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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
 AOS PEREGRINOS DA ARQUIDIOCESE DE FÓGIA,
 E DIOCESES DE BOVINO E TRÓIA

Sábado, 22 de Maio de 2011

 

1. Sinto-me particularmente feliz, amadíssimos fiéis da arquidiocese de Fógia e das dioceses-irmãs de Bovino e de Tróia, ao receber-vos hoje numa audiência especial, que quer assinalar, nas vossas intenções, uma peregrinação de afecto à Sé Apostólica de Pedro e, ao mesmo tempo, um ponto culminante das celebrações centenárias em honra de "Nossa Senhora dos Sete Véus".

De tal iniciativa, inspirada por viva fé e profunda piedade, alegro-me sinceramente, ao retribuir de coração as devotas palavras de homenagem que me dirigistes por intermédio do vosso Pastor D. Salvatore De Giorgi. Desejaria saudar, além do Arcebispo e do Bispo Auxiliar, cada um de vós: mas sois tão numerosos que não me é possível fazê-lo. Todavia, saiba cada um de vós que não só está compreendido na saudação, mas também e sobretudo é pessoalmente agradecido, seja pela homenagem desta visita, seja pelos sentimentos tão nobres e dignos que a determinaram.

2. Vós sois uma representação importante e significativa da Igreja de Deus, que existe e vive na vossa Região. Embora a sede de Fógia quanto à sua erecção canónica remonte somente ao século passado, antiquíssima é a presença cristã na Terra da Apúlia Daunia, como testemunham, entre outras, as históricas sedes de Bovino e de Tróia. Lugares e vestígios, acontecimentos e templos, pessoas e instituições constituem, no meio de vós, válido testemunho de fidelidade à tradição dos antepassados e, portanto, de permanência e de progresso na fé católica. A prova disto?

Se tal fosse necessário, bastaria apenas a referência à profundidade da devoção mariana, que é também um dos motivos que vos conduziram até aqui. De volta da visita pastoral ao Santuário de Fátima, onde pela graça do Senhor pude viver intensa experiência de vida eclesial, não posso deixar de reevocar também diante de vós, na circunstância deste encontro, a força do vínculo que subsiste entre uma recta e arraigada veneração para com a santa Mãe de Deus e a coerência e a clareza da profissão cristã. Quem é integralmente fiel a Cristo é do mesmo modo fiel também a Maria sua Mãe. A adesão a Cristo inclina-o, diria "naturalmente", quase por movimento espontâneo a reconhecer e a considerar a Mãe de Cristo também como a própria Mãe (cf. Jo 19, 25-27).

Sinto-me bem feliz por reconhecer como o intenso e comovido culto, com que vos sentis ligados a Maria Santíssima, venerada sob o misterioso título de "Nossa Senhora dos Sete Véus", entra de novo nesta ordem de ideias e confirma o mencionado relacionamento entre devoção mariana e cristianismo vivido.

3. Muito oportunamente o Concílio Vaticano II, na Constituição Lumen gentium, ilustrou alguns pontos fundamentais do que a Igreja crê e professa quanto à dignidade e à missão da Mãe de Deus, à qual dedicou um inteiro capítulo. Este, desde o título, recorda-nos qual é a função da Bem-aventurada Virgem no mistério de Cristo e da Igreja, função que, iniciada desde o primeiro instante da imaculada conceição, encontra os seus "momentos fortes" no fiat por Ela pronunciado no momento do anúncio do Anjo e no stabat expressivo da sua intencional presença no monte Calvário, para continuar ainda hoje, do céu, numa corrente de misericórdia e de graça.

"A sublime Mãe do Redentor, singularmente mais que ninguém Sua generosa companheira (...), sofrendo com o seu Filho que morria na cruz, cooperou de maneira inteiramente singular na obra do Salvador" ( Lumen gentium, 61).

