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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO NOVO EMBAIXADOR DE SINGAPURA
JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DA CARTAS CREDENCIAIS

Quinta-feira, 16 de Dezembro de 1999

 

Senhor Embaixador

É com grande prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e recebo as Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Singapura junto da Santa Sé. Peço-lhe que transmita as minhas cordiais saudações ao Presidente, Sua Excelência o Senhor S. R. Nathan e ao Governo, assegurando-os das minhas preces pela paz e bem-estar do povo de Singapura.

Enquanto se prepara para entrar num novo milénio, a comunidade internacional enfrenta muitos desafios. Vossa Excelência mencionou a necessidade de um profundo compromisso em prol da paz, de forma particular perante os conflitos que nascem devido às diferenças de raça ou religião.

A este respeito, o seu país tem um significativo papel a desempenhar na sua região, considerando a sua longa experiência da harmoniosa coexistência de uma variedade de culturas e de tradições religiosas, uma característica que me impressionou profundamente durante a minha breve visita ao seu país, em 1986.

As boas relações entre os crentes das várias religiões no seu país certificam a verdade segundo a qual o respeito e a estima recíprocos constituem uma condição essencial para a promoção e a consolidação da harmonia social. Durante a minha visita a Singapura, dei voz a esta convicção no Estádio Nacional: "A verdadeira paz começa na mente e no coração, na vontade e na alma da pessoa humana, porque ela provém do amor genuíno pelos outros. É sem dúvida verdade dizer que a paz é o resultado do amor, quando os homens conscientemente decidem melhorar as suas relações com os outros, fazer todo o esforço para superar as divisões e as incompreensões e, se possível, até mesmo tornar-se amigos" (Homilia proferida a 20 de Novembro de 1986, ed. port. de L'Osservatore Romano de 23 de Novembro de 1986, n. 8, pág. 9). Como seriam diferentes os relacionamentos entre as nações e os grupos na sociedade, se cada um se empenhasse pessoalmente desta forma em benefício da paz!

Uma apreciada característica das relações internacionais nos últimos tempos é a crescente solicitude em assegurar o desenvolvimento das sociedades mais pobres através da assistência financeira e técnica, bem como de outros programas destinados a promover um espírito de iniciativa económica a nível local. A este propósito, a Santa Sé tem procurado muitas vezes chamar a atenção para o ónus da dívida externa, que compromete a economia de inteiros povos e impede o seu progresso social e político. Enquanto as instituições financeiras internacionais têm feito sérias tentativas de garantir uma redução coordenada da dívida, a contínua cooperação entre as nações mais ricas e mais pobres é necessária para que as sociedades mais frágeis possam desenvolver o seu pleno potencial.

A desenvolvida economia do seu país coloca-o em condições de servir de grande ajuda aos outros países do Sudeste asiático, mediante várias formas de cooperação e assistência. Este auxílio constitui uma expressão concreta do crescente sentido de interdependência entre as nações, e da necessidade de promover uma maior solidariedade a nível internacional. Formulo votos por que as iniciativas conjuntas entre Singapura e a Santa Sé continuem a crescer e a expandir-se, e peço-lhe que transmita o meu agradecimento ao seu governo por aquilo que ele já ajudou a realizar através desta cooperação. O compromisso de Singapura nestes programas é um investimento a longo prazo em benefício do progresso das sociedades e culturas do Sudeste da Ásia, e está assente na consciência de que o autêntico desenvolvimento não é simplesmente económico mas deve estar fundado no reconhecimento da dignidade e dos direitos inalienáveis da pessoa humana. O respeito pela dimensão moral essencial e pelos imperativos éticos do desenvolvimento é a chave para o genuíno progresso humano, constituindo o único fundamento viável para um mundo verdadeiramente digno da família humana.

A Igreja prodigaliza-se em prol do desenvolvimento dos povos não porque possui particulares soluções técnicas a oferecer, mas porque tem a responsabilidade de propagar a sua missão religiosa nos vários campos em que os homens e as mulheres procuram alcançar a felicidade sempre relativa que é possível neste mundo, em sintonia com a sua dignidade como pessoas (cf. Sollicitudo rei socialis, 41). Embora a comunidade católica em Singapura seja exígua em número, os seus membros desempenham a própria parte em cooperação com os compatriotas na promoção do bem da sociedade. A este respeito, agradeço-lhe as amáveis palavras de estima pelo trabalho de educação e de formação promovido pela Igreja no seu país. A educação católica possui uma longa tradição de sabedoria pedagógica, de solicitude pelas necessidades das crianças e dos jovens, e de capacidade de antecipar as novas necessidades e problemas que surgem com a mudança dos tempos. Esta tradição faz com que as escolas católicas sejam capazes de oferecer uma contribuição efectiva ao desenvolvimento pessoal dos jovens e ao progresso da nação. Além de oferecer conhecimentos e capacidades técnicas, os educadores católicos estão também empenhados em proporcionar aos seus estudantes um sentido da própria dignidade como pessoas humanas e uma compreensão da sua vocação transcendente. A educação autêntica deve ter sempre em conta a natureza transcendental e o fim derradeiro da pessoa humana, servindo o bem da comunidade social à qual a pessoa pertence; ela deveria constituir uma formação no exercício dos direitos e deveres que o jovem compartilhará quando for adulto.

Senhor Embaixador, formulo-lhe os meus bons votos no início da sua missão e estou persuadido de que mediantes os seus esforços os vínculos de amizade entre Singapura e a Santa Sé serão ulteriormente revigorados. Sobre Vossa Excelência e o querido povo de Singapura, invoco cordiais e abundantes bênçãos do Omnipotente.

 

© Copyright 1999 - Libreria Editrice Vaticana



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