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MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II
PARA O XXI DIA MUNDIAL DE ORAÇÕES PELAS VOCAÇÕES

11 de Fevereiro de 1984 

 

Venerados Irmãos no Episcopado,
Caríssimos Filhos e Filhas de todo o mundo

1. Dirijo-me a todos vós, com a alma cheia de esperança, para convidar-vos a celebrar com uma fé renovada e uma participação unânime a XXI Jornada Mundial de Orações pelas Vocações.

Como Pastor da Igreja Universal, não posso deixar de abrir-vos mais uma vez o coração e exprimir-vos a solicitude que constantemente me anima pelo incremento efectivo das vocações ao ministério sagrado, à vida consagrada na variedade das suas formas e à vida missionária. Trata-se, com efeito, dum problema de uma importância vital e fundamental para a comunidade dos crentes e para toda a humanidade. A próxima celebração oferece a todos, pastores e fiéis, a oportunidade de tornar-se mais conscientes das responsabilidades comuns para cumprir generosamente o que o Senhor mandou fazer.

Colocada no quarto Domingo de Páscoa, entre a solenidade da Ressurreição e do Pentecostes, a Jornada Mundial recebe destes dois grandes mistérios sempre nova luz e novos motivos de esperança. O texto do evangelho de São João desse domingo propõe-nos a imagem sugestiva do Bom Pastor. "Ele chama as suas ovelhas uma a uma e as conduz para fora. E depois de ter conduzido para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas seguem-no, porque conhecem a sua voz" (Jo. 10, 34). O Bom Pastor, Cristo Ressuscitado, garante, dum modo visível, a sua presença perene, na humanidade renovada, mediante aqueles que, ao longo da história, continuamente envia a actuar a obra da salvação. Também ele está vivo e presente no meio de nós e a cada um faz escutar a sua voz e o seu amor.

O Bom Pastor manifesta a ânsia de aumentar constantemente o seu rebanho. Há de facto outras ovelhas que estão fora da seu redil (cf. Jo. 10, 16). Diante do seu olhar está sempre presente a experiência dramática das multidões de todos os tempos, "cansadas e abatidas, como ovelhas sem pastor", que o leva a dizer "a messe é grande, mas os operários são poucos" (Mt. 9, 36-37). O lamento amargurado do Coração de Cristo repete-se no tempo e toca profundamente as nossas pessoas. Quem pode, pois, ficar insensível perante o aumento vertiginoso das necessidades de evangelização? A todos o Redentor divino pede a colaboração para que nunca faltem os operários do Evangelho para que haja sempre homens e mulheres decididas a consagrar-se inteiramente ao serviço do povo de Deus.

2. A oração. A celebração da Jornada Mundial pretende ser antes de mais um convite premente a compreender o valor do mandato de Jesus: "Pedi pois ao Senhor da messe que mande operários para a Sua messe" (Mt. 9, 38). Não é um simples convite. Ao contrário é um imperativo que desafia a nossa fé e interpela a nossa consciência de baptizados. Ninguém ignora que a oração, nas suas múltiplas formas, deve ser considerada como o primeiro e insubstituível serviço que podemos oferecer à grande causa das vocações. A necessidade imensa de sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, membros de institutos seculares, missionários, deve corresponder uma grande resposta de oração. Por isso convido-vos a todos vós, que estais dispersos por todas as partes do mundo, a rezar, a rezar muito, a rezar continuamente por esta intenção que toca em modo tão vital os interesses do Reino de Deus.

Que a Jornada Mundial faça reviver na Igreja e clima espiritual dos primeiros discípulos no cenáculo à espera do Espírito Santo: "Todos estes eram assíduos e concordes na oração, juntamente com as mulheres e com Maria, a mãe de Jesus e com os irmãos dele" (Act. 1, 14). Cada comunidade cristã, seja um novo cenáculo de oração pelas vocações: seja assim a comunidade diocesana, a paróquia, as comunidades religiosas, as famílias cristãs, os grupos eclesiais e cada uma das outras realidades do povo de Deus.

Na oração constante e universal, particularmente centrada na Eucaristia, fonte do sacerdócio ministerial e de todas as vocações, estão colocadas as esperanças da Igreja e da humanidade. Cristo empenhou a sua palavra e não nos negará o que ele mesmo nos mandou pedir.

