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  DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO NOVO EMBAIXADOR DO IÊMEN
JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO 
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

Quinta-feira, 20 de Maio de 1999

 

Senhor Embaixador 

Ao recebê-lo no Vaticano, na auspiciosa ocasião do início da sua missão como primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Iêmen junto da Santa Sé, é-me grato aceitar as Cartas Credenciais com as quais Vossa Excelência é designado para este cargo. O estabelecimento das plenas relações diplomáticas entre nós propicia um novo nível de contactos que, estou certo disto, há-de levar à compreensão, estima e cooperação cada vez maiores. Estou-lhe grato pelos bons votos que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Presidente Ali Abdullah Salch e do Governo e povo do seu país; pediria que, por sua vez, lhes assegurasse as minhas orações pela paz e pelo bem-estar da nação iemenita.

As suas palavras demonstraram a consciência de que a presença da Santa Sé na comunidade internacional se caracteriza claramente pela natureza religiosa e espiritual da missão da Igreja católica do mundo inteiro. A actividade da Santa Sé tem em vista acima de tudo salvaguardar e promover a dignidade inalienável da pessoa humana, que só pode ser garantida mediante o desenvolvimento integral do indivíduo e através do progresso de todos os povos na paz e na justiça. É precisamente na busca destas importantíssimas finalidades que as estreitas e cordiais relações entre a Santa Sé e os responsáveis pelo bem-estar dos povos do mundo demonstram que são destinadas ao benefício e ao apoio recíprocos.

Vossa Excelência salientou o facto de que, assim como têm havido episódios de animosidade e até mesmo de violência entre cristãos e muçulmanos, também se têm verificado muitas ocasiões em que o respeito, a compreensão e amizade caracterizaram as relações entre os membros destas duas religiões mundiais. Efectivamente, quando é vivida com sinceridade, tanto na teoria como na prática, a convicção religiosa constitui uma segura salvaguarda da dignidade, da fraternidade e da liberdade dos povos, e além disso é um princípio-guia do recto comportamento para se viver juntos na sociedade. Com efeito, um dos grandes desafios que se apresentam à família humana no nosso tempo ainda é precisamente este: aprender a viver juntos em paz, para o benefício mútuo de todos. É com tristeza que devemos reconhecer a persistência no nosso mundo de uma polarização em que determinados grupos étnicos e raciais, certas comunidades religiosas e algumas ideologias económicas e políticas procuram impor sobre os outros o seu próprio modo de ver, a ponto de excluir aqueles que não compartilham a sua perspectiva. É desnecessário dizer que este comportamento implica graves perigos para a paz, pois termina na discriminação, na injustiça, na violência e no insensível desprezo pelos direitos do homem e pela dignidade humana.

Estas situações põem em evidência a importância do diálogo inter-religoso e da cooperação. Hoje há uma grande necessidade de que cristãos e muçulmanos trabalhem juntos a todos os níveis – internacional, nacional e regional – em vista do progresso da humanidade, e sempre no contexto da natureza espiritual do homem (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1992, n. 5). Proclamando a verdade acerca do carácter transcendental do homem, a Igreja insiste no facto de que a busca do homem pelo bem-estar social e temporal e por todo o reconhecimento da sua dignidade como ser humano corresponde às profundas aspirações da sua natureza espiritual. Trabalhar em ordem a promover e defender todos os direitos humanos, inclusivamente o direito fundamental ao culto de Deus segundo os parâmetros de uma consciência recta e à pública profissão da própria fé, deve tornar-se cada vez mais o objectivo da cooperação inter-religiosa. Esta cooperação deve também incluir esforços para eliminar a fome, a pobreza, a ignorância, a perseguição, a discriminação e todos os géneros de escravidão perpetrados contra o espírito humano. A religião é o fundamento de todos os compromissos de uma sociedade na justiça; além disso, os programas e as iniciativas conjuntas por parte das religiões do mundo devem confirmá-lo de maneira concreta.

Aprecio os comentários que Vossa Excelência fez acerca da actividade da Santa Sé em prol do processo de paz no Médio Oriente; esta situação continua a ser uma fonte de grande solicitude para a Igreja e está a ser acompanhada com grandíssima atenção. Infelizmente, o progresso que até agora se alcançou não tem sido regular e não propiciou esperança e segurança aos povos dessa região. De resto, quando as populações são mantidas de forma indefinida num estado entre a guerra e a paz, o perigo da tensão e da violência aumentam enormemente. Tão-pouco pode ficar sem solução a problemática da Cidade Santa de Jerusalém, para a qual cada uma das três grandes religiões monoteístas olham, como segmento do seu património espiritual. As partes interessadas devem enfrentar estes problemas com a subtil consciência das suas próprias responsabilidades. Como eu disse no início deste ano ao Corpo Diplomático credenciado junto da Santa Sé: «O diálogo leal, a solicitude real pelo bem das pessoas e o respeito da ordem internacional são os únicos que podem conduzir a soluções dignas de uma região, nas quais estão arraigadas as nossas tradições religiosas. Se muitas vezes a violência é contagiosa, também a paz pode sê-lo, e estou certo de que um Médio Oriente estável contribuiria de maneira eficaz para dar de novo esperança a muitos povos» (Discurso ao Corpo Diplomático, 11 de Janeiro de 1999).

Senhor Embaixador, a apresentação das suas Cartas Credenciais assinala uma decisiva e nova fase nas relações entre a República do Iêmen e a Santa Sé no nosso compromisso em trabalhar em prol da obtenção de laços mais estreitos e de uma maior compreensão mútua. No momento em que Vossa Excelência inicia a sua missão, pode estar certo da pronta assistência e cooperação dos departamentos da Cúria Romana. Oxalá Deus Omnipotente o auxilie e as bênçãos divinas desçam sobre a sua pessoa e o seu país.

 

© Copyright 1999 - Libreria Editrice Vaticana

 



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