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DISCURSO DO SANTO PADRE
AO PRIMEIRO EMBAIXADOR DA GEÓRGIA
JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO DA
APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

Quinta-feira, 6 de Dezembro de 2001

 

Senhor Embaixador

É com grande prazer que o recebo hoje e aceito as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é nomeado primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Geórgia junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as saudações que me transmitiu da parte do Presidente, Sua Ex.cia o Senhor Eduard Shevardnadze, e peço que lhe comunique, bem como ao Governo e ao povo da Geórgia, os meus bons votos e a certeza das minhas preces pela paz e a prosperidade da Nação. A vossa presença hoje aqui, que está a inaugurar um novo período de relações diplomáticas formais entre a Geórgia e a Santa Sé, constitui uma ocasião muito estimada, repleta de esperança e de promessas.

Estou-lhe grato pelas suas palavras de apreço acerca dos esforços da Santa Sé em ordem a edificar a paz e promover a reconciliação, diante daquilo que Vossa Excelência define como "a emergência e o crescimento de antigas e novas tensões, em inúmeras partes do mundo". Através da sua actividade, inclusivamente das suas relações diplomáticas, a Santa Sé procura ajudar todas as pessoas a levar uma vida plenamente humana, em paz e harmonia, tendo em consideração também o desenvolvimento integral dos indivíduos e das nações. Vossa Excelência falou sobre os esforços que a Geórgia está a fazer em ordem a "revigorar os princípios democráticos... e a assegurar a salvaguarda das liberdades fundamentais de todos os cidadãos"; e tais princípios e liberdades constituem também um elemento fulcral na perspectiva da Santa Sé, no que diz respeito às questões internacionais.

A abordagem da Santa Sé é singular, porque não está vinculada ao interesse nacional de qualquer género, mas procura o bem comum de toda a família humana. Trata-se de uma perspectiva orientada não pela ideologia, mas por uma visão da pessoa humana, e por uma convicção de que se abala o próprio fundamento da sociedade humana, quando esta visão é debilitada ou abandonada. É uma óptica de liberdade que, por si só, oferece uma base sólida para actividades políticas e diplomáticas construtivas. A história da sua nação ensina que a liberdade é sempre frágil; e o século passado demonstrou de modo dramático que a liberdade se desintegra, quando é negada a verdade sobre a pessoa humana.

A mais destrutiva das falsidades acerca da pessoa humana, produzida pelo século XX, nasceu das visões materialistas do mundo e da pessoa. O comunismo e o fascismo foram eliminados, mas na sua esteira às vezes vemos novas formas de materialismo, talvez menos ideológicas e menos espectaculares nas suas manifestações e contudo, à sua maneira, igualmente destruidoras. Elas derivam de uma visão deturpada da pessoa humana, considerada quase exclusivamente sob o ponto de vista do bem-estar económico. É natural e justo que as pessoas aspirem ao bem-estar, mas há outras características fundamentais da nossa humanidade que também devem ser consideradas.

Durante a minha breve mas intensa visita à Geórgia, realizada em 1999, percebi claramente que, embora tenham sido obrigados à clandestinidade no decorrer dos anos da opressão comunista, os recursos espirituais e culturais da Nação ainda são vibrantes. Não obstante o processo de reconstrução ser mais difícil e mais complexo do que se esperava ou se imaginava há uma década, o comunismo não conseguiu afastar completamente a cultura georgiana das suas fontes religiosas.

Estou persuadido de que estas são as garantias mais convincentes de que, por detrás das dificuldades do tempo actual, há um futuro luminoso.

Enquanto falo sobre o processo de reconstrução do País, permita-me reiterar aquilo que disse em Tbilisi: "Um dos desafios mais difíceis do nosso tempo é o encontro entre a tradição e a modernidade. Este diálogo entre o antigo e o novo determinará, em grande medida, o futuro das gerações mais jovens e, por conseguinte, o porvir da nação" (Discurso ao mundo da cultura e da ciência, 9 de Novembro de 1999, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 20.11.1999, pp. 6-7, n. 4). A redescoberta da profunda herança espiritual da Geórgia e do seu humanismo tradicional, que se desenvolveram ao longo de vários séculos de vida cristã, será o melhor instrumento para a sociedade realizar uma autêntica renovação cívica e cultural, a que muitos dos seus concidadãos aspiram.

Senhor Embaixador, estou convicto de que a missão diplomática que hoje tem início ajudará a fortalecer os vínculos de compreensão e de colaboração entre a Geórgia e a Santa Sé. Asseguro-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estarão disponíveis para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Enquanto lhe transmito todos os votos para o bom êxito da sua tarefa e para a sua felicidade, invoco sobre Vossa Excelência e o povo da sua querida terra, as abundantes bênçãos de Deus todo-poderoso.

 

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