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VISITA AO COLÉGIO UNIVERSITÁRIO "VILLA NAZARETH"

PALAVRAS DO PAPA FRANCISCO

Sábado, 18 de junho de 2016

[Multimídia]


 

Parábola do bom samaritano (Lc 10,25-37)

Neste trecho do Evangelho há muitas pessoas envolvidas: aquele que faz a pergunta «quem é o meu próximo?», Jesus; e depois, na parábola, os salteadores, o pobre que estava meio morto à beira do caminho, e em seguida o sacerdote, e ainda o doutor da lei, talvez um advogado [o «levita»]; enfim o hospedeiro, o hoteleiro.

Na parábola, talvez nem o sacerdote, nem o doutor da lei, nem o samaritano, nem sequer o dono da hospedaria soubessem responder à pergunta: «quem é o meu próximo?»; talvez nem sequer soubessem como era o «próximo», quem era o «próximo». O sacerdote estava apressado, como todos os presbíteros, porque olhava para o relógio: «Tenho que ir à Missa», ou então, muitas vezes: «Deixei a igreja aberta, devo ir fechá-la porque o horário é aquele e não posso permanecer aqui». O doutor da lei, homem prático, disse: «Se me intrometo nisto, amanhã terei que ir ao tribunal, testemunhar, dizer aquilo que fiz, e assim perderei dois ou três dias de trabalho... Não, não, é melhor...». Viva Pôncio Pilatos! E foi-se embora. Aquele outro, ao contrário [o samaritano], pecador, forasteiro que não pertencia propriamente ao povo de Deus, comoveu-se: «teve compaixão», e deteve-se. Os três — o sacerdote, o advogado e o samaritano — sabiam bem, sabiam muito bem o que era necessário fazer. E cada um deles tomou uma decisão pessoal. Mas apraz-me pensar no dono da hospedaria: é uma pessoa anónima. Ele considerou toda a situação, viu tudo e não entendeu nada. «Mas ele é louco! Um samaritano que ajuda um judeu! É desvairado! E depois, com as suas mãos cura as suas feridas e leva-o para a hospedaria, dizendo: «Tu cuida dele que eu te pagarei se tiveres outras despesas...». Nunca vi algo semelhante, ele é um louco!». E aquele homem recebeu a Palavra de Deus: segundo um testemunho. Da parte de quem? Não do sacerdote, porque nem sequer o tinha visto; nem sequer do advogado, pelo mesmo motivo; mas do pecador, de um pecador que sente compaixão. «Ah, ouvistes isto? Um pecador, sim, alguém que não era fiel ao povo de Deus, mas teve compaixão». E não entendia nada, teve dúvidas, talvez curiosidade: «Mas o que aconteceu aqui, é estranho...». Com uma inquietação no peito; é isto que faz o testemunho. O testemunho deste pecador semeou inquietação no coração do dono da hospedaria; e o Evangelho não nos diz o que aconteceu com ele, nem sequer sabemos qual é o seu nome. Mas sem dúvida aquele homem... — com certeza, porque quando semeia, o Espírito Santo faz crescer — certamente aumentou a sua curiosidade, a sua inquietação, levando-o a deixar que crescesse no seu coração, e recebeu a mensagem do testemunho. Em seguida, alguns dias mais tarde, o samaritano voltou a passar por aquele lugar; sem dúvida pagou algo. Ou então [o hospedeiro disse-lhe]: «Não, deixa estar: isto é por minha conta». Talvez esta tenha sido a sua primeira reação ao testemunho.

E por que razão medito hoje sobre esta figura, sobre esta pessoa? Porque o nosso testemunho, não sei como dizer, não se pode contabilizar. Dar testemunho consiste em viver de tal modo que os outros «vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus» (cf. Mt 5, 16), ou seja, que encontrem o Pai, que vão ao seu encontro... São palavras de Jesus!

Ouvi notícias sobre a Vila Nazaré: «Existe uma Obra...», mas não a conhecia bem. Sucessivamente, Mons. Celli disse-me algo mais... Trata-se de uma Obra, de um trabalho onde se favorece o testemunho. Quem vem aqui não é para «subir», nem para ganhar dinheiro, não, mas para seguir os passos de Jesus e dar testemunho de Jesus, semeando testemunhos. No silêncio, sem explicações, com gestos... Retomando a linguagem dos gestos. E certamente aquele hospedeiro está no Céu, sem dúvida, porque com certeza aquela semente cresceu e germinou. Ele viu algo que nunca, jamais, teria pensado ver. É nisto que consiste o testemunho. O testemunho passa e vai embora. Tu deixas o testemunho ali e também tu vais embora. Só o Senhor o conserva, levando-o a desenvolver-se, como faz crescer a semente: enquanto o agricultor dorme, a planta cresce.

