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DISCURSO DO SANTO PADRE
AO EMBAIXADOR DO LESOTO JUNTO À SANTA SÉ
 POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

Quinta-feira, 6 de Dezembro de 2001

 

Senhor Embaixador

É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano, no início da sua missão como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino do Lesoto junto da Santa Sé. Ao receber as suas Cartas Credenciais, peço-lhe que transmita a Sua Majestade o Rei Letsie III e a Sua Excelência o Ilustríssimo Senhor Primeiro-Ministro os meus bons votos e a certeza das minhas preces pela paz e pela prosperidade da Nação.

Os trágicos acontecimentos mundiais dos últimos tempos e a crise em que a Comunidade internacional se encontra actualmente demonstram de maneira mais clarividente do que nunca a necessidade de uma radical renovação a níveis pessoal e social, em ordem a oferecer maiores justiça e solidariedade ao mundo. Sem dúvida, esta renovação vai exigir esforços enormes, por causa dos inúmeros desequilíbrios que ainda devem ser resolvidos.

Isto é dramaticamente verdadeiro acerca da África, cujos povos continuam a sofrer enormemente, debaixo do jugo da pobreza endémica, da instabilidade política, da desorientação social e da má administração dos recursos. Por conseguinte, durante todo o meu Pontificado procurei chamar a atenção para as necessidades da África e para a responsabilidade que as nações mais abastadas têm de contribuir de modo mais eficaz para o desenvolvimento dos seus povos; e faço-o de novo hoje, a fim de que os problemas das outras partes do mundo não desviem a atenção que é devida às urgentes necessidades da África.

Infelizmente, o interesse da Comunidade internacional por esse continente nem sempre foi motivado pela autêntica solicitude pelo bem-estar dos seus povos. É particularmente desencorajador o facto de que, com algumas excelentes excepções, se tem feito demasiado pouco em ordem a melhorar as oportunidades educativas para os jovens, dado que esta é uma das chaves para um futuro mais profícuo para os povos da África.

A falta de progresso significa que os países menores, como o Lesoto, se tornam particularmente vulneráveis às pressões económicas que acompanham o processo de globalização. Com efeito, há o perigo de que a globalização faça alargar o fosso já existente entre os ricos e os pobres, levando os países em vias de desenvolvimento, como o de Vossa Excelência, a enfrentar dificuldades cada vez maiores e desafios quase insuperáveis. Nesta situação, a Igreja continuará a trabalhar por uma globalização da solidariedade, em ordem a assegurar que os benefícios potenciais cheguem a todos os povos e alcancem cada um dos sectores da sociedade.

As pressões exercidas sobre a África não são exclusivamente externas, pois dentro do próprio continente africano os ventos de novidade estão a soprar com vigor (cf. Ecclesia in Africa, 44), e as pessoas tornam-se cada vez mais conscientes da sua dignidade humana e da necessidade de defender os seus direitos e as suas liberdades. Muitos países estão a lutar para consolidar a democracia a cada nível da vida pública e para ultrapassar a resistência à aplicação da lei. Vossa Excelência observou que o seu País está profundamente comprometido no processo de democratização que, sem dúvida, dará resultados positivos em termos de promoção dos valores da dignidade e dos direitos humanos, do bom governo, do diálogo e da paz. A Santa Sé apoia totalmente este processo, dado que não existe outro fundamento sobre o qual as nações possam edificar um futuro digno dos seus próprios cidadãos.

O processo de transformação, hoje evidente no Lesoto, está deveras longe de ser superficial. Com efeito, ele chega ao próprio centro da sua cultura, uma vez que atinge o sentido moral das pessoas que, por sua vez, está intimamente vinculado à religião (cf. Veritatis splendor, 98). No âmago de cada cultura subsiste a atitude que os homens e as mulheres adoptam em relação ao maior mistério da vida:  o mistério de Deus. Como observei na minha Carta Encíclica Centesimus annus, "as culturas das diversas Nações constituem, fundamentalmente, modos diferentes de enfrentar a questão sobre o sentido da existência pessoal:  quando esta questão é eliminada, corrompem-se a cultura e a vida moral das Nações" (n. 24). Por conseguinte, enquanto os povos, as nações e os organismos internacionais procuram melhorar a vida social e política, incrementar a segurança e encorajar o desenvolvimento económico, não se pode deixar de promover, ao mesmo tempo, os valores e as perspectivas transcendentais que são autenticamente religiosas e que tornam os indivíduos, as comunidades e as nações capazes de progredir de maneira verdadeiramente humana. Entre as inúmeras implicações de tudo isto está o facto de que a pessoa humana deve ocupar o lugar central de toda a análise e de cada um dos actos decisórios, de tal maneira que o indivíduo receba os benefícios que lhe são próprios, e o bem comum seja efectivamente salvaguardado e promovido.

É esta visão da pessoa e da sociedade que inspira o compromisso da Igreja católica no serviço à família humana em todas as regiões do mundo, mediante a educação, a assistência médica e os programas de ajuda social. A este propósito, aprecio imensamente a sua observação de reconhecimento da influência positiva da Igreja católica no seu País, já a partir da época do Rei Moshoeshoe I. E a Igreja não deixará de oferecer toda a assistência possível, enquanto o Lesoto se encontra a lutar para passar desta era de tumultos para um porvir estável e próspero.
Senhor Embaixador, no momento em que Vossa Excelência entra na comunidade diplomática acreditada junto da Santa Sé, asseguro-lhe que os departamentos da Cúria Romana estarão prontos a oferecer-lhe toda a assistência de que poderá precisar para o cumprimento dos seus deveres. A sua missão sirva para fortalecer os vínculos de compreensão e de cooperação entre a sua Nação e a Santa Sé. Sobre Vossa Excelência, a sua família e o amado povo do Lesoto, invoco as abundantes Bênçãos de Deus todo-poderoso.

 

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