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MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II
 AOS PARTICIPANTES NUM CONGRESSO
 SOBRE A EDUCAÇÃO PRÉ-NATAL

 

 

Ilustres Senhores
Gentis Senhoras! 

1. Sinto-me feliz em vos acolher por ocasião do Congresso sobre os «Fundamentos Biológicos e Psicológicos da Educação Pré-natal», no qual participais. Dirijo a cada um de vós a minha cordial saudação, com um particular pensamento de apreço aos promotores do encontro, entre os quais os responsáveis do «Movimento pela Vida», admirável iniciativa de espíritos generosos, que ao longo destes anos foi recolhendo crescentes consentimentos. 

É confortador encontrar no actual panorama científico numerosos pesquisadores que, reconhecendo a plena dignidade do nascituro, exploram as vias de uma nova disciplina, a educação pré-natal. Esta é uma maravilhosa e meritória pesquisa: inclinar-se diante do filho que ainda se encontra no seio materno, não só para constatar e observar o seu crescimento físico e ouvir o coração da criança, mas também para investigar as suas emoções e registar os sinais de desenvolvimento da sua psique. Nesta investigação há um implícito tributo de respeito à pessoa, na qual já palpita o espírito imortal e se manifesta a imagem do Criador. 

2. É justo que a criança seja posta no centro da atenção das ciências humanas, e não só das biológicas, desde o início do seu caminho temporal no seio materno. Por conseguinte, queridos Congressistas, o vosso empenho tem sem dúvida um valor no âmbito das ciências experimentais, mas tem tam- bém um significado antropológico e moral. O vosso interesse, de facto, superando o mero organicismo e a consideração dos aspectos físico-funcionais, que conservam contudo a sua importância, dirige-se ao interior do novo ser, que vive no seio materno. 

A vossa óptica é, por assim dizer, perspéctica: tendes em conta o sucessivo desenvolvimento da criança – a sua infância, a adolescência, a idade adulta – para captar as conexões psicológicas que existem entre aquelas fases da existência e os seus inícios no seio materno, e para sugerir aos pais o comportamento mais apropriado a fim de garantir o harmónico princípio do processo. 

A história do indivíduo, depois do nascimento, depende sem dúvida dos cuidados físicos e médicos que recebe. Mas grande influência sobre ela exercem também a serenidade, a intensidade e a riqueza das emoções sentidas durante a vida pré-natal. Esta linha de investigação pré-natal deve ser, por conseguinte, considerada da maior importância. 

Nesta perspectiva, é de igual modo fundamental relevar a conexão que existe entre o desenvolvimento da psicologia do nascituro e o contexto da vida familiar que se move em seu redor. A harmonia dos cônjuges, o calor do lar, a serenidade da vida quotidiana repercutem-se na sua psicologia, favorecendo o seu desabrochar harmonioso: não são apenas os genes que transmitem as características hereditárias dos pais, mas também as repercussões das suas vicissitudes espirituais e emocionais. 

3. É bom constatar que a medicina e a psicologia, com os seus respectivos recursos, podem pôr-se ao serviço da vida do nascituro e do seu progressivo desenvolvimento. Enquanto algumas orientações de pesquisa e de intervenção experimental, hoje, correm o risco de esquecer o mistério da pessoa presente na vida que desabrocha no seio da mãe, vós propondes-vos desenvolver os vossos estudos partindo deste pressuposto. De facto, sabeis que a desventura mais grave para a humanidade é perder o significado do valor da vida humana desde o seu exórdio. 

Conhecer a vida em cada uma das suas dimensões, a fim de a respeitar e promover em todo o seu desenvolvimento e mistério: eis o horizonte que vos guia e que hoje desejais reconfirmar diante do Sucessor de Pedro. Neste contexto, faço votos por que todos os que se ocupam da distribuição dos meios económicos destinados à investigação, saibam distinguir entre programas que defendem a vida e programas que ofendem a sua integridade ou lhe comprometem a existência. 

Compete em particular aos investigadores católicos a tarefa de fazer convergir os seus esforços para os objectivos mais nobres que a ciência pode servir. A este respeito, escrevi na Carta Encíclica Evangelium vitae: «Também os intelectuais muito podem fazer para construir uma nova cultura da vida humana. Responsabilidade particular cabe aos intelectuais católicos, chamados a estarem activamente presentes nas sedes privilegiadas da elaboração cultural, ou seja, no mundo da escola e das universidades, nos ambientes da investigação científica e técnica, nos lugares da criação artística e da reflexão humanista» (n. 98). 

4. Renovo aos crentes o convite a colaborar com ânimo aberto com os colegas do mundo científico, a fim de desenvolver a pesquisa sobre os componentes físicos, psicológicos e espirituais da vida humana desde o seu alvorecer. Qualquer pessoa que seja sensível à defesa e à promoção da vida, sobretudo se é frágil e indefesa, não pode contentar-se da proclamação, mesmo se é justa e sacrossanta, do direito à vida, mas deve sentir-se empenhada na elaboração de uma cultura cientificamente fundada «através da produção de contributos sérios, documentados e capazes de se imporem pelos seus méritos ao respeito e interesse de todos» (Ibidem).

Em conclusão, a vitória será da verdade, porque Deus está do seu lado. Não é Ele porventura o Deus da verdade e o Senhor da vida? 

Por conseguinte, exorto-vos a continuar os vossos estudos com rigor exemplar. O Senhor não deixará de vos acompanhar com a sua graça no trabalho quotidiano, que dedicais ao serviço dum futuro melhor e cheio de vida. 

Com estes votos, ao invocar sobre vós e as vossas actividades a protecção da Virgem Maria, Sede da Sabedoria e Mãe do Verbo Encarnado, concedo-vos de coração a minha Bênção apostólica.

 

Vaticano, 20 de Março de 1998.

 

 



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