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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Quem é generoso não julga

Segunda-feira, 18 de março de 2019

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 13 de 26 de março de 2019

Julgar e condenar, quase como se todos fôssemos «juízes», esquecendo-nos sempre do perdão, é um hábito ao qual já não prestamos atenção. Mas a Quaresma poderia ser a ocasião para viver um novo método nas relações com os outros, privilegiando totalmente a misericórdia e a generosidade. «Quando Abraão pede um conselho a Deus sobre o modo como levar a vida sem errar, o Senhor diz-lhe: “Caminha na minha presença e sê irrepreensível”» recordou o Pontífice no início da homilia. Portanto, «devemos levar a vida na presença de Deus e isto é um conselho que nos ajuda muito: caminhar diante dos olhos do Pai, imitar o Pai, imitar Deus».

Referindo-se ao trecho evangélico de Lucas proposto pela liturgia (6, 36-38), Francisco observou que «há um mandamento, digamos, de Jesus, um conselho, mas um conselho que é muito difícil de concretizar: “Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso”». Porque «Deus é todo misericórdia, todo misericórdia». Mas «alguém poderia dizer: “Padre, é justo?” — “Sim, mas a sua justiça é uma só com a sua misericórdia”». Portanto, insistiu o Papa, «poderás cometer erros na vida, mas se te aproximares de Deus e olhares para ele, Ele com a sua misericórdia perdoa-te, recebe-te».

«A misericórdia de Deus — repetiu o Papa – é algo tão grande, muito grande. Não nos esqueçamos disto». Na realidade «quantas pessoas dizem: “cometi erros; comprei o meu lugar no inferno, não poderei voltar atrás”». Estas pessoas devem pensar «na misericórdia de Deus». E Francisco exortou a recordar «a história da viúva pobre que se foi confessar ao cura d'Ars. O marido suicidou-se lançando-se da ponte num rio. Ela chorava. Disse: “sou uma pecadora, uma pobre coitada. Mas coitadinho do meu marido! Está no inferno! Suicidou-se e o suicídio é pecado mortal. Está no inferno”. E o cura d'Ars disse: “Tranquilize-se senhora, porque há a misericórdia de Deus”». De facto, acrescentou o Papa, «até ao fim há a misericórdia de Deus. É muito grande! E Jesus disse: “Sede misericordiosos como Ele”. Sempre com esta atitude».

O excerto do Evangelho de Lucas, afirmou o Pontífice, «indica-nos três aspetos para compreendermos melhor como sermos misericordiosos ou para nos pormos no caminho para sermos misericordiosos». Antes de tudo diz-nos: “Não julgueis e não sereis julgados”. Não nos parece uma coisa má — julgar os outros — contudo é um comportamento horrível. É uma atitude que se insere na nossa vida sem que nos demos conta. Sempre! Até para iniciar uma conversa: “Viste o que ele fez?”». Eis «o juízo sobre o outro».

Francisco convidou a pensar «em quantas vezes por dia julgamos. Parecemos todos juízes! Todos! Sempre, para iniciar um diálogo, um comentário sobre outra pessoa: “Mas olha, fez uma cirurgia estética! Está pior do que antes”. Sei que não fazeis estas coisas; outros fazem, sempre e imediatamente o juízo». Por exemplo: «Compraram uma casa nova. Gastaram muito dinheiro. Seria melhor que fosse gasto noutras coisas». E assim por diante, prosseguiu o Papa, «sempre julgando os outros: pensemos nas vezes em que julgamos sem nos darmos conta. É um hábito: vem espontâneo, até inconscientemente».

«Nesta Quaresma estejamos atentos a isto» propôs o Pontífice. «Se eu quiser ser misericordioso como o Pai, como Jesus me disse, devo pensar: quantas vezes por dia julgo? E não sereis julgados. O que faço aos outros, eles farão a mim! E no fim o Senhor fará a mim». Certamente, insistiu, «um bom exercício para a Quaresma seria não julgar, mas antes de tudo tomar consciência deste “método” coloquial, que usamos nos diálogos diários, de julgar sempre alguém».

A segunda expressão que se encontra no trecho de Lucas é: «Não condeneis e não sereis condenados». De resto, observou Francisco, «muitas vezes vamos além do juízo: “Esta pessoa nem sequer merece que a cumprimente”. E condeno, condeno, condeno. Também nós condenamos muito. E esta atitude de condenar sempre vem espontânea. É terrível».

Face a este modo de agir, o Papa questionou-se: «O que nos diz Jesus? Se tens este hábito de condenar — explicou — pensa que tu serás condenado, porque com este comportamento fazes com que o Senhor veja como Ele se deve comportar contigo».

A terceira expressão que o Evangelho nos propõe: «Perdoai e sereis perdoados». Mesmo se, reconheceu o Pontífice, «é muito difícil perdoar. Muito difícil. Mas também é um mandamento que nos detém diante do altar, antes da comunhão». Porque «Jesus diz: “Se tens algo contra o teu irmão, antes de ir ao altar, reconcilia-te com o teu irmão”. Perdoar».

«Inclusive no Pai-Nosso — afirmou o Papa — Jesus ensinou-nos que esta é uma condição para obter o perdão de Deus. “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos quem nos tem ofendido”. Damos a medida a Deus de como se comportar connosco».

«Não julgueis, não condeneis, perdoai e assim sereis misericordiosos como o Pai. Este é o conselho do Evangelho de hoje» repetiu Francisco. Mas «não é fácil, porque nas conversas diárias nós julgamos continuamente, condenamos sempre e dificilmente perdoamos: “Padre, como se faz para ter esta atitude tão generosa de não julgar, nem condenar mas perdoar? Como se faz?”». Eis a sugestão do Papa: «O Senhor ensina-nos: “Doai”. “Doai e ser-vos-á doado”: sede generosos em doar. Não sejais “avarentos”; sede generosos ao dar aos pobres, a quantos têm necessidade e também ao dar outras coisas: conselhos, sorrisos, sorrir. Dar sempre».

«Dai e ser-vos-á dado» foi a atitude que o Pontífice propôs. E certamente «“ser-vos-á dado numa boa medida, cheia e transbordante”, porque o Senhor será generoso: se dermos um e Ele dar-nos-á cem de tudo o que dermos. Esta é a atitude que fortalece o não julgar, o não condenar e o perdoar». Eis então «a importância da esmola, mas não só a esmola material, também a espiritual: dedicar tempo ao próximo que tem necessidade, visitar um doente, sorrir. Muitas coisas. Esta é a esmola espiritual».

«Vamos em frente nesta Quaresma — propôs Francisco — pelo menos tentando não condenar os outros nas nossas conversas, não julgar e perdoar, e para que o Senhor nos conceda esta graça, pois é uma graça que o Senhor nos concederá se a pedirmos e fizermos um esforço para sermos generosos com os outros». E assim «sermos generosos na esmola, com o tempo, com a atitude, ser generosos sempre com os outros: primeiro os outros, depois nós». Concluindo o Papa formulou votos para «que o Senhor nos ensine esta sabedoria que não é fácil, mas com a sua graça poderemos levá-la em frente».

 



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