Faço votos a fim de que esta Obra continue a ser uma associação de testemunho, uma casa de testemunho, de testemunho para todos, para todos! De testemunho para as pessoas que se aproximam, ou para quantos ouvem falar dele... um testemunho. Este é o meu desejo! E que o Senhor nos livre dos salteadores — há tantos! — que nos liberte dos sacerdotes sempre apressados, que não têm tempo para ouvir nem para ver, que devem cumprir as suas tarefas...; que Ele nos livre dos doutores que querem apresentar a fé em Jesus com uma rigidez matemática; que nos faça parar e nos ensine a sabedoria do Evangelho, a «sujar as mãos». Que o Senhor nos conceda esta graça. Obrigado!


Perguntas e Respostas

[Valentina Piras]: Santo Padre, antes que de mestres, nós jovens precisamos de testemunhas credíveis. Às vezes ficamos «estacionados» na vida, vítimas da ilusão do sucesso e do culto do próprio ego, incapazes de nos doar. Como podemos despertar a grandeza e a coragem de escolhas de amplo alcance, de impulsos do coração para enfrentar desafios educativos e afetivos?

Obrigado! Uma palavra-chave é: «Nós jovens precisamos de testemunhas críveis». E esta é exatamente a lógica do Evangelho: dar testemunho. Com a própria vida, o modo de viver, as escolhas feitas... Mas testemunho de quê? De diversas realidades. Testemunho, nós cristãos, de Jesus Cristo que está vivo, nos acompanha: que nos acompanhou na dor, morreu por nós, mas ressuscitou. Dito assim, parece demasiado clerical. Eu compreendo qual é o testemunho que os jovens procuram: é o testemunho da «bofetada». A bofetada é um bom testemunho diário! Porque te desperta, dizendo-te: «Olha, não cries ilusões com as ideias, com as promessas...». Até ilusões mais próximas de nós. A ilusão do sucesso: «Não, vou por este caminho e terei sucesso». Do culto do próprio ego. Hoje, todos sabemos, o espelho é de moda! Olhar-se. O próprio ego, o narcisismo que a cultura atual nos oferece. E quando não temos testemunhos, talvez a vida nos corra bem, ganhamos bem, temos uma profissão, um bom trabalho, uma família... mas tu disseste uma palavra muito forte: «Somos homens e mulheres estacionados na vida», isto é, que não caminham, que não vão. Como os conformistas: tudo é hábito, um hábito que nos deixa tranquilos, temos o necessário, nada falta, graças a Deus... «Como podemos despertar a grandeza e a coragem de escolhas de amplo alcance, de impulsos de coração para enfrentar desafios educativos e afetivos?». Já repeti muitas vezes: arrisca! Arrisca. Quem não arrisca não caminha. «Mas se eu errar?». Bendito o Senhor. Errarás mas se permaneceres parado, parada: este é o erro, o erro terrível, o fechamento. Arrisca. Tenta ideais nobres, sujando as mãos, arrisca como fez aquele samaritano da parábola. Quando estamos mais ou menos tranquilos na vida, há sempre a tentação da paralisia. Não arriscamos: estamos tranquilos, quietos... «Como podemos despertar a grandeza e a coragem de escolhas de amplo alcance» perguntaste, «de impulsos do coração para enfrentar desafios educativos e afetivos?». Aproxima-te dos problemas, sai de ti mesmo e arrisca, arrisca. Caso contrário a tua vida lentamente tornar-se-á paralisada; feliz, contente, com a família mas estacionada — para usar a tua palavra. É muito triste ver vidas estacionadas; é muito triste ver pessoas que parecem mais múmias de museu que seres vivos. Arrisca! Arrisca. E se errares, bendito o Senhor. Arrisca. Em frente! Não sei, é isto que gostaria de te dizer.

[Gabriele Giuliano]: Nos jornais encontramos com frequência notícias sobre a tragédia que atinge a comunidade cristã no mundo: estes eventos induzem-nos a uma reflexão profunda sobre quanto possa ser testemunhada e vivida a fé, até mesmo com a morte. Esta coragem da fé autêntica põe-nos todos em questão. Como podemos ser testemunhas credíveis do Evangelho, como anunciar a mensagem de Cristo no mundo? Muitos de nós tentam mas desanimam com facilidade. A Vossa Santidade acontece isto? Já entrou em crise com a sua fé? Onde e como encontrou o modo de se reanimar, de não se cansar e de continuar no seu mandato, primeiro como leigo e depois como consagrado?

