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 DISCURSO DO SANTO PADRE
AO EMBAIXADOR DA GRÉCIA JUNTO À SANTA SÉ
 POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS
 CARTAS CREDENCIAIS

26 de Maio de 2000

 

 
Senhor Embaixador

É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano, no início da sua missão de Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Helénica junto da Santa Sé. Ao receber as suas Cartas Credenciais, desejo agradecer a Sua Excelência o Senhor Presidente Constantinos Stephanopoulos e aos membros do Governo as saudações e as amáveis expressões de estima que me transmite no nome deles.

Apraz-me observar a determinação com que Vossa Excelência promove as nossas relações bilaterais, num espírito de compreensão e respeito recíprocos. Asseguro-lhe que a Santa Sé não está comprometida em menor medida nos próprios esforços neste mesmo sentido. Estou-lhe outrossim grato pelas suas palavras de apreço pela actividade diplomática da Santa Sé, mediante a qual ela procura prestar um serviço deveras especial em prol da família humana. Trata-se de um serviço motivado não por qualquer interesse nacional, e tão-pouco por pontos de vista estritamente institucionais ou confessionais, mas pela solicitude amorosa em relação ao bem comum de todos os povos e nações. Hoje em dia, a diplomacia deve enfrentar também os desafios apresentados pela globalização, em ordem a superar as ameaças à paz e ao desenvolvimento, como por exemplo a pobreza de inúmeros seres humanos, as desigualdades sociais, as tensões étnicas, a poluição do meio ambiente e o respeito pelos direitos do homem e pela liberdade política. Estas são as principais ameaças contra a estabilidade, problemáticas que a diplomacia deve abordar.

Os esforços em vista de resolver estas questões irão a pique, a não ser que estejam assentes num critério objectivo de responsabilidade moral. O esforço que visa o estabelecimento de um tribunal internacional de justiça para os crimes contra a humanidade constitui uma expressão da exigência de tal critério no âmbito da opinião pública internacional. Contudo, ironicamente, em muitos casos a exigência de um critério objectivo de responsabilidade moral é acompanhada da difusão de uma abordagem relativista da verdade, que com efeito nega qualquer critério objectivo do bem e do mal. A raiz deste dilema, com as suas graves consequências para a vida da sociedade, é a tendência a exaltar a autonomia individual em desvantagem dos vínculos que nos unem e nos fazem responsáveis uns pelos outros. A sociedade tem necessidade de uma visão coerente que abarque tanto a dignidade como os direitos inalienáveis de cada indivíduo, de maneira especial os mais frágeis e mais vulneráveis, e uma consciência clarividente dos valores e relações fundamentais que, em última análise, constituem o bem comum (cf. Centesimus annus, 47). Esta é a visão que a Santa Sé procura promover através da sua actividade diplomática.

No contexto europeu, esta visão é particularmente importante neste período em que se verifica um novo impulso rumo à unidade a vários níveis. Contudo, o ímpeto em vista da unidade económica e política não obterá bom êxito, sem aquilo a que Vossa Excelência chamou edificação espiritual da Europa. Qualquer compromisso inferior a uma união assente nos valores morais e espirituais seria indigno das profundíssimas raízes e conquistas europeias, para as quais o seu próprio país contribuiu em grande medida. A cultura helénica que a Cristandade encontrou nos seus primeiros séculos demonstrou que era o solo rico no qual a semente do Evangelho se haveria de radicar e florescer, de maneira a enaltecer o espírito humano a elevados níveis de pensamento e acção.

Ainda no nosso tempo, a cultura grega constitui um elemento vital para a formação da sociedade europeia, e hoje a Grécia tem um papel vital a desempenhar no processo de integração que se está a definir na Europa.

No início do novo milénio, não basta considerar as realizações do passado, pois há muito a fazer. Se a Europa quiser ser fiel às suas mais nobres tradições e aspirações, se desejarmos que se concretize aquela nova unidade almejada por tantas pessoas, então a Europa deve haurir de novo das profundas nascentes do verdadeiro humanismo que deu origem àquelas tradições e aspirações.

Trata-se de um humanismo que deriva da verdade da pessoa humana, criada à imagem de Deus e, por conseguinte, possuidora de uma dignidade inviolável e de direitos inalienáveis, incluído o direito fundamental à liberdade religiosa. A partir desta visão da pessoa humana nasce o conceito genuíno e nobre da sociedade humana, que reconhece o facto de sermos responsáveis uns pelos outros e efectivamente exige uma ética da solidariedade. Eis o motivo por que se torna deveras urgente edificar uma ética da solidariedade e uma cultura do diálogo cada vez mais profundamente radicadas, pois só elas são o caminho que leva a um porvir pacífico.

Senhor Embaixador, no momento em que Vossa Excelência entra na comunidade dos diplomatas acreditados junto da Santa Sé, garanto-lhe que os vários departamentos farão tudo o que puderem para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Oxalá a sua missão sirva para revigorar os laços de compreensão e de amizade existentes entre a Grécia e a Santa Sé; e que estes vínculos contribuam profundamente para o bem-estar da sua nação. Sobre Vossa Excelência, a sua família e o povo da República Helénica, invoco as abundantes bênçãos de Deus todo-poderoo.

© Copyright 2000 - Libreria Editrice Vaticana



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