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DISCURSO DO SANTO PADRE
AO NOVO EMBAIXADOR DA ERITREIA
JUNTO À SANTA SÉ

14  de Dezembro de 2000

 

Senhor Embaixador
Beraky Gebreslassie

Dou as calorosas boas-vindas a Vossa Excelência, e recebo as Cartas Credenciais que o nomeiam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Estado da Eritreia junto da Santa Sé.

Reconfirmando o meu afecto e estima pelo povo do seu País, desejo oferecer o meu apoio sincero ao acordo de paz que nestes dias foi assinado pelo seu Governo e o Governo da Etiópia: por intermédio deste tratado, agora um acordo formal põe termo a quase três anos de conflito, cuja passagem deixou sofrimentos, mortes e destruição inauditos. Aproveito este ensejo para renovar o meu apelo a todas as partes interessadas, a trabalharem com coragem e clarividência para ultrapassar as dificuldades persistentes, de tal maneira que uma paz justa e duradoura, assente na compreensão, reconciliação e cooperação recíprocas possa voltar a reinar nessa região.

A este propósito, elogio os governantes e estadistas cujos esforços e intervenções pessoais ajudaram a impor o cessar-fogo; em particular, reconheço a assistência concreta da Organização da Unidade Africana (OUA), com vista a negociar o acordo que silenciou as armas e pôs fim às hostilidades abertas. Esta Organização pan-africana encontra-se numa singular e privilegiada condição de promover a cooperação política, económica, social e cultural no continente, e pode fomentar de modo eficaz as soluções pacíficas às contendas entre as nações africanas. Devemos esperar que os vários Estados membros, assim como a família mundial das nações, ajudem a OUA nestes empreendimentos, fazendo o possível para que este Organismo internacional possa desempenhar um papel cada vez mais positivo no desenvolvimento da África e dos seus povos no novo milénio.

O recurso ao conflito, mesmo quando parece resolver imediatamente os problemas, só consegue exacerbar as dificuldades e disseminar ulteriores tragédias e destruições. É por este motivo que em todas as partes do mundo a Santa Sé encoraja os povos e os respectivos Governos a elevar-se para além da "cultura da força" e a rejeitar a tentação da violência e da agressão armada. Se quisermos que seja genuína e duradoura, a paz tem necessidade não só de estruturas e mecanismos exteriores; ela exige um estilo de coexistência humana caracterizada pelo respeito mútuo e pela justiça. Não há contradição entre reconciliação e justiça; a reconciliação não diminui as exigências da justiça, mas procura reintegrar os indivíduos e os grupos na sociedade, e os Estados no seio da comunidade das Nações, através de um renovado e compartilhado sentido de responsabilidade pelo bem comum e, onde for possível, mediante a solidariedade para com as vítimas das injustiças do passado.

A tarefa que se apresenta a todos os eritreus consiste em actuar juntos para edificar uma sociedade em que a dignidade da pessoa humana e o respeito pelos direitos humanos sejam a norma de conduta para todos. Haurindo nos seus valores e tradições mais nobres, a Eritreia na realidade, toda a África encontrará forças e inspiração para crescer em solidariedade, justiça e bem-estar.

O Senhor Embaixador fez menção dos novos desafios que estão a ser enfrentados pela Eritreia, enquanto ela procura assegurar uma forma de governo democrática e constitucional para o seu povo. Talvez o maior de todos os desafios se possa encontrar ao nível da educação. Com efeito, não existe maior investimento que uma nação possa fazer para si mesma e para os seus cidadãos. A sociedade que busca os verdadeiros desenvolvimento e progresso, e que deseja contribuir para o progresso genuíno dos seus membros, deve proporcionar-lhes os modos de cultivar um entendimento objectivo de si mesmos e do mundo em que vivem, bem como das tradições sociais, culturais e religiosas que são diferentes das suas próprias. Da mesma forma, a educação é a chave que faz com que os cidadãos tomem parte nas opções políticas, elegendo e julgando dignas de confiança as pessoas que os governam (cf. Centesimus annus, 46).

Profundamente solícita pela dimensão social da vida humana, a Igreja contribui para a ordem política pregando a dignidade inalienável da pessoa humana. Ela exorta os seus membros a participarem de modo responsável na vida política, económica e social das suas respectivas comunidades, e a imbuírem todos os campos da vida com a mensagem evangélica da fraternidade, reconciliação e paz. É por este motivo que a Igreja se encontra profundamente comprometida na educação, na assistência médica, nos serviços sociais e na ajuda humanitária, tanto no seu próprio País, Senhor Embaixador, como em todo o continente africano e no mundo inteiro. Agradeço-lhe o seu reconhecimento destes contributos oferecidos pela Igreja na Eritreia.

Senhor Embaixador, peço-lhe que transmita ao Presidente, Sua Excelência o Senhor Issaias Afwerki, e ao Governo as minhas saudações pessoais e os sinceros bons votos pela paz e o progresso da Eritreia. Garanto-lhe a plena cooperação da Santa Sé, no momento em que assume as suas altas responsabilidades, e desejo-lhe muito bom êxito na sua missão. Sobre Vossa Excelência e sobre o querido povo do Estado da Eritreia, invoco as abundantes bênçãos do Omnipotente.


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