Mas, tu fizeste uma pergunta demasiado pessoal! Devo escolher... Ou respondo a verdade ou faço uma telenovela que seja bonita e pronto... A tragédia das comunidades cristãs espalhadas pelo mundo: isto é verdade. Mas é o destino dos cristãos: o testemunho — retomo a palavra testemunho — até em situações difíceis. Eu não gosto, e pretendo dizê-lo claramente, de quando se fala de um genocídio dos cristãos, por exemplo no Médio Oriente: isto é reducionismo, é um reducionismo. A verdade é uma perseguição que leva os cristãos à fidelidade, à coerência na própria fé. Não façamos reducionismo sociológico daquilo que é um mistério da fé: o martírio. Os 13 — creio que fossem egípcios cristãos coptas, hoje santos canonizados pela Igreja Copta — degolados no litoral da Líbia: todos morreram dizendo «Jesus, ajuda-me!». Jesus. Mas estou certo de que a maioria deles nem sequer sabia ler. Não eram doutores em teologia, não. Eram pessoas, como se diz, ignorantes, mas eram doutores de coerência cristã, isto é, eram testemunhas de fé. A fé faz-nos testemunhar muitas coisas difíceis na vida; também com a vida testemunhamos a fé. Mas não nos enganemos: o martírio cruel não é o único modo de testemunhar Jesus Cristo. É o máximo, digamos, heróico. É também verdade que hoje há mais mártires do que nos primeiros séculos da Igreja, é verdade. Mas há o martírio de todos os dias: o martírio da honestidade, o martírio da paciência, na educação dos filhos; o martírio da fidelidade ao amor, quando é mais fácil enveredar por outra estrada, mais escondida: o martírio da honestidade, neste mundo que se pode chamar também «o paraíso dos subornos», é tão fácil: «O senhor diga isto e terá isto», onde falta a coragem de lançar na cara o dinheiro sujo, num mundo onde muitos pais dão de comer aos filhos o pão manchado pelos subornos, aquele pão que eles compram com os subornos que ganham... Eis o testemunho cristão, eis o martírio: «Não, não quero isto!» — «Se tu não queres, não terás aquele trabalho, não poderás subir mais alto». O martírio do silêncio diante da tentação dos mexericos. Para um cristão — Jesus diz — não é lícito mexericar. Jesus diz que quem disser «estulto» ao irmão deve ir para o inferno. Sabeis que os mexericos são como a bomba dos terroristas, dos kamikazes — não de um kamikaze, de um terrorista, pelo menos o kamikaze tem a coragem de morrer também ele — não, os mexericos são quando eu lanço a «bomba», destruo alguém, e fico feliz. Mas o testemunho cristão é o martírio de cada dia, o martírio silencioso, e devemos falar assim. «Mas somos homens e mulheres martirizados, devemos ter o semblante triste, uma cara amuada». Não! Há a alegria da palavra de Jesus, como aqueles da praia da Líbia.

E é necessário coragem, e a coragem é um dom do Espírito Santo. O martírio, a vida cristã martirial, o testemunho cristão não se pode viver sem a coragem da vida cristã. São Paulo usa duas palavras para indicar a vida martirial cristã, a vida de todos os dias: coragem e paciência. Duas palavras. A coragem de ir em frente e não ter vergonha de ser cristãos e mostrar-se como cristãos, e a paciência de carregar nos ombros o peso diário, até as dores, os próprios pecados e as incoerências. «Mas, podemos ser cristãos com os pecados?». Sim. Somos todos pecadores, todos. O cristão não é um homem ou uma mulher com a assepsia dos laboratórios, não é como a água destilada! O cristão é um homem, uma mulher, capaz de trair o próprio ideal com o pecado, é um homem ou uma mulher frágil. Mas devemos reconciliar-nos com a nossa debilidade. E assim o nariz [o aspeto] torna-se um pouco mais humilde. Mais humilde.

A verdade não está nas aparências. «Não sou pecador», como o fariseu que rezava diante do Senhor: «Dou-te graças porque não sou como aquele outro»; sujava todos mas ele era limpo. Pavoneava-se. Permiti-me, não é muito correto... não, não é lícito o que direi agora, mas a imagem ajudar-nos-á. A coerência cristã da verdade é sentir-se pecador e necessitado de perdão; quem se pavoneia que é cristão perfeito, é como o pavão: mas que pavão bonito! Vê-se, é uma realidade bonita... Perdoai-me, mas visto por detrás: o que vemos... aquela também é a verdade do pavão! E a mensagem de Cristo ao mundo é assim: somos pecadores, e Jesus amou-nos, curou-nos, ou estamos em vias de cura, sempre. E ama-nos. Estes limites intrínsecos a nós e também limites extrínsecos que vemos, por exemplo, a hipocrisia na Igreja, a hipocrisia dos cristãos; estes limites desencorajam-nos, e assim a fé entra em crise. Eis a pergunta atrevida: «Já entrou em crise com a sua fé?». Esta é uma pergunta que se faça ao Papa! Tendes coragem! «Onde e como encontrou o modo de se restabelecer, de não se cansar e continuar no seu mandato, primeiro como leigo e depois como consagrado?». Muitas vezes me encontro em crise com a fé e algumas vezes também tenho o atrevimento de repreender Jesus: «Mas por que permites isto?», e até de duvidar: «Mas esta será a verdade ou um sonho?». E isto quando eu era jovem, seminarista, sacerdote, religioso, bispo e Papa. «Mas por que o mundo é assim, se Tu deste a tua vida? Mas não será uma ilusão isto, um pretexto para nos consolar?». Um cristão que não tenha sentido isto, uma vez pelo menos, cuja fé não tenha entrado em crise, falta-lhe algo: é um cristão que se satisfaz com um pouco de mundanidade e assim vai em frente na vida. Disseram-me — porque não conheço o chinês, com as línguas tenho muita dificuldade, vede... — não conheço o chinês, mas disseram-me que a palavra crise, em chinês, escreve-se com dois ideogramas: um é o ideograma risco e o outro oportunidade. É verdade. Quando alguém entra em crise — como quando Jesus disse a Pedro que o diabo o teria posto em crise [«joeirado»] como se faz com o trigo, e muitas vezes o diabo, a vida, o próximo, muitas pessoas fazem-nos «saltar» como o trigo, põem-nos em crise — há sempre um perigo, um risco, um risco no sentido bom, e uma oprtunidade. O cristão — aprendi isto — não deve ter medo de entrar em crise: é um sinal que está a ir em frente, que não está ancorado às margens de um rio ou do mar, que se faz ao largo e vai em frente. E ali estão os problemas, as crises, as incoerências, e a crise do próprio pecado, que nos faz envergonhar tanto. E como não se cansar? É uma graça. Pede-a ao Senhor: «Senhor, que não me canse. Concede-me a graça da paciência, de ir em frente, de esperar que venha a paz». Não sei: assim parece-me que respondi.

