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DISCURSO DO SANTO PADRE AO NOVO
EMBAIXADOR DE GANA
JUNTO À SANTA SÉ

25 de maio de 2000

 

Senhor Embaixador

Dou calorosas boas-vindas a Vossa Excelência no momento em que aceito as Cartas Credenciais mediante as quais é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Gana junto da Santa Sé. A sua presença aqui hoje traz-me à mente as recordações da primeira visita pastoral que, como Sucessor de Pedro, realizei ao continente africano: aquela viagem levou-me ao seu país, onde tive a graça de poder experimentar pessoalmente a hospitalidade, o entusiasmo e as ricas tradições culturais do povo ganense. Com esta viva lembrança à minha frente, estou grato pelas saudações e pelos bons votos que Vossa Excelência me transmitiu da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Jerry John Rawlings. É de bom grado que retribuo estes amáveis sentimentos, enquanto lhe peço que comunique às Autoridades e ao povo de Gana a expressão da minha estima e a certeza das minhas orações pelo bem-estar e a prosperidade do seu país.

A família humana encontra-se no alvorecer de um novo milénio e sente-se enormemente favorecida pelo grandioso progresso que se realizou, de maneira especial nos últimos cem anos, nas áreas social, económica e científica. Contudo, não obstante estes inúmeros desenvolvimentos culturais e tecnológicos, ainda existem importantes sectores da vida contemporânea em que houve pouco progresso ou que até mesmo padecem um certo declínio. Penso de modo especial na urgente necessidade de enfrentar os desafios da desigualdade e da pobreza, com eficazes estruturas de solidariedade e cooperação mundial entre as nações. Como Vossa Excelência quis salientar, há necessidade de reorganizar os relacionamentos económicos internacionais para que, tanto na África como alhures, os menos afortunados possam compartilhar os recursos do mundo de maneira equitativa; e é também preciso promover canais de diálogo, tendo em vista uma resolução pacífica das crises dentro dos países e entre as nações. De maneira muito concreta, a senda que a família das nações e a família dos homens devem percorrer no século XXI é o caminho da solidariedade e da paz.

Com efeito, sem a solidariedade não pode haver uma paz genuína. Como escrevi na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2000, "está destinado à falência qualquer projecto que deixe separados dois direitos indivisíveis:  o direito à paz e o direito a um progresso integral e solidário" (n. 13). Pareceria que chegou o momento de reflectir sobre a natureza da economia tanto nacional como internacional e a finalidade que ela verdadeiramente deveria servir. Portanto, a nível mundial, nas nações abastadas não menos do que nos países em vias de desenvolvimento, deve reconhecer-se que os pobres têm direito aos bens materiais da terra e a renderem de modo apropriado a sua capacidade de trabalhar, "criando assim um mundo mais justo e mais próspero para todos. A elevação dos pobres é uma grande ocasião para o crescimento moral, cultural e até económico da humanidade inteira" (Carta Encíclica Centesimus annus, 28). É necessário reconsiderar "a própria concepção do bem-estar, para que não seja dominada de maneira estrita por uma perspectiva utilitarista, deixando um espaço completamente marginal para valores como a solidariedade e o altruísmo" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2000, n. 15).

Ao mesmo tempo, o século que acaba de terminar ofereceu uma ampla evidência da violência, destruição e morte que são ocasionadas quando os povos e as nações buscam as armas em vez de recorrer ao diálogo, quando a guerra é preferida ao caminho da mútua compreensão e diálogo, que com frequência é uma via mais árdua. Se a paz quiser ser genuína e duradoura, assente nas aspirações legítimas das pessoas e dos grupos sociais, então deve ser procurada num contexto de diálogo: o diálogo em vista da paz não só é possível, mas constitui a única senda digna do homem.

É bastante paradoxal o facto de, após a violência e a devastação da guerra terem sido perpetradas, subsistir a exigência do diálogo; recorrer ao confronto armado jamais resolve os conflitos ou as disputas, mas simplesmente atrasa a sua resolução e sempre com consequências trágicas, como hoje nos é dado testemunhar em várias partes da África. O diálogo autêntico pressupõe uma busca sincera da verdade, do bem e da justiça para cada pessoa, grupo e sociedade; trata-se de um esforço sincero no sentido de identificar aquilo que as pessoas têm em comum, para além das tensões, oposições e conflitos. De resto, o diálogo genuíno está ligado cada vez mais intimamente à solidariedade, enquanto os povos e as nações da terra reconhecem a sua interdependência nos campos da economia, política e cultura (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1983, n. 6).

A Santa Sé participa activamente na arena internacional, de modo específico para promover este diálogo e suscitar tal solidariedade. Como Vossa Excelência observou, a própria Igreja está sinceramente comprometida na causa da paz. Com efeito, o seu divino Fundador confiou-lhe uma missão religiosa e humanitária, diferente da que compete à comunidade internacional, uma presença orientada unicamente para o bem da família humana: a promoção da paz, a salvaguarda da dignidade humana e dos direitos do homem, a acção em prol do desenvolvimento integral dos povos. Este é um dever que deriva necessariamente do Evangelho de Jesus Cristo, e uma responsabilidade compartilhada por todos os cristãos. Por este motivo, a Santa Sé continua a ser uma activa parceira do seu país, enquanto Gana procura incrementar o próprio desenvolvimento político, social e económico e constituir uma força em benefício da estabilidade e da paz, tanto na sua região da África setentrional como no seio da comunidade das nações.

A este propósito, apraz-me observar que Vossa Excelência reconhece a significativa contribuição oferecida pelas Instituições da Igreja católica à sociedade ganense em geral, especialmente nos campos da educação e da assistência médica. Com efeito, a Igreja considera o seu apostolado nestas áreas como um elemento essencial da sua missão religiosa, e sente-se cada vez mais desejosa de desempenhar esta missão em harmonia com os outros, que são activos nestes mesmos campos. A cooperação entre a Igreja e o Estado é de grande importância no desenvolvimento da formação intelectual e moral dos cidadãos, que assim serão melhor preparados para edificar uma sociedade verdadeiramente justa e estável.

Senhor Embaixador, estou persuadido de que a sua missão na Santa Sé há-de fortalecer os vínculos de compreensão e de amizade entre nós. Vossa Excelência pode estar certo de que os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a assisti-lo no cumprimento dos seus excelsos deveres. Sobre Vossa Excelência e o querido povo de Gana, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus todo-poderoso.

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