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VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE À GRÃ-BRETANHA
28 DE MAIO - 2 DE JUNHO DE 1982

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
NO ENCONTRO COM OS JOVENS

Ninian Park, Cardiff
Quarta-feira
, 2 de Junho de 1982

Caros jovens, caros irmãos e irmãs em Cristo

Aproximando-se o termo da minha visita à Grã-Bretanha, tenho o prazer de que este último encontro seja destinado a vós, jovens da Inglaterra e de Gales, que sois a esperança de amanhã.

Vim a esta terra como pastor peregrino, servo de Jesus Cristo. Vim proclamar o Evangelho de paz e a reconciliação de Cristo: vim celebrar o seu acto salvador nos sacramentos da Igreja. Vim para chamar-vos a Cristo.

1. Há alguma coisa verdadeiramente importante para que desejo chamar a atenção antes de me separar de vós. Alguma coisa intimamente ligada aos Sacramentos que celebrei, alguma coisa que faz parte de modo particular da mensagem evangélica, alguma coisa que é essencial à vossa vida cristã. É a oração. Orar é tão importante que o próprio Jesus nos diz: "Orai a todo o momento". (Lc 21, 36). Ele quer que oremos para ter a luz e a força. Quer que nos dirijamos ao Seu Pai, como Ele mesmo fez. O Evangelho diz-nos que Jesus orou toda a noite antes de escolher os Apóstolos (cf. Lc 6, 12). E mais tarde, na Sua Paixão, no auge do sofrimento, Cristo "orava mais intensamente" (Lc 22, 44).

2. Jesus não só nos deu o exemplo da oração: de facto ensinou-nos a orar. Numa das cenas mais belas do Evangelho vemos Jesus, juntamente com os Seus discípulos reunidos, a ensinar lhes a orar: "Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome; venha a nós o Vosso reino; seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu". Jesus instruía assim os discípulos sobre a estima que se deve ter do louvor de Deus: - a importância do nome de Deus, do Seu Reino e da Sua santa vontade. Ao mesmo tempo, dizia-lhes -que redissem o pão, o perdão e a ajuda nas provações. "O pão nosso de cada dia nos dai hoje, e perdoai-nos as nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal" (cf. Mt 6, 9-13; Lc 11, 2-4).

3. Meus caros jovens, é por meio da oração que Jesus nos leva ao Pai. E na oração que o Espírito Santo transforma as nossas vidas. E na oração que vimos a conhecer Deus: a descobrir a Sua presença na nossa alma, a ouvir a Sua voz que fala através da nossa consciência, e a entesourar a dádiva que Ele nos faz da responsabilidade pessoal pela nossa vida e pelo nosso mundo.

Através da oração somos tornados capazes de uma mais límpida percepção da pessoa de Jesus Cristo e da total aplicação do Seu ensinamento à nossa vida. Jesus torna-se o modelo para as nossas acções, para a nossa vida. Começamos a ver as coisas à Sua maneira.

4. A oração transforma a nossa vida individual e a vida do mundo. Quando vós, rapazes e moças, encontrais Cristo na oração, quando vos pondes em contacto com o Evangelho e reflectis sobre ele em relação com as vossas esperanças e os vossos projectos para o futuro, então todas as coisas se tornam novas. Tudo se torna diferente quando começais a examinar na oração os acontecimentos de cada dia, segundo o plano de valores que Jesus ensinou. Estes valores estão assim formulados nas Bem-aventuranças: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque encontrarão misericórdia. - Bem-aventurados os pobres de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus" (Mt 5, 7-9).

Na oração, unidos a Jesus — vosso Irmão, vosso Amigo, vosso Salvador e vosso Deus — começais a respirar uma atmosfera nova. Concebeis novos objectivos e novos ideais. Sim, em Cristo começais a compreender-vos a vós mesmos mais plenamente. Isto é o que o Concílio Vaticano II desejava sublinhar quando declarava: "Na realidade só no mistério do Verbo encarnado encontra verdadeira luz o mistério do homem" (Gaudium et spes, 22). Por outras palavras, Cristo não só revela Deus ao homem, mas revela o homem a si mesmo. Em Cristo nós recolhemos o segredo da nossa mesma humanidade.

