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VISITA PASTORAL À PARÓQUIA ROMANA DE SÃO CAMILO DE LELLIS

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Domingo, 11 de Dezembro de 1983

 

Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. O terceiro domingo do Advento traz consigo um veemente convite à alegria e é chamado, por causa das primeiras palavras do texto latino da "antífona de entrada", o domingo Gaudete (cf. Fil. 4, 4.5). A própria natureza é convidada pelo profeta a manifestar com viva alegria sinais de júbilo: "O deserto e a terra árida alegrar-se-ão, a terra desolada exultará e florescerá" (Is. 35, 1), porque logo verão "a glória do Senhor".

É a alegria do Advento, que vem acompanhada, no fiel, da humilde e intensa invocação ao Senhor: "Vinde!". É a súplica ardente, que serve de refrão ao Salmo responsorial da Liturgia de hoje: "Vinde, Senhor, para nos salvar!".

2. A alegria do Advento, típica deste domingo, encontra a sua fonte na resposta que de Cristo receberam os mensageiros, a Ele enviados por João Baptista. Este, enquanto estava no cárcere, ao ouvir falar das obras de Jesus, enviou-Lhe os seus discípulos, portadores da pergunta crucial, que esperava uma resposta definitiva: "És Tu aquele que há-de vir ou devemos esperar outro?" (Mt. 11, 3). E eis a resposta de Cristo: "Ide contar a João o que vedes e ouvis: Os cegos vêem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres. E bem-aventurado aquele que não encontra em Mim ocasião de escândalos" (Mt. 11, 4-6).

Jesus de Nazaré, na sua solene resposta a João Baptista, refere-se, com evidência, ao cumprimento das promessas messiânicas. E são as promessas que se encontram profetizadas no Livro de Isaías, e que há pouco escutámos na primeira leitura:

"Ele vem em pessoa para vos salvar. Então se abrirão os olhos do cego, e se desimpedirão os ouvidos do surdo. O coxo saltará como um cervo, e a língua do mudo dará gritos de alegria; porque as águas jorraram no deserto e as torrentes na estepe... O deserto será atravessado por um caminho que se chamará 'Caminho Sagrado'... e voltarão os que o Senhor tiver libertado. Chegarão a Sião cantando cânticos de triunfo; uma alegria eterna coroará a sua cabeça; serão repletos de gozo e alegria, e deles fugirão a tristeza e os gemidos" (Is. 35, 4-10).

Assim, portanto, responde Cristo a João Baptista: Porventura não estão a cumprir-se as promessas messiânicas? Por conseguinte, chegou o tempo do primeiro Advento!

Este tempo já passou e, contemporaneamente, nele nós perseveramos sempre. A Liturgia, com efeito, torna-o cada ano presente. E é esta a fonte da nossa alegria.

3. Esta alegria do Advento tem uma sua fonte profunda. O facto que se cumpriram em Jesus de Nazaré as promessas messiânicas é a demonstração de que Deus é fiel à sua palavra.

Podemos verdadeiramente repetir com o Salmista: "O Senhor é fiel para sempre!" (Sl. 145 / 146, 6).

O Advento recorda-nos, cada ano, o cumprimento das promessas messiânicas referentes a Cristo, com o objectivo de orientar as nossas almas para tais promessas, cuja realização recebemos em Cristo e por Cristo. Estas promessas conduzem aos últimos destinos do homem.

Em Cristo e por Cristo "o Senhor é fiel para sempre". N'Ele e por Ele se abre, de geração em geração, o segundo Advento, que é o "tempo da Igreja". Por Cristo a Igreja vive o advento de cada dia, isto é, a própria fé na fidelidade de Deus, que é "fidelidade para sempre". O Advento reconfirma sempre, desse modo, na vida da Igreja a dimensão escatológica da esperança. Por isso São Tiago nos recomenda: "Tende, também vós, paciência, porque a vinda do Senhor está próxima" (Tgo 5, 7).

4. Nesta perspectiva, a Liturgia deste terceiro domingo do Advento é não só um convite à alegria, mas também à coragem.

Se, de facto, devemos alegrar-nos na serena esperança da futura plenitude dos bens messiânicos, devemos também com coragem enfrentar e superar a realidade temporânea e transitória, com o olhar e o empenho voltados para o que é eterno e imutável.

