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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR NUÑO AGUIRRE DE CÁRCER Y LÓPEZ DE SEGREDO
 NOVO EMBAIXADOR DA ESPANHA
 JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

Quinta-feira, 5 de Maio de 1983

 

Senhor Embaixador

1. Desejo agradecer-lhe antes de tudo as nobres expressões com que, ao recordar a missão levada a cabo com tão alta competência pelo seu predecessor, manifesta o propósito de consagrar os melhores desvelos para alcançar os objectivos nos quais o seu País e a Santa Sé encontram um amplo campo de mútua colaboração.

Este momento, em que Vossa Excelência apresenta as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Espanha junto da Santa Sé, adquire um singular significado. Pois a Nação espanhola tem títulos especiais vinculados com esta Sé Apostólica, não só no que se refere à sua história interna, mas que encontram a sua projecção nesses vincos profundos que ela deixou em terras do Extremo Oriente, da África e particularmente da América Latina. Vínculos que tão claramente fui descobrindo ao longo das minhas viagens apostólicas.

Um novo marco nessa vinculação entre o catolicismo de um povo e este centro da Igreja foi assinalado pela minha inesquecível visita à Espanha, no final do ano passado, no IV Centenário da morte de Santa Teresa de Ávila. Viagem que queria ser uma homenagem aos profundos valores dos católicos espanhóis, um alento no seu caminho, um reconhecimento pelas suas valiosas realizações e um olhar para o presente e o futuro da Igreja na Espanha.

2. A sociedade espanhola, não menos que outras, experimentou nos últimos lustros não poucas transformações, que se repercutem nos mais variados campos. Ela quer caminhar para metas de cada vez melhor convivência cívica entre os diversos sectores, dentro de uma abertura maior às sãs aspirações de cada pessoa, grupo social e povo, contribuindo para um ideal de vida no qual se busque o bem de todos, embora partindo da legítima diversidade de visão de certas realidades.

Isto implica preservar plenamente a liberdade como direito sagrado e indispensável. Mas ao mesmo tempo inclui a harmonização da justa liberdade própria com a alheia; do próprio direito com o do outro, subordinando-os às exigências certas do bem comum; do equilíbrio entre a necessária busca do progresso material, com o respeito das bases éticas de toda a sociedade verdadeiramente humana e com a salvaguarda das convicções pessoais, inclusive as morais e religiosas, juntamente com as suas evidentes repercussões na vida social, sem as quais aquelas permaneceriam ineficientes. E tudo isto num clima de respeito às premissas da verdadeira democracia, que supõe a constante referência aos valores e justos desejos dos cidadãos, meta de todo o serviço social, para que seja garantida a legítima expressão dos seus direitos em cada momento.

3. A Espanha pode sentir-se justamente orgulhosa de tantas metas alcançadas na sua história e de tantas realizações em campo cultural, que a abriram para o universal.

Mas é um facto que as suas melhores conquistas estavam informadas por uma ideia de serviço ao homem integral, nas suas vertentes humana e espiritual, na sua dimensão nacional e universal. Em torno desta concepção de homem e da cultura, a Espanha constituiu-se em si mesma e contribuiu poderosamente para o nascimento da Europa e para o bem da humanidade. Sem isto não pode compreender-se o profundo valor da sua cultura, tal como negá-lo seria renunciar a uma parte essencial da própria identidade e às melhores criações da alma do seu povo.

Ao render esta merecida homenagem ao seu País, Senhor Embaixador, desejo expressar a convicção de que também no presente e no futuro se saberão preservar essas essências, esse humanismo de característica nitidamente hispânica, que projectem este povo para metas superiores, e que, purificando eventuais lacunas ou erros, o levem a uma integração maior dos valores verdadeiramente humanos com os espirituais. Sem que nunca se insinuem posicionamentos que possam empobrecer a riqueza interior de um povo.

4. A Igreja na Espanha e a Santa Sé desejam continuar a colaborar, enquanto lhes é possível, em tudo aquilo que contribua para o bem da sociedade espanhola e consolide esses fundamentos de moralidade e solidariedade que brotam de uma recta consciência, e que estão na base de toda a convivência pacífica e de todo o justo e equitativo comportamento social. Elas ao mesmo tempo esperam poder encontrar, por parte das Autoridades da Nação, os caminhos apropriados para desempenhar a sua missão nesse recíproco espírito.

Vossa Excelência mencionou em concreto o campo do ensino como um dos susceptíveis de mútua e eficaz cooperação. E, de facto, a Igreja atribui ao mesmo uma grande importância para a formação das jovens gerações. Por isso proclama o direito dos pais de família a escolherem a educação religiosa, moral e humana que corresponde às suas próprias convicções e a exercerem-no em igualdade de condições, independentemente do tipo de centro escolhido para a educação dos seus filhos.

Nisto a Igreja vê uma exigência do direito que assiste os pais de família, e também de aplicação das implicações da verdadeira democracia; e ademais, do principio da liberdade religiosa comummente reconhecido. Afinal, tudo o que serve para consolidar a paz social, a convivência no justo pluralismo e o papel insubstituível e irrenunciável da família na comunidade civil.

Precisamente por este motivo tão importantes são os diversos campos em que se toca de um modo ou de outro a realidade familiar, como os da sua coesão e tutela, do respeito à nova vida que nasce no seio da mesma, a promoção e formação das pessoas, a convivência das gerações. Aspectos, entre outros, nos quais não quero insistir, pois já me referi a eles demoradamente no meu encontro de Madrid com as famílias espanholas.

5. Senhor Embaixador: tem início hoje a sua nova e alta missão, que desde já lhe desejo muito fecunda e feliz. Saiba que no cumprimento da mesma poderá contar com o meu benévolo acolhimento e com o espírito de sincera colaboração por parte da Santa Sé.

Antes de concluir, quero pedir a Vossa Excelência agradeça a Sua Majestade o Rei as significativas expressões que me enviou, assegurando-Lhe a minha respeitosa e cordial recordação, que faço extensiva à Família Real.

Ao invocar a protecção divina, a paz, solidariedade e bem-estar sobre todo o querido povo espanhol e as suas Autoridades, é-me grato conceder a Vossa Excelência, aos seus colaboradores e familiares a Bênção Apostólica.

 

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