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VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE
À REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA
[15-18 DE NOVEMBRO DE 1980]

PAPA JOÃO PAULO II

ANGELUS

Osnabrück, 16 de Novembro de 1980

 

Caros irmãos e irmãs!

Grande alegria é para mim poder, já desde o início, saudar-vos com este belo nome: irmãos-irmãs. Pois somos todos nós filhos do mesmo Pai comum, amados e remidos por Deus em Cristo. Se assim é, não somos estranhos e desconhecidos uns aos outros, embora aqui nos encontremos pela primeira vez. Saúdo-vos a todos de todo o coração, vós que estais congregados nesta catedral, para recitardes comigo a vetusta e terna prece do Angelus.

Entretanto, esta nossa oração ao meio-dia de hoje abrange não somente vós aqui presentes, senão também muitas outras pessoas em toda a Alemanha que têm de carregar pela vida fora a moléstia de alguma invalidez ou deformidade e, no entanto, querem unir-se, cheias de fé, à nossa prece meridiana por meio da televisão e da rádio. A elas igualmente quisera eu chamar meus irmãos e irmãs, a vós que na vossa casa — sozinhos ou em companhia dos vossos parentes e amigos — ou então na comunidade maior de algum asilo, estais sintonizados connosco aqui em Osnabrück, através dos meios de comunicação. Junto com todos vós estamos para louvar a Deus e agradecer-lhe o grande dom do seu amor.

Este amor é o motivo da vossa esperança e da vossa coragem de viver. Deus mostrou-nos em Jesus Cristo, de maneira insuperável, como ama Ele cada pessoa em particular e assim lhe confere uma dignidade infinita. Precisamente os que sofrem de alguma invalidez corporal ou mental, podem considerar-se amigos particulares de Jesus, que disse: "Vinde a mim todos vós que andais atribulados e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim que sou meigo e humilde de coração, e assim encontrareis sossego para as vossas almas. Porquanto, o meu jugo não oprime e leve é o meu fardo" (Mt 11, 28-30). Eis que o que a nós se nos afigura fraqueza e alquebramento, para Deus constitui motivo de peculiar amor e dedicação. E este juízo de Deus torna-se para a Igreja e para todo o cristão encargo e obrigação. Para nós cristãos pouco importa que alguém seja enfermo ou sadio; o que conta, em última análise, é o seguinte: Estás pronto para realizar, conscientemente, cheio de fé, em todas as situações da tua vida e na tua conduta de verdadeiro cristão, a dignidade com que Deus te contemplou? — ou queres tu dilapidar essa dignidade numa vida superficial e irresponsável, no pecado e na culpa perante Deus? Mesmo como inválido ou deforme podes ser santo. Podeis todos vós alcançar aquela meta sublime que Deus designou a toda a pessoa humana, amada sua criatura que é.

Cada pessoa recebe de Deus a sua própria vocação de todo pessoal, a sua peculiar missão salvífica. Como quer que se nos manifeste a vontade de Deus, sempre constitui ela para nós, em última análise, uma boa-nova, uma mensagem que se refere à nossa salvação eterna. Vale isso também no caso que vós, portadores de grave invalidez ou deformidade, sejais chamados por Cristo a uma forma de todo especial de seguimento — o seguimento da "via-crucis". Cristo convida-vos, com a palavra acima mencionada, a aceitar os vossos achaques como o Seu jugo, como uma via que palminha os Seus passos. Só assim não vos abaterão esses sofridos fardos. A única resposta correcta à chamada de Deus para o seguimento de Cristo, como quer que concretamente se apresente, é aquela da bem-aventurada Virgem, Maria: "Faça-se em mim segundo a tua palavra!" (Lc 1, 38). Somente esse vosso pronto "sim" à vontade de Deus, que tantas vezes se furta à nossa compreensão natural, pode fazer-vos felizes e doar-vos desde já uma alegria interior que não possa perturbar-se de fora por nenhuma situação penosa.

