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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO NOVO EMBAIXADOR DO SENEGAL JUNTO DA SANTA SÉ
POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

9 de Janeiro de 1984

 

Senhor Embaixador

Sinto-me profundamente sensibilizado pelos elevados e calorosos propósitos que acaba de exprimir ao iniciar as suas funções como Embaixador do Senegal junto da Santa Sé. Agradeço as suas palavras com as quais se fez intérprete dos sentimentos de Sua Excelência o Presidente Abdou Diouf, do seu Governo, e de todos os seus compatriotas, em particular dos cristãos cuja fé compartilha. O Senegal, como Vossa Excelência acentuou, tem já uma longa tradição de relações diplomáticas com a Santa Sé, as quais atribuiu desde sempre uma grande importância, tanto para a vida tranquila da comunidade católica do país, como para a promoção da paz nas relações internacionais. Ocupa assim Vossa Excelência um lugar na sucessão dos Embaixadores que tem honrado o Senegal; e não é sem emoção que evocamos a memória do Dr. Paul Ndiaye que, ainda no ano passado, consagrava todos os seus talentos a desempenhar a alta função que hoje lhe é confiada.

A Igreja Católica constitui, no Senegal, uma minoria que ganhou a estima de todos pela sua vitalidade, pela sua abertura, e pela sua disponibilidade para o serviço do país. No espaço de um século, o anúncio do Evangelho produziu frutos apreciáveis, e a fé integrou-se harmoniosamente na alma dos Senegaleses, bem como na sua vida cultural e social. Na medida das suas possibilidades, e com a justa compreensão das Autoridades civis, a comunidade cristã participa de boa vontade na obra da educação, da formação moral e espiritual, dos cuidados sanitários e do desenvolvimento. As suas habituais relações de confiança com o sucessor de Pedro, tal como se verifica, por exemplo, com a presença do caro Cardeal Hyacinthe Thiandoum como membro do Sacro Colégio, favorecem não apenas a fidelidade da sua fé, mas também a sua abertura à Igreja universal e a sua solidariedade com os outros povos, especialmente em África.

A comunidade católica é respeitada pelo espírito religioso dos demais Senegaleses, em particular por aqueles, muito numerosos, que vivem segundo o Islão. Como Vossa Excelência acentuou, o Concílio Vaticano II favoreceu de modo notável este espírito de diálogo, sem que isso implique naturalmente uma alteração indevida em tudo quanto se refere a Revelação. E devo dizer que a Igreja aprecia igualmente a atitude de tolerância demonstrada no seu país pelas comunidades muçulmanas. Constitui sem dúvida um grande mérito Autoridade pública manter um igual respeito pelas confissões religiosas, evitando ao mesmo tempo tanto a indiferença como os privilégios que se converteriam em prejuízo para alguns. A Santa Sé espera firmemente que esta situação continue e permaneça um exemplo de convívio sereno que é, afinal, benéfico para o Próprio país.

Há um outro elemento que a opinião pública nota com satisfação no seu país: é o seu apego à democracia, com a livre expressão dos cidadãos na eleição daqueles que devem assumir a responsabilidade da administração pública. Na medida em que isso garante ao mesmo tempo a unidade de todos na prossecução do bem comum, uma paz social justa, a preocupação pelas pessoas e pelos grupos mais desfavorecidos, o respeito pelas liberdades fundamentais e pela dignidade humana, a Igreja não pode deixar de se alegrar, bem sabendo que este caminho, hoje tão difícil, semeado de insídias e de tentações, necessita ser encorajado e defendido contra os totalitarismos de todo o género.

A Santa Sé tem naturalmente consciência das dificuldades que o Senegal deve enfrentar para promover o seu desenvolvimento económico e social, sobretudo para ultrapassar a trágica situação de que é vitima, especialmente em certas regiões, como consequência da crise económica geral, da desigualdade das trocas comerciais, e, de modo particular, da seca que atinge duramente os países do Sahel. O seu país, como sabe, encontrará sempre na Igreja a compreensão e o apoio necessários para que se tome consciência destas necessidades, para que se eduque antes de mais para o sentido da justiça, para que se encoraje uma melhor repartição dos bens, e se estimule uma solidariedade real e eficaz, insistindo no problema fundamental da fome, para cuja resolução ela deseja dar o seu próprio contributo. Ao mesmo tempo, nós sabemos que nem só de pão vive o homem. O desenvolvimento dos valores culturais próprios, no contexto das tradições africanas, faz igualmente parte do seu bem-estar e da sua dignidade. Ele deve evitar sobretudo reduzir a sua ambição ao progresso material, sem atender ao mesmo tempo a qualidade da sua relação com Deus e com as seus semelhantes, de acordo com uma ética exigente que constitui o autêntico valor de uma civilização assegura o seu verdadeiro progresso. Na Igreja, Senhor Embaixador, encontrará sempre uma preocupação constante por esta promoção integral do homem.

O Corpo Diplomático junto da Santa Sé, do qual faz agora parte, reúne os diplomatas de numerosos países. Ele recorda, se tal fosse necessário, que a paz não pode ser consolida senão desenvolvendo o respeito, concórdia e a solidariedade a nível internacional, entre as diversas nações e grupos de nações. Sei que Senegal tem um grande desejo paz. Que ele possa contribuir para fazer prevalecer o bom senso, a justiça, as soluções negociadas e honrosas dos conflitos que surgem entre os países de continente africano! Igreja trabalha, por seu lado, para renovar o coração dos homens de modo a que a paz seja possível. Este "coração" é também o espírito que inspira o pensamento dos responsáveis políticos e as relações internacionais.

Eis, pois, Senhor Embaixador, algumas preocupações em relação às quais a Santa Sé e o Senegal se devem facilmente encontrar e colaborar. Estou certo de que, encorajamento pelo acolhimento que aqui encontrará, saberá manter o bom nível destas relações no interesse de todos. Formulo os melhores votos para desempenho da sua missão, e peço-lhe que exprima a minha gratidão a minha cordial saudação àquele que preside aos destinos do seu país que lhe confiou estas Cartas Credenciais. Que o Altíssimo inspire os seus Governantes na sua tarefa tão exigente, e abençoe todos os Senegaleses!

 



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