5. Mas há mais. Através da oração chegais a experimentar a verdade que Jesus ensinou: "As palavras que vos disse são espírito e vida" (Jo 6, 63). Em Jesus, encontrado na oração, as vossas aspirações à justiça e as vossas aspirações à paz tornam-se mais definitivas e traduzem-se na busca de aplicações práticas. Mantendo-vos em contacto com o Príncipe da Paz, compreendeis como se opõem à Sua mensagem a violência e o terrorismo, o ódio e a guerra. N'Ele experimentais todo o significado que tem uma relação interpessoal baseada no amor generoso. Cristo oferece-vos uma amizade que não engana, uma fidelidade que não teme confrontos. '

6. Mantendo-vos unidos a Jesus na oração, adquiris um sentido da missão que nada pode embaciar, A vossa identidade cristã fortifica-se, e o significado da vossa vida está para sempre ligado à missão salvadora de Cristo. Através da oração, as obrigações do vosso Baptismo e da Confirmação tornam-se para vós uma necessidade premente. Compreendeis estar chamados a difundir a mensagem da salvação trazida por Cristo (cf. Apostolicam actuositatem, 3).

Em união com Jesus, na oração, descobrireis mais plenamente as necessidades dos vossos irmãos e irmãs. Podereis ter uma percepção mais aguda da dor e do sofrimento que pesam sobre o coração de inúmeras pessoas. Através da oração, especialmente unindo-vos a Jesus na Comunhão, compreendereis muitas coisas sobre o mundo em si mesmo e na relação dele com Jesus, e estareis em condição de ler correctamente de que realidades se trata quando se fala de "sinais dos tempos". Sobretudo, tereis alguma coisa para oferecer àqueles que vêm ter convosco na necessidade. Através da oração possuireis Cristo e podereis comunicá-lo aos outros. Este é o maior contributo que podeis oferecer na vossa vida: comunicar Cristo ao mundo.

7.Através da oração recebereis a força de resistir ao espírito do mundo. Recebereis a capacidade de mostrar compaixão a qualquer ser humano, como Jesus mesmo fez. Através da oração tereis parte na história da salvação, como ela decorre na vossa época. Graças à oração, podereis entrar no coração de Jesus e compreender os Seus sentimentos para com a Igreja. Servindo-vos dos Salmos — o livro de oração que Jesus mesmo usou — podereis repetir, sob a acção do Espírito Santo, a oração de louvor e acção de graças que, pelos séculos, foi oferecida a Deus pelo Seu povo. Em todos os acontecimentos da vossa vida, encontrareis que Jesus está convosco: Ele está perto de vós. A oração trará alegria à vossa vida e ajudar-vos-á a vencer os obstáculos que se opõem a uma vida cristã. Recordai-vos das palavras de São Tiago: "Quem no meio de vós está aflito, entregue-se à oração" (Tg 5, 13).

8.Meus caros jovens, é fácil ver porque diz Cristo que oremos a todo o momento, e porque tanto insistiu São Paulo nisso mesmo (cf. Lc 21, 36; Rom 12, 12; 1 Tess 5, 7). É, em última análise, na oração que Deus nos introduz na união com Ele, através de Nosso Senhor Jesus Cristo, Seu Filho, que vive e reina com Ele e com o Espírito Santo nos séculos dos séculos.

Quando vos aproximardes de Jesus na oração — e por meio d'Ele do Pai — encontrareis sempre inspiração em Maria, Sua Mãe. Com todas as gerações de discípulos, aprendereis a orar com ela, e com ela a esperar a acção do Espírito Santo na vossa vida (cf. Act 1, 14).

É minha esperança hoje, voltando a Roma, que recordareis porque vim ao meio de vós. Enquanto se conservar memória desta visita, oxalá se recorde que eu, João Paulo II, vim à Grã-Bretanha para chamar-vos a ir a Cristo, para vos convidar a orar!

Caros jovens, isto explica porque, na Igreja de hoje, vós sois a esperança de amanhã. Por isso vos exorto, com as palavras de São Paulo: "Orai incessantemente em união com o Espírito... também por mim, para que me seja dado anunciar corajosamente o mistério do Evangelho... e eu possa anunciá-lo com franqueza como é meu dever. ... A graça esteja com todos, os que amam Nosso Senhor Jesus Cristo, com amor inalterável" (Ef 6, 18-20, 24). Amém.

 



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