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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO EMBAIXADOR DA ÍNDIA JUNTO DA SANTA SÉ
 POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS

 

Senhor Embaixador

É com prazer que aceito as Cartas através das quais Vossa Excelência é acreditado como Embaixador Extroardinário e Plenipotenciário da Índia junto da Santa Sé. Estou-lhe profundamente agradecido pelas saudações que o Senhor Embaixador me transmitiu da parte de Sua Excelência o Dr. Abdul Kalam, neo-eleito Presidente da Índia, e pediria que lhe comunicasse, assim como ao governo e ao povo do seu querido País, os meus melhores votos de bem.

Como Vossa Excelência observou, existe uma forte presença cristã na Índia, praticamente desde o começo do próprio cristianismo, uma presença que tem oferecido a sua contribuição para a rica e diversificada herança cultural do subcontinente. Na história dos últimos tempos, o contacto entre a Índia independente e a Santa Sé levou ao estabelecimento das relações diplomáticas que a sua presença aqui, no dia de hoje, confirma e fortalece. Estes relacionamentos constituem uma expressão das vastas áreas, de visão conjunta, das importantes questões da vida internacional, que nos unem no serviço do bem comum universal. Hoje em dia, quando sérias ameaças contra a unidade e a paz estão a debilitar as relações internacionais, existe um amplo espaço para o nosso trabalho conjunto no campo internacional, em ordem à promoção de uma abordagem séria - fundamentada em princípios sãos - das problemáticas que continuam a causar tensões entre os povos e as nações.

Continuo a alimentar as memórias vivas das minhas Visitas Pastorais à Índia, em 1985 e em 1999, quando me foi concedido dar testemunho pessoal da harmonia e da cooperação existentes entre os povos de diferentes tradições culturais e religiosas. Esta harmonia constitui um dos pilares sobre os quais a unidade de toda a Nação tem sido edificada e, sem dúvida, deve continuar a ser confirmada no nosso tempo, se se quiserem evitar um grande prejuízo e a injustiça. Em muitas ocasiões falei sobre o papel da Índia na formação e na promoção de culturas e de tradições que deixaram uma marca profunda no espírito humano, e que ainda hoje constituem uma fonte essencial de sabedoria e de impulsos criativos que podem ajudar enormemente a impedir algumas consequências negativas dos processos da globalização, que hoje em dia estão a verificar-se.

Refiro-me ao perigo da comercialização de quase todos os aspectos da vida humana, a ponto de permitir que as políticas e os estilos de comportamento sejam definidos pela procura do lucro, e não pelo valor da pessoa humana.

Um dos temas principais do meu Pontificado é a afirmação da convicção de que o progresso humano só pode ser assegurado onde se tornar efectivo e for garantido o respeito pela dignidade e pelos direitos inalienáveis de cada ser humano. O mundo ainda está longe de alcançar esta finalidade, como se pode ver claramente pelas numerosas formas de injustiça e de discriminação que ainda continuam a ser infligidas sobre as pessoas mais frágeis, em demasiadas regiões do mundo inteiro. O dever solene de cada sistema democrático consiste em promover e em proteger os direitos humanos elementares e cada uma das categorias destes mesmos direitos. Não me refiro exclusivamente aos direitos que dizem respeito à sobrevivência material das pessoas, mas também àqueles que se referem ao espírito do homem e à sua infinita busca da verdade e da liberdade.

Actualmente a comunidade internacional tem muita necessidade de um compromisso renovado e mais eficaz, em ordem a corresponder às necessidades de numerosas pessoas que procuram alívio para os seus sofrimentos e aspiram a uma educação apropriada que as torne capazes de assumir um papel activo na vida da comunidade e da nação a que elas pertencem.

Uma parte integrante do desenvolvimento que verdadeiramente serve o bem dos indivíduos e dos povos é o respeito pela liberdade religiosa, uma vez que se trata do direito que se refere à liberdade mais pessoal e fortemente interior da vida de cada um dos indivíduos. Nada pode ser mais prejudicial para a harmonia e para a paz sociais do que a negação desta pedra angular dos direitos humanos. A Índia possui fortes tradições de respeito pelas diversidades religiosas. Senhor Embaixador, formulo votos a fim de que, para o bem da Nação, não seja permitido o desenvolvimento de tendências opostas entre si, e que a prática da lei assegure que as violações deste princípio não deixem de ser punidas.

Nos últimos anos a situação tem sido difícil para a Índia e para os seus vizinhos, dado que as tensões e a violência nessa região têm levado muitas pessoas a morrer e a ser privadas da sua própria casa. A paz é um dom que nasce da confiança e que deve ser edificada constantemente.

No meu discurso diante da quinquagésima Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em 1995, tive a ocasião de afirmar: "Devemos aprender a não ter medo, a descobrir novamente o espírito da esperança e da confiança. A esperança não é um optimismo vazio, que nasce da confiança ingénua de que o futuro será, necessariamente, melhor do que o passado. A esperança e a confiança constituem as premissas da actividade responsável e são alimentadas naquele santuário interior em que o homem se encontra a sós com Deus".

Excelência, asseguro-lhe que a Igreja católica que está na Índia continuará a rezar e a trabalhar em favor destas finalidades. Juntamente com os seus compatriotas das outras tradições, os católicas compartilham uma profunda aspiração a uma paz e harmonia duradouras, numa sociedade que valoriza e promove a dignidade e os direitos de todos os seus membros.

Senhor Embaixador, estou persuadido de que, no momento em que Vossa Excelência começa a sua missão, os antigos vínculos de amizade e de cooperação entre a Índia e a Santa Sé continuarão a ser revigorados e enriquecidos. Formulo-lhe os meus melhores votos e asseguro-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos para o ajudar no cumprimento dos seus deveres. Invoco as abundandes bênçãos de Deus Todo-Poderoso sobre Vossa Excelência e também sobre os seus compatriotas.




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