Para tanto precisais naturalmente também da ajuda actuante de muitas pessoas que gozam de saúde. Penso, a esta altura, especialmente em vós que aqui viestes na qualidade de auxiliares e acompanhantes, ou que, onde quer que seja, assistis prestimosos os inválidos e deformes. Como parentes ou por vocação, pondes a serviço do próximo as vossas capacidades, o vosso tempo e energia. No nome de Jesus Cristo, que misticamente se vos depara na pessoa do vosso semelhante que sofre de algum mal, gostaria me fora dado agradecer-vos por esse sacrificado serviço e, ao mesmo tempo, encorajar-vos a prestá-lo. Para esses abnegados servidores valem as palavras do Senhor: "Vinde benditos do meu Pai... eu estava enfermo e me visitastes" — gravemente inválido e me assististes. "Tomai posse do Reino que, desde o princípio do mundo, vos está preparado" (cf. Mt 25, 31-46).

Uma palavra igualmente cordial de reconhecimento e de incentivo dirijo também a todos os sacerdotes que, na qualidade de agentes de pastoral dos inválidos, desempenham relevante função na Igreja. Sois de modo particular servos da sua espiritual alegria interior. Não vos fatigueis, a despeito da angustiante carestia de sacerdotes, de anunciar, com zelo sacerdotal e competência profissional, a boa nova aos inválidos e deformes que a vós estejam confiados. Ajudai-os a contemplar a sua sorte à luz da fé, que lhes ensina a compreendê-la como vocação à partilha na paixão redentora de Cristo. Sede fortes em Cristo, que vos envia e opera por meio de vós a sua salvação entre os seres humanos.

Finalmente, dirijo um apelo a todas as pessoas e a toda a sociedade, no sentido de se assistir solicitamente os inválidos e deformes. Eles têm direito a isso. Entre os que gozam de saúde e eles, não pode existir nenhuma barreira ou muro que os separe. Quem hoje aparenta, saúde, pode já agora trazer em estado latente alguma enfermidade, pode amanhã ter um acidente e ficar inutilizado por muito tempo ou mesmo inválido para o resto da existência terrena. Peregrinos somos todos nós num trecho bem limitado de caminho, e um dia termina para cada um de nós, na morte, este nosso peregrinar. Já nos dias de saúde experimenta a maioria dentre nós sintomas de limitação e fraqueza, de fragilidade e invalidez. Por isso, estejamos perto uns dos outros com fraterna solidariedade, os mais ou menos sãos e os mais ou menos inválidos, e demo-nos provas recíprocas de devido amor fraternal, mediante o qual, tão somente, poderá desabrochar efectivamente um digno convívio humano na família e na sociedade.

Eis porque, na oportunidade deste nosso encontro com os nossos inválidos irmãos e irmãs, estão sinceramente convidadas também todas as pessoas que pelo país fora nos ouvem ou olham para aqui, a juntarem-se à nossa prece do meio-dia. Perante Deus recuam todas as divergências e diferenças humanas; decisivo mantém-se tão somente o respectivo quinhão de esperança repassada de fé e de abnegado amor, que cada qual leva no próprio coração.

Na prece do Angelus contempla-mos, entremeado de três carinhosas Ave-Marias, o mistério germinal da nossa fé —  a Encarnação do Verbo no seio da Virgem Maria. Como ela, Maria, pronunciou a sua palavra positiva para com o desígnio salvífico de Deus, assim nós também professamos o nosso "fiat", o nosso "sim para a com a nossa vocação. Dizemos confiantes o nosso "sim" a isto: à chamada do sofrer e à chamada do ajudar e servir! E como em Maria Virgem o Verbo se fez carne e nosso irmão, assim pela virtude de Deus tornar-se-á fecundo também o nosso caminho. Sofrimento aceito na confiança, serviço empreendido por amor: é este hoje o caminho pelo qual quer o Senhor vir de novo ao mundo.

Entrelacemos, pois, as nossas mãos e rezemos: "O Anjo do Senhor, anunciou a Maria...".

 



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