[Giacomo Guarini]: Hoje tudo se dirige para a afirmação do indivíduo e parece desaparecer a pessoa como ser capaz de se doar e de receber amor. Em particular não escondemos as dificuldades relativas a nós jovens formados, com frequência aviltados pela falta de perspetivas concretas para o nosso futuro e impossibilitados de cumprir a vocação profissional e afetiva. Como fazer do trabalho um lugar de vocação num mundo governado por um individualismo desenfreado? Como viver as relações como espelho do amor de Deus, inclusive no noivado, num contexto em que parece faltar qualquer desejo de gratuitidade?

Disseste uma palavra de que gosto muito: a gratuitidade. Com frequência esquecemo-nos deste sentido da gratuitidade e esquecemos que ela é a linguagem de Deus. Ele criou-nos gratuitamente; Ele recriou-nos em Jesus gratuitamente; e o próprio Jesus adverte-nos: «O que recebestes gratuitamente, deveis oferecê-lo de graça». A gratuitidade. Nesta civilização do «do ut des», dou-te isto e aquilo, tudo se negocia, a gratuitidade corre o perigo de desaparecer. E às vezes ou muitas vezes — penso que seja um dos hábitos mais comuns — o cristianismo torna-se pelagiano: tudo se compra. «Faço isto e sou santo», «faço isto e sou perfeito», «faço isto e sou mais cristão», «não faço isto e o meu cristianismo não...». Também com Deus temos esta atitude do «do ut des». Mas o senhor, já no Antigo Testamento dizia-nos: «Não preciso dos vossos sacrifícios. Olhai ao redor de vós e ajudai os outros. Sede justos na retribuição». E isto a que chamas «afirmação do indivíduo», este individualismo leva-nos a gravíssimas injustiças. Injustiças humanas. Não diria «sociais» porque alguém poderia dizer: «Mas este sacerdote é socialista». Não, não: humanas! É como a gratificação individual que nada tem a ver com a gratuitidade que nos propõe Jesus Cristo, que nos ensina Deus, que é precisamente a linguagem de Deus: gratuitidade. Devemos por-nos nesta sintonia, da gratuitidade. As gratificações individuais, o hedonismo: esta é também uma cultura do hedonismo. Procura-se a satisfação pessoal. E hoje devemos esforçar-nos bastante para distinguir os santos daqueles que se pintam a fim de parecer santos! Muitos cristãos pintados que não são cristãos, porque não conhecem a gratuitidade. Vivem de outro modo.

«Como fazer do trabalho um lugar de vocação?». Ir rumo à primeira chamada, a chamada que cada um de nós recebe e que é a mesma que a humanidade recebeu em Adão: ide, cultivai a Terra, multiplicai-vos, submetei-vos à terra, trabalhai... «Como fazer do trabalho um lugar de vocação?». Talvez a palavra mais forte aqui seja trabalho. Um aspeto é trabalhar, outro é fazer algo para aproveitar e também para se aproveitar dos outros. A cultura do trabalho. Em muitos países subdesenvolvidos existe a cultura do subsídio: ajuda-se mas não se ensina a trabalhar. A mim faz muito bem pensar em Dom Bosco, no final do século xix, naquela Turim maçónica, anticlerical, pobre, na qual os jovens estavam pelas ruas... O que fez ele? Foi ter com eles com a água benta? Não. Fez educação de emergência, fez estudar para aprender profissões simples, e assim entrar na cultura do trabalho. Viu naquele risco uma oportunidade, naquela crise religiosa uma oportunidade; e abriu um horizonte humano e religioso, para aquelas pessoas. Trabalho. Que não é o mesmo que «realizar coisas». A vocação do trabalho, trabalho criativo. O trabalho torna-nos semelhantes a Deus, que é Criador, e é também um Artesão. E o trabalho é um lugar de vocação, não de empate, de estacionamento. A minha vocação leva-me a ir em frente no trabalho, na criatividade.