Ora, ao reevocar a realidade e a actualidade de uma tal função materna, o Concilio não quis propor ou apresentar de novo apenas uma lição de conteúdo teológico-doutrinal, mas preocupou-se também em alimentar e corroborar com ela a piedade dos fiéis. É, portanto, justo e corresponde ao ensinamento autêntico do Magistério contemplar constantemente Maria nesta sua essencial conexão com Jesus Redentor, a quem deu a humana carne e não só prestou mas continua a prestar uma arcana colaboração na edificação da sua Igreja.

Eu não duvido, caros fiéis das Igrejas da Capitanata, que vós, vindos a Roma no quadro das mencionadas celebrações marianas, sabereis e desejareis inspirar nestes elevados ensinamentos a devoção e o afecto que vos unem a Maria Santíssima. Fazei que um tal culto vos seja caminho fácil e seguro para ir a Cristo, demonstrando assim uma vez mais a validade do enunciado "Ad Iesum per Mariam!". Fazei que a confirmada adesão a Cristo, propiciada por Maria, vos torne membros vivos e operantes dentro do seu corpo, que é a Igreja (cf. Col 1, 24). Numa palavra, estais também vós, contemplando e imitando Maria, exemplarmente presentes no mistério de Cristo e da Igreja.

4. Sei que este ano um vosso ilustre Conterrâneo, o Cardeal Pietro Parente, em resposta ao convite para participar nas celebrações em curso na vossa Cidade, dirigiu-vos uma mensagem mariana, ilustrando o significado da sagrada efígie da Virgem, que está indissoluvelmente ligada à origem e à história de Fógia. Sei também que em seu lugar veio para junto de vós, no encerramento do Congresso Mariano Diocesano, o Cardeal Péricle Felici, que foi acometido de mal súbito , após vos ter falado e logo faleceu, deixando uma mensagem de significativa ressonância. Ao lado destas autorizadas vozes, não posso deixar de recordar o especial itinerário pedagógico-pastoral, que o vosso Arcebispo, retomando o programa do seu saudoso predecessor, D. Giuseppe Lenotti, delineou não só para a Comunidade diocesana em geral, mas também para cada uma das Paróquias e para todas as famílias. É um itinerário que, secundando a data jubilar da Sagrada Imagem, ou Iconevétero, dispôs numerosas iniciativas particulares, entre as quais patenteiam-se a "peregrinação" do próprio ícone em cada uma das localidades, várias formas de catequese e numerosos cursos de Missões populares com a finalidade de desenvolver, a diversos níveis, a vida de fé e de comunhão.

Seja-me consentido, portanto, um fervoroso augúrio, a fim de que as referidas iniciativas, empreendidas no nome de Maria Santíssima, consigam pelo seu materno socorro, como pela generosidade da vossa resposta, os esperados frutos de bem.

Há dois anos, desde a constituição de uma nova província eclesiástica na vossa Terra, a sede de Fógia foi elevada ao grau e à dignidade de Igreja Metropolitana (cf. AAS 71, 1979, pp. 563-564). Foi, aquele, um devido reconhecimento, também em relação ao crescimento urbano e social que há tempo a Cidade já registrara no mais vasto contexto regional e nacional. Mas, como toda a honra, o mencionado título é também um ónus: será, por conseguinte, dever tanto para o povo cristão quanto para o Pastor e para os Sacerdotes seus colaboradores, fazer que a atribuição do mais alto ofício canónico encontre correspondência e confirmação num feliz incremento da vida religiosa e moral, evangelicamente inspirada e exemplar para os fiéis das Igrejas sufragâneas.

Dentro de pouco procederei, segundo o voto manifestado a mim de maneira tão amável, a coroação da sagrada Imagem de "Nossa Senhora dos Sete Véus". Também este gesto, que quer ser um acto de reparação pelo doloroso acontecimento de Março de 1977, pode sugerir um mais forte e consciente empenho de fé e de amor. Ao colocar a nova coroa de ouro sobre a cabeça da Virgem Santa, cada um, em espiritual comunhão comigo e com os irmãos, renove a sua consagração a Maria e queira ao mesmo tempo suplicar-Lhe, por Ela guiado, seja unido e se mantenha sempre unido ao Senhor Jesus com a fidelidade do verdadeiro discípulo, com o afecto do verdadeiro irmão. Assim seja.

 

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