Essa coragem nasce da esperança cristã e, num certo sentido, é a mesma esperança cristã.

O convite à coragem ressoa na profecia do Livro de Isaías:

"Fortificai as mãos débeis, robustecei os joelhos vacilantes. Dizei aos que têm coração pusilânime: Tomai ânimo, não temais!" (Is. 35, 3).

O Advento, como dimensão estável da nossa existência cristã, manifesta-se nesta esperança, que traz em si, ao mesmo tempo, a coragem "escatológica" da fé!

Esta coragem — força da fé — é, como diz o Profeta, magnanimidade. Ela é, ao mesmo tempo, paciência. É semelhante à paciência do agricultor, que "aguarda o precioso fruto da terra e tem paciência até receber a chuva temporã e tardia" (Tgo. 5, 7). E São Tiago acrescenta: "Tende, também vós, paciência e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima" (Tgo. 5, 8).

Através do Evangelho deste domingo é-nos apresentado um esplêndido exemplo desta magnanimidade paciente: João Baptista. A respeito dele Jesus fala à multidão com termos de elogio: "Que fostes ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento?... Um profeta? Sim, Eu vo-lo digo, e mais que um profeta" (Mt.11,7-9). E prossegue: "Entre os nascidos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista; e, no entanto, o mais pequeno no remo dos Céus é maior do que ele" (Mt. 11, 11).

A fé magnânima e a coragem paciente da esperança abrem a todos nós o caminho para o reino dos Céus.

5. Esta fé magnânima e esta coragem paciente desejo augurar a todos os fiéis desta paróquia, dedicada ao grande apóstolo da caridade cristã, São Camilo de Lellis, e construída em 1910 por desejo do meu Santo Predecessor, Pio X, e confiada ao incansável zelo dos Religiosos da Província Romana da Ordem dos Clérigos Regulares Ministros dos Enfermos, chamados "Camilianos".

Uma cordial e sincera saudação dirijo a Don Vincenzo Cardone, que desde 1936 é o pároco, e aos sacerdotes e religiosos colaboradores seus, os quais no espírito do seu santo Fundador, dedicam as suas melhores energias ao vosso cuidado pastoral, embora no meio de múltiplas e objectivas dificuldades de vários géneros.

Apresento uma saudação também às Comunidades religiosas masculinas e femininas, residentes no âmbito da paróquia: os Agostinianos Irlandeses, os Carmelitas Descalços, os Capuchinhos, os Padres Paulistas, os Monges Basilianos, as Monjas Cistercienses, as Irmãs Missionárias da Nigrizia, as Missionárias do Sagrado Coração fundadas por Santa Francisca Xavier Cabrini, as Irmãs Servas do Sagrado Coração de Jesus, as Irmãs Servas fundadas pela Venerável Catarina Volpicelli. Um pensamento também aos Superiores e aos Alunos do Pontifício Colégio Arménio e do Pontifício Colégio Germânico-Húngaro.

Desejo dirigir-me aos 4.500 fiéis e às 1.600 famílias, que constituem o conjunto vivo da comunidade paroquial. Um particular pensamento de encorajamento aos Membros da Acção Católica, da Conferência de São Vicente de Paulo; ao Voluntariado Vicentino, à Associação dos Guardas de Honra ao Sagrado Coração de Jesus, a qual precisamente nesta igreja tem a sede da Direcção nacional; ao Conselho paroquial, ao Movimento juvenil eucarístico.

Uma palavra de bons votos desejo dirigir aos pais e às mães de família, a todos os jovens e a todas as jovens, a todas as crianças, aos anciãos e aos doentes. 6. Caros Irmãos e Irmãs da Basílica Paroquial de São Camilo de Lellis! Faço votos por que, mediante o nosso encontro e o ministério do Bispo de Roma, se renove em todos vós o convite à alegria do Advento, que ressoa na Liturgia deste domingo.
Ao mesmo tempo, faço fotos por que se renove o convite à esperança magnânima, que tem a sua fonte na coragem sobrenatural da Fé!

Cultivemos com paciência a terra da nossa vida, como o agricultor que "espera com paciência o precioso fruto da terra"!

Este fruto se manifestará na Vinda do Senhor!

Amém.

 



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