E também no noivado. No noivado há a gratuitidade, há também um compromisso de caminhar juntos, compreender-se, sentir-se, superar as dificuldades, manter a fidelidade; é também um compromisso gratuito. A gratuitidade aprende-se no noivado. Mas agora gostaria de fazer uma reflexão. Muitas vezes o trabalho, no sentido de «fazer coisas», faz com que descuidemos a família, o matrimónio. Entusiasmo-me, por exemplo com a política, e vou aqui e acolá e depois não dou atenção à minha esposa ou ao meu marido nem aos filhos. Tenho o hábito, na Confissão, quando um homem ou uma mulher casados nos dizem que têm filhos e que às vezes perdem a paciência... formulo-lhes uma pergunta: «Mas quantos filhos tens?». Muitas vezes assustam-se: mas qual será a próxima pergunta? E a segunda pergunta é: «Diz-me: tu brincas com eles? Tens tempo para brincar com os teus filhos, para os ouvir, para ter um espaço de comunicação com eles?» — «Mas, Padre — uma das respostas — quando saio para trabalhar de manhã, as crianças dormem, e quando volto, dormem». Este trabalho escravizador que não permite viver a gratuitidade do dom do amor, do dom de Deus, talvez não seja culpa deste homem ou desta mulher: é culpa da situação, da injustiça moral que vivemos nesta sociedade. Mas digo isto: cuidai da família, do marido, da esposa, cuidai dos filhos; e permito-me dizer algo que me está muito a peito: cuidai dos avós! Cuidai dos avós. Eles são a nossa memória! Nesta cultura do descartável, é muito fácil descartar os avós: na casa deles, numa casa de repouso, e não os ir visitar. Agora mudou um pouco porque como não há muito trabalho e eles têm uma aposentadoria, então visitam os avós! Cuidai dos avós. Comove-me aquela profecia de Joel, no capítulo 3: «Os avós sonharão», e será precisamente um sonho, a capacidade de sonhar coisas grandes, o que fará os jovens irem adiante, os jovens.

Paro aqui, caso contrário, não acabo.

[Maria Elena Tagliaboschi]: A crise da economia, os fluxos migratórios, as mudanças demográficas, a incompatibilidade dos tempos de trabalho com aqueles do cuidado aos filhos são fenómenos que incidem gravemente sobre o desenvolvimento da sociedade nos países industrializados, favorecendo novas formas de pobreza: idosos sozinhos, desempregados e trabalhadores precários, e jovens casais sufocados por enormes despesas. Com que espírito podemos enfrentar estas situações?

Perdoai-me, prolonguei-me demais. A propósito desta pergunta, na maior parte respondi a muitas situações. Mas agora irei, talvez, ao núcleo do problema. O que devemos rever é o estilo da economia atual. Hoje — e digo isto porque assim escrevi na Evangelii gaudium — existe uma economia que mata. No mundo, na economia mundial, no centro não está o homem, a mulher: está o deus dinheiro. E isto mata-nos. Podes encontrar numa manhã de inverno um desabrigado que morreu de frio na praça Risorgimento, ou muitas crianças que não têm o que comer, que vivem na rua, ou até drogadas... Isto não é notícia, não é notícia! Mas se a cotação das bolsas de Tóquio, Londres, Frankfurt e Nova Iorque York diminuem dois ou três pontos, é uma grande tragédia internacional! Somos escravos deste sistema económico que mata, escravos e vítimas. Hoje é comum trabalhar ilegalmente, porque se não trabalhas na ilegalidade não tens um trabalho. É comum! Hoje é comum que te façam um contrato de trabalho de setembro a junho, e em julho e agosto? Come um pouco de ar! E depois fazem-te outro contrato a partir de setembro. Sem assistência médica, sem possibilidade de aposentadoria. Isto chama-se «trabalho escravo», e a maioria de nós vive neste sistema de trabalho escravo.