3. A acção. Sem dúvida que a insistência sobre a oração querida por Jesus não pode significar inércia e evasão das outras nossas responsabilidades. Pelo contrário! A vontade do Senhor é que à oração, bem compreendida e vivida, esteja unido o nosso operar e a nossa colaboração. O próprio Jesus não só reza e manda rezar, mas ao mesmo tempo chama os apóstolos e os discípulos, trata da sua formação e envia-os a anunciar o Evangelho.

O Concilio Vaticano II recordou que a colaboração efectiva para o incremento das vocações é um dever de toda a comunidade cristã (cf. Optatam totius, 2). Trata-se duma acção convergente e diversificada. Portanto todos os baptizados, cada um segundo a própria condição, devem com a ajuda de Deus, empenhar-se a tornar eficaz a acção da Igreja num sector tão importante para a sua vida e para o seu futuro. São responsáveis por isso, dum modo particular os bispos, os presbíteros, os diáconos, as pessoas consagradas, aqueles que desempenham tarefas educativas e antes de todos as famílias cristãs.

— Venerados Irmãos no Episcopado, que, à imitação do Bom Pastor, guiais com amor e solicitude o rebanho que vos foi confiado, para vós vai a minha gratidão e a da Igreja pelos exemplares esforços que despendeis nas vossas comunidades a favor de todas as vocações consagradas. Os programas ou planos de acção diocesanos, que publicastes ou estais preparando e actualizando são disso um testemunho tangível.

O Senhor está dando à Igreja uma nova fecundidade no campo das vocações. Em especial nalguns países vai-se manifestando um aumento promissor, pelo qual nunca se agradecerá suficientemente a bondade de Deus. Estes sinais de esperança estimular-vos-ão a perseverar com coragem e fervor numa obra tão preciosa. Seguindo as linhas de acção propostas pelo Documento conclusivo do Segundo Congresso Internacional sobre o trabalho pastoral das vocações nas Igrejas particulares, realizado em Maio de 1981, movimentais todas as forças de apostolado e comprometeis todos os ambientes com um serviço sempre mais metódico, incisivo e fundamental.

— A minha palavra dirige-se agora a todos vós, que colaborais com os Bispos nesta delicada missão: presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas, membros de institutos seculares. missionários, animadores e responsáveis das vocações. Sei quão grande é o contributo que dais e que podeis dar com o vosso alegre testemunho e com a vossa acção apostólica, valorizada pela oração constante. Nesta circunstância desejo dirigir-vos uma recomendação que me está particularmente no coração: anunciai com coragem Cristo que chama; ele continua com efeito a chamar hoje como ontem e serve-se de nós para fazer chegar os seus apelos. Anunciai-o portanto nas comunidades cristãs, anunciai-o com força sobretudo aos jovens. Em numerosas regiões cresce uma juventude nova, aberta à oração e à procura de Deus, desejosa de participar na vida da Igreja e da sociedade. Não desiludais as suas esperanças. Sede portanto os mensageiros da vontade de Deus e chamai com coragem!

— Também vós jovens, que vos preparais para o ministério sacerdotal e para a profissão dos conselhos evangélicos, podeis ser para outros jovens uma clara proposta de vocação. Quem compreendeu a chamada de Jesus como a maior riqueza da própria vida deve advertir a necessidade de comunicar a sua descoberta aos outros. Foi o que fez o apóstolo André levando a Jesus o irmão Simão Pedro (cf. Jo. 1, 4). Caríssimos seminaristas e todos quantos vos preparais para a vida consagrada, irradiai os ideais que movem as vossas existências e sede entre os vossos coetâneos os primeiros animadores de vocações!

4. Às famílias cristãs, portanto, queria recordar o valor insubstituível da sua actividade e do seu empenhamento. Caríssimos esposos e pais Cristãos, vós que colaborastes com Deus em dar a vida a novas criaturas, sabei colaborar com ele também em ajudar os vossos filhos a descobrir e realizar a missão que Cristo confia a cada um deles. Nisto reside o maior sinal de amor em relação a eles. A vocação é um grande dom não só para quem o recebe, mas também para os pais.

Para desempenhar uma tarefa tão sublime e empenhativa, exorto-vos a ser fiéis à vocação que vós mesmos recebestes no sacramento do matrimónio. Tratai de rezar muito na vossa família: vós mesmos tendes necessidade da luz de Deus para discernir a sua e para a ela respondes com generosidade.

5. Finalmente dirijo-me sobretudo a vós, caríssimos rapazes, meninas, jovens e menos jovens, que vos encontrais no momento decisivo das vossas opções. Quereria encontrar-vos um por um, chamar-vos pelo nome, falar-vos coração a coração de coisas extremamente importantes não só para as vossas pessoas, mas também para a humanidade inteira.

