco referindo-se ao trecho hodierno do Evangelho, é formado por «doutores da lei que observavam Jesus para ver se o podiam apanhar em flagrante, armando-lhe uma cilada». Estas pessoas «têm uma atitude que muitas vezes é própria dos hipócritas: escandalizam-se. “Mas olha, que escândalo! Não se pode viver assim! Perdemos os valores... Agora todos têm o direito de entrar na igreja, até os divorciados. Onde estamos?”». Eis «o escândalo dos hipócritas».

«Este é o diálogo entre o grande amor de Jesus que tudo perdoa, o amor “pela metade”, de Paulo, desta senhora e também nosso, um amor incompleto porque nenhum de nós é santo canonizado. Digamos a verdade». E «a hipocrisia: a hipocrisia dos “justos”, dos “puros”, dos que se julgam salvos pelos próprios méritos externos». Mas «Jesus diz aos hipócritas “sepulcros caiados”. Cemitérios lindos mas dentro putrefação e podridão». «A alma dos hipócritas» é mesmo assim.

«A Igreja, quando caminha na história, é perseguida pelos hipócritas: hipócritas dentro e fora», afirmou o Papa. «O diabo nada pode fazer com os pecadores arrependidos, porque olham para Deus e dizem: “Senhor, sou pecador, ajudai-me!”». E se «o diabo é impotente» com os pecadores arrependidos, «é forte com os hipócritas. É forte e usa-os para destruir, destruir as pessoas, a sociedade, a Igreja». E «o cavalo de batalha do diabo é a hipocrisia, porque ele é um mentiroso: mostra-se como príncipe poderoso, muito bonito, mas por trás é um assassino».

Portanto, a liturgia de hoje propõe estes «três grupos de pessoas», afirmou Francisco: «Jesus que perdoa, recebe, é misericordioso, palavra muitas vezes esquecida quando falamos mal dos outros. Pensai nisto: devemos ser misericordiosos, como Jesus, e não condenar os outros. Jesus no centro». Depois, «Paulo, pecador, perseguidor, mas com um amor “pela metade”» e «esta senhora pecadora, também ela com um amor “incompleto”». Mas «Jesus perdoa ambos. E eles encontram o amor verdadeiro: Jesus». Por fim, «os hipócritas, incapazes de encontrar o amor porque têm o coração fechado nas próprias ideias e doutrinas, na própria legalidade».

«Peçamos a Jesus — convidou Francisco concluindo a homilia — que proteja sempre a nossa Igreja que, como mãe, é santa mas cheia de filhos pecadores como nós. E que proteja cada um de nós com a sua misericórdia e o seu perdão».

 



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