Os fluxos migratórios: em parte as pessoas fogem devido à fome, porque o seu país foi explorado e têm fome. E em parte fogem da guerra, que é precisamente o negócio deste momento que rende mais dinheiro: os traficantes de armas. E quem vende, quem trafica as armas para aquele país que está em guerra com este, é o mesmo que vende a este que está em guerra com aquele! Até para fazer chegar as ajudas humanitárias aos países de guerra, ou de guerrilha, é uma dificuldade: muitas vezes a Cruz Vermelha não consegue. Mas as armas chegam sempre, não há alfândega que o impeça! Porquê? Porque é exatamente o negócio que mais rende. O deus dinheiro. Nós somos escravos. No ano passado uma jovem disse que viu um anúncio no jornal e foi verificar, mas havia uma fila de pessoas que aspirava àquele trabalho. O empregado viu o seu currículo e disse-lhe: «Sim, está bem, você está apta. O seu trabalho será de mais ou menos 10-11 horas por dia, não mais que 11, e o seu salário será de 650 euros por mês». E a jovem respondeu: «Isto não é justo!» — «Mas se é do seu agrado, aceite; se não, olhe atrás a fila que há... Até à vista!». Este é o pão nosso de cada dia, e destas injustiças nascem muitas outras formas de pobreza, tantas novas pobrezas. Certa vez fui a um bairro degradado de Buenos Aires, e ali havia pessoas novas. Fui visitá-las num casebre, um pouco de madeira e um pouco de placa que elas mesmas tinham construído, mas os móveis eram bons. E tive a coragem de perguntar: «Mas como é possível, não entendo...». E ele disse-me: «Padre, até ao mês passado podíamos pagar o aluguer; agora não». E assim aumentam os bairros degradados. É uma grande injustiça. E temos que falar com clareza: isto é pecado mortal. E indigna-me, faz-me mal quando – por exemplo, algo que é atual – veem para batizar uma criança e te trazem alguém [como padrinho], e dizem-lhe: «Mas o senhor não casou na igreja, não o senhor não pode ser padrinho, porque o matrimónio, casar na igreja, é importante». Mas depois trazem-te outro que é um trapaceiro, um explorador do povo, um traficante de crianças, mas é um «bom católico», oferece esmolas à Igreja... «Ah, sim, o senhor pode ser padrinho». Assim invertemos os valores! O mundo da economia como se apresenta hoje no mundo é imoral. Falo de um modo geral, mas há exceções. Existem pessoas boas, países que procuram mudar isto, há instituições que trabalham contra isto. Mas a atmosfera mundial é que o homem e a mulher foram afastados do centro da economia, onde foi inserido o deus dinheiro. Acho que desta forma respondi à tua pergunta.

[Tonino Casamassimi]: O confronto com os valores fundamentais desta Comunidade deve suscitar interrogações sobre a seriedade do nosso serviço ao próximo. De que forma e com que espírito podemos fortalecer o nosso compromisso no mundo, para vivermos seriamente aquele encontro com as periferias da existência ao qual Vossa Santidade exorta?

Fazer frutificar os talentos. Nós seremos julgados segundo esta medida: o que fiz com os meus talentos, com o que recebi, com aquilo que o Senhor me deu gratuitamente? É uma pergunta que devemos formular. Posso fazer mais? Posso dar mais? Posso compartilhar mais? Os talentos, não só o dinheiro, os talentos! E qual é um dos talentos mais importantes do cristianismo, e também um dos grandes talentos da Vila Nazaré, desde o momento da sua fundação? O senhor disse uma palavra: hospitalidade. Nós vivemos numa civilização de portas fechadas, de corações fechados. Defendemo-nos uns dos outros: «Isto é meu, isto é meu!». Temos medo da hospitalidade, receio de acolher. E não falo somente da hospitalidade aos migrantes, que é já um grande problema, e também uma questão política mundial. Mas falo inclusive do acolhimento diário, da hospitalidade a quantos me procuram para me chatear com as suas lamúrias, com as suas problemáticas, e espera de mim uma palavra de ânimo e até a possibilidade de abrir de par em par uma «janelinha» para sair. Sinto-me mal, faz-me mal ver as igrejas de portas fechadas, isto faz-me mal. Haverá alguns motivos justificáveis, mas uma igreja de portas fechadas significa que aquela comunidade cristã tem um coração fechado, está encerrada em si mesma. E nós temos o dever de retomar o sentido do acolhimento, ser hospitaleiros. E o que acontece em Roma é muito simples, é quotidiano: acho que é um trabalho, ou se quiserdes denominá-lo em termos de apostolado, aquilo de que mais precisamos é o apostolado da escuta. Não temos tempo para ouvir, já perdemos esta capacidade: «Não, não tenho tempo de ir e ouvir estes queixumes, não, fazem-me mal, é melhor se desempenho outro trabalho, mais útil, sem perder tempo…». Se deixarmos de fazer isto não acolhemos o próximo. E se não acolhermos, não somos cristãos, nem sequer seremos recebidos no Reino dos Céus. É matemático! É assim, é esta a lógica do Evangelho. É assim! E vós que tivestes a experiência do acolhimento aqui, nesta Casa, tendes uma grande responsabilidade social e eclesial: ensinar, fazer entender que esta é a porta do caminho cristão. Quando recebemos o batismo fomos recebidos pela comunidade cristã. Uma bonita celebração litúrgica, na qual o pároco explicava bem as coisas, tudo... Mas este acolhimento sacramental, com o sinal da Trindade, sou eu capaz de o levar em frente no meu modo de viver a fé? Ou prefiro olhar para o outro lado? É melhor dizer: «não entendi», «não ouvi», não sabia»... E ao contrário isto [a hospitalidade] dá fruto, frutifica. O acolhimento fecunda os talentos. Há o grande acolhimento daqueles que vêm de terras longínquas, e há também o pequeno acolhimento, quando tu — pai ou mãe — voltas do trabalho e o teu filho ou a tua filha adolescente está em dificuldade e quer dizer-te algo, ou pelo menos tem necessidade de que tu o ouças... «Estou muito ocupado, façamo-lo amanhã...». Este é o momento da graça: acolher. «Mas Padre, isto é uma tortura!». Não, é uma mortificação, é uma mortificação! É a cruz de cada dia. Jesus disse-nos: «Quem quiser vir após mim, carregue a sua cruz»; Ele não disse: «tome a sua morfina para para dormir bem»; «carregue a sua cruz e siga-me!». E o acolhimento é uma cruz, mas uma cruz bonita, porque nos faz recordar o acolhimento do bom Deus em relação a nós, cada vez que nós vamos à sua procura para nos reconciliar, para pedir um conselho, para pedir o perdão... Acolhimento!