Quereria pedir a cada um de vós: que vais fazer da tua vida? Quais são os teus projectos? Nunca pensaste em empenhar a tua existência totalmente por Cristo? Crês que possa existir algo de maior que levar Jesus aos homens e os homens a Jesus?

A Jornada Mundial é uma ocasião favorável para rezar e reflectir sobre argumentos tão essenciais. É óbvio que rezar pelas vocações não quer dizer ocupar-se unicamente das vocações dos outros. Para todos, mas particularmente para vós, significa comprometer directamente as próprias pessoas, oferecer a própria disponibilidade a Cristo. Já sabeis que ele tem necessidade de vós para continuar a obra da salvação. Ficareis então indiferentes e inertes?

Hoje, caríssimos jovens, são muitas as vozes que tentam insinuar-se nas vossas consciências. Como distinguir a voz que dá o verdadeiro sentido à vossa vida? Jesus faz-se ouvir no silêncio e na oração. Neste clima de intimidade com ele, cada um de vós poderá compreender convite doce mas também firme, do Bom Pastor, que lhe diz: "Segue-me" (cf. Mc. 2, 14; Lc. 5, 27).

Muitos de vós são chamados a actuar o sacerdócio de Jesus; muitos outros a dar-se totalmente uma vida casta, pobre, obediente, muitos a dirigir-se como missionários para todos os continentes. Muitas jovens são chamadas a oferecer o seu amor exclusivo a Cristo, cínico esposo da sua. vida. Cada chamamento de Cristo é uma história de amor única e irrepetível.

Qual é a vossa resposta? Falta-vos talvez a coragem de responder sim? Sentis-vos sozinhos? Perguntais-vos se é possível empenhar-vos no seguimento de Jesus dum modo total e para toda a vida?

Se Ele vos chama e atrai a si, estai certos que não vos abandonará. Muitas vezes lemos no Evangelho: "Não tenhais medo" (cf. Mt. 14, 27; Mc. 6. 50); "Não vos deixo sozinhos!" (Jo. 14, 18). Quer com isto dizer que Ele conhece as vossas dificuldades e dá aos chamados força e coragem para superá-las. Jesus é tudo na nossa vida. Portanto confiai n'Ele.

6. Como conclusão destas minhas reflexões e exortações, convido-vos, irmãos e irmãs caríssimas, a rezar em profunda comunhão de objectivos a oração seguinte:

"Ó Jesus, Bom Pastor, acolhe o nosso louvor e o nosso humilde agradecimento por todas as vocações que, mediante o teu Espírito, concedes continuamente à tua Igreja. Assiste os bispos, os presbíteros, os missionários e todas as pessoas consagradas: faz que dêem exemplo de vida verdadeiramente evangélica.

Torna fortes e perseverantes na sua decisão aqueles que se preparam para o sagrado ministério e para a vida consagrada. Multiplica os operários do Evangelho para anunciar o teu nome a todas as gentes. Guarda todos os jovens das nossas famílias e das nossas comunidades: concede-lhes prontidão e generosidade em seguir-te. Dirige também hoje o teu olhar sobre eles e chama-os. Concede a todos os chamados a força de abandonar tudo para te escolher só a ti que és o amor. Perdoa a falta de correspondência e a infidelidade daqueles que escolheste.

Ouve, ó Cristo, as nossas preces por intercessão de Maria Santíssima, Tua Mãe e Rainha dos Apóstolos. Ela, tendo acreditado e respondido generosamente, foi a causa da nossa alegria, acompanha com a sua presença e o seu exemplo aqueles que chamas ao serviço total do teu reino. Amém."

Enquanto confio que o Senhor acolherá as súplicas da sua Igreja, invoco a abundância das graças divinas sobre todos vós, venerados Irmãos no Episcopado, sobre os sacerdotes, sobre os religiosos, sobre as religiosas e sobre todo o Povo cristão, em modo particular sobre aqueles que se estão preparando para as Ordens sacras e para a vida consagrada e sobre todos os que promovem com generoso empenho o aumento das vocações eclesiásticas e de todo o coração concedo a todos a propícia Bênção Apostólica.

Do Vaticano, 11 de Fevereiro, memória litúrgica da Bem-Aventurada Virgem Maria de Lurdes, do ano de 1984, sexto de Pontificado.

 

JOÃO PAULO II

 



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