[Massimo Moretti com a esposa Giorgia Lagattola]: Hoje a família é solicitada pela cultura do provisório. O casal é ameaçado pela tentação de procurar a maior felicidade possível numa dimensão que corre o risco de permanecer individual. Como podemos manter viva a chama do nosso amor, e que valor tem para o mundo de hoje a promessa de eternidade que nós fizemos reciprocamente?

Hoje eu disse algo sobre as famílias, mas tomarei uma ou duas palavras tuas. Uma sobre a cultura do provisório: é o que repito sempre. Uma parte das pessoas que se casam não sabem o que fazem. Casam-se... «Mas tu sabes que isto é um sacramento?» — «Sim, sim, e por isso deverei confessar-me antes, fá-lo-ei e também receberei a comunhão» — «E sabes que isto é para a vida inteira?» — «Sim, sei, sei...». Mas não o sabem, porque esta cultura do provisório penetra profundamente em nós, nos nossos valores, nos nossos juízos, que depois significa, para o dizer assim, simplesmente — significa: «Sim, sim, estarei casado enquanto durar o amor, e quando o amor terminar, acabará o matrimónio». Não se diz, mas a cultura do provisório leva-te a isto. E a meu ver a Igreja deve trabalhar muito neste ponto, com a preparação para o matrimónio. Na Amoris laetitia há um capítulo, um capítulo dedicado a isto. Uma senhora — já o disse recentemente em São João de Latrão — uma senhora certa vez disse-me: «Vós, sacerdotes, sois astutos: para vos tornardes presbíteros estudais oito anos, e então estais aptos; mas se algo não vos agrada, ou se encontras uma moça da qual gostas e não queres continuar, depois de pouco tempo fazeis um procedimento e ides à Santa Sé, que vos dá a dispensa, e assim podeis casar e formar uma família. Quanto a nós, que recebemos um sacramento indissolúvel e para a vida inteira, o mistério de Cristo e da Igreja, e dura toda a vida, vós preparais-nos com apenas três ou quatro conferências?». É verdade: a preparação para o matrimónio. É melhor não casar, não receber o sacramento, se tu não estiveres certo de que ele contém um mistério sacramental, o abraço do próprio Cristo com a Igreja, se não estiveres bem preparado.

Depois, há as dimensões cultural e social. É verdade, casar é uma questão social, sempre foi uma questão social, porque é bonito casar, em todas as culturas: há tantos ritos bonitos, lindos, nas culturas... quando o jovem vai ao encontro da jovem, quando a acompanha… muitos aspetos bonitos, que indicam a beleza do casamento. Mas este aspeto social, na cultura do consumismo, da mundanidade, às vezes favorece a provisoriedade e não nos ajuda a levar a sério [o matrimónio]. Recentemente recordei que telefonei a um jovem que eu conhecia; telefonei-lhe, porque a sua mãe me tinha dito que ele iria casar; eu conheci-o quando celebrava a Missa aqui em Ciampino. Eu disse-lhe: «Soube que te casas…» — «Sim, sim!» — «Fá-lo-ás naquela igreja?» — «Mas, na realidade não sabemos, porque depende do vestido da minha noiva, que harmonize com a igreja, para a beleza...». — «Ah, que bonito, que lindo… E quando?» — «Daqui a poucas semanas» — «Ah, muito bem. Estais a preparar-vos bem?» — «Sim, agora vamos, estamos à procura de um restaurante que não seja demasiado caro, e também as lembranças de casamento, isto, isso e aquilo...». Que sentido tem este casamento? É puramente uma questão social, uma questão social. E pergunto-me: estes noivos — bons — estão livres desta cultura mundana consumista, hedonista, ou a questão social leva-os a cair nesta falta de liberdade? Porque o sacramento do matrimónio só se pode receber com liberdade. Se tu não estiveres livre, não o recebas!

E depois, há algo de que devemos cuidar. Gosto de me encontrar, tanto nas Missas em Santa Marta como nas audiências gerais, com os casais que celebram 50 e 60 anos de casamento, porque sempre falo com eles e eles dizem-me coisas... sentem-se felizes! Certa vez, um destes casais disse-me aquilo que todos gostariam de dizer, mas eles conseguiram dizê-lo. [Perguntei-lhes:] «Sessenta anos. Quem teve mais paciência?» — «Ambos!» — dizem sempre a mesma coisa — E depois: «Houve desavenças?» — «Quase todos os dias. Mas tudo bem» — «Sois felizes?», então comovi-me, porque se fitaram nos olhos: «Padre, estamos apaixonados». Isto é grandioso! Depois de 60 anos, isto é grandioso! E este é um dos frutos do sacramento do matrimónio: é a graça que o faz. Se todos pudessem entender isto! E há uma última observação que gostaria de fazer. Que no matrimónio há desacordos, todos nós sabemos; às vezes voam pratos; são coisas que acontecem todos os dias. Mas o conselho que eu sempre dou é este: nunca termineis o dia sem fazer as pazes, porque eu tenho medo da «guerra fria», do dia seguinte. Sim, é extremamente perigosa! Quando te zangas e acabas o dia com raiva e não fazes as pazes naquele mesmo dia, a situação piora cada vez mais. «Mas como faço as pazes, Padre? Devo pronunciar um discurso?» — «Não, faz assim [faz o gesto de uma carícia] e é suficiente». Trata-se de um gesto, da linguagem dos gestos. E entre os gestos — por favor — não vos esqueçais da carícia: o carinho é uma das linguagens mais sagradas no matrimónio. A carícia: amo-te muito... O carinho... Casais que são capazes de se acariciar, de se amar, também com o corpo, com tudo, sempre... As carícias... Acho que assim será possível preservar a força do sacramento, porque até o Senhor acaricia com profunda ternura a sua Esposa, a Igreja. Vamos em frente assim!

[Luca Monteferrante]: Somos uma comunidade que deseja permanecer fiel ao carisma particular recebido do fundador e à missão que lhe lhe foi confiada pela Igreja, como associação de fiéis leigos. Pedimos a Vossa Santidade que nos ajude a compreender o sentido do convite de Jesus dirigido a Nicodemos para «renascer do alto», como comunidade que se interroga perante: a desvalorização da cultura como instrumento de promoção do homem; a organização do trabalho que põe em perigo os espaços de vida pessoal e familiar; o mundo profissional que exige a renúncia a porções de liberdade pessoal para aceder a funções de responsabilidade; a crise da dimensão comunitária e do valor da fraternidade, provocada por ritmos de vida que são incompatíveis com a participação em experiências comuns.

Pois bem, a resposta vem-me daquela palavra que são Paulo disse quando se encontrava no meio de uma tempestade, antes de chegar a Malta: «Ou todos nos salvamos, ou ninguém se salva!». Este é o aspeto comunitário, assim sois também vós, o vosso carisma, a vossa associação: ou se salva toda, ou não se salva. Ou todos, ou ninguém. Não deveis permitir que haja divisões entre vós. E se houver algumas divisões, encontrai-vos, discuti, dizei a verdade, zangai-vos, mas dali a unidade sairá cada vez mais fortalecida. Salvai sempre a unidade. Não tenhais medo de argumentar, de discutir... mas para salvar a unidade. Sempre dentro, sempre dentro! E este é um instrumento importante para salvar a unidade: ou todos nos salvamos, ou ninguém se salva! Aqui os particularismos são feios, muito feios.

Estão incluídos [na pergunta] o «discernimento dos sinais dos tempos», as «sementes de novidade», como «renunciar a porções de liberdade para aceder a funções de responsabilidade»… Três aspetos: já mencionei o primeiro, ou todos ou ninguém. Segundo: formai filhos, formais discípulos com esta «mística» [atitude interior], e transmiti-lhes a tocha, para que a levem em frente. Não existem dirigentes eternos: o único que vive para sempre é o Pai Eterno. Todos nós devemos transmitir a tocha aos filhos, a fim de que a passem para a frente. Fazer discípulos, formar discípulos é uma renúncia, mas uma renúncia sábia. Dar um passo «de lado», para que o filho possa ir em frente. Ajudá-lo, defendê-lo, mas sem superproteção: deixá-lo livre. E Aquele que leva a cabo todo esta obra e trabalho para preservar a unidade, a criatividade, os novos desafios e os novos filhos é o Espírito Santo. É a oração ao Espírito Santo. É necessário pedir-lhe, pois é Ele quem nos consola nas dificuldades, Ele é a alegria: o Espírito Santo é a alegria da Igreja. É Ele que nos assiste, que nos enche de júbilo. O Espírito Santo é a harmonia, é Aquele que das diversidades por Ele mesmo criadas faz a harmonia da Igreja inteira. O Espírito Santo é a beleza. Recordemos aquela vez que Paulo foi a uma nova comunidade cristã e dirigiu aos seus membros a seguinte pergunta: «Recebestes o Espírito Santo?» – «Mas nem sequer ouvimos dizer que existe um Espírito Santo!» (cf. At 19, 2). E quantas instituições acabam mal, ou perdem o carisma próprio das origens, porque se esqueceram do Espírito Santo, que é o Consolador nas dificuldades, é o júbilo, a harmonia, a beleza?

E assim, agradeço-vos a paciência que tivestes para ouvir este «sermão de Quaresma», que foram sete: como os «sermões das sete palavras», que na Argentina duravam três horas. Muito obrigado! Obrigado por tudo aquilo que fazeis, obrigado pelo vosso testemunho. E, por favor, peço-vos que rezeis por mim, porque este trabalho não é fácil. Orai por mim. Obrigado!

 



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