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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
 AO SENHOR PABLO MORÁN VAL
NOVO EMBAIXADOR DO PERU JUNTO DA SANTA SÉ
 POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS*

7 de Dezembro de 2004

 

Senhor Embaixador

1. É para mim um prazer receber Vossa Excelência neste acto solene no qual me apresenta as Cartas Credenciais que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Peru junto da Santa Sé. Ao dar-lhe as minhas cordiais boas-vindas agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu e peço-lhe que transmita ao Ex.mo Sr. Alejandro Toledo Manrique, Presidente da República, a minha gratidão pela saudação enviada e à qual se une o amado povo peruano, que muito aprecio e correspondo invocando sobre eles todos os bens.

2. A sua presença evidencia as relações tradicionais com a Santa Sé, instauradas pelo Peru já desde 1877. É desejável que, animados pelo espírito de colaboração leal em favor da sociedade, se continue sempre num clima de amizade e de respeito, tratando-se de uma Nação cuja Constituição começa invocando Deus todo-poderoso e reconhece o vínculo estreito de colaboração do Estado com a Igreja.

A vida religiosa no Peru, animada pela acção dos Bispos, dos sacerdotes, seus colaboradores, concretizada nas diversas comunidades e movimentos, nos centros de culto, assistenciais, educativos e de promoção humana e social, é um sinal muito evidente de como a vitalidade da fé pode continuar a apoiar os esforços envidados por um nobre povo que trabalha pelo progresso sem pôr de lado as raízes autênticas da sua identidade cristã.

A fé católica, professada pela grande maioria do povo do seu País, suscita, pelo seu dinamismo, um comportamento individual e social de amplo alcance, favorecendo, quando não existe separação entre fé e vida, uma existência sem incoerências nem rupturas, deixando de lado a tentação do recurso à violência, ao egoísmo ou à corrupção, porque a Igreja, fiel à sua missão, oferece as suas orientações para enfrentar os desafios éticos contemporâneos.

3. A realidade vivida pela sua Nação, assim como por grande parte do Continente ibero-americano, apresenta graves desafios que é preciso enfrentar com magnanimidade e critério recto.

Há poucos meses os Bispos do Peru reiteravam a sua urgente chamada "à paz, à concórdia e ao entendimento...; uma chamada à esperança, a construir o Peru, a procurar a ordem social, a defender o estado de direito e a constitucionalidade". Se é importante defender os valores cívicos, não devemos esquecer que serão mais respeitados quando se baseiam nos valores éticos e morais da honestidade, da solidariedade efectiva, de maneira que se possam corrigir as injustas desigualdades sociais e os individualismos pessoais e sociais que dificultam a realização plena do bem comum.

4. São conhecidos os esforços realizados pelas autoridades para melhorar as condições de vida dos sectores menos favorecidos da sociedade, procurando oferecer oportunidades de trabalho digno, serviços médicos e habitação decorosa, porque infelizmente a pobreza continua a marcar a existência de milhares dos seus concidadãos. A satisfação das necessidades básicas dos mais desfavorecidos e excluídos deve ser considerada uma prioridade fundamental, visto que as rápidas transformações da economia internacional levaram muitos deles a uma situação quase de desespero. Perante isto, a Igreja, mãe e mestra, fiel à sua missão acompanha de perto tantas famílias e pessoas que vivem hoje as consequências desumananizantes desta circunstância. Este é um dos campos em que a colaboração entre as diversas instituições públicas e a comunidade eclesial encontra um terreno fértil para dar assistência e ajudar os pobres.

5. O Peru encontra-se também comprometido num processo para fortalecer as instituições nacionais, e também os projectos de integração regional. Neste sentido é desejável que não sejam excluídas das medidas do Governo a defesa da vida humana e a instituição familiar, hoje tão ameaçada em muitas partes devido a um conceito errado de modernidade ou de liberdade, pois a família, configurada segundo a ordem natural estabelecida pelo Criador, está na base insubstituível do desenvolvimento harmonioso de uma nação.

6. Desejaria dirigir também uma palavra de proximidade e conforto à numerosa comunidade peruana que emigrou para outros países, cuja presença na Europa é notável. A distância da pátria é devida, na maior parte dos casos, ao desejo de encontrar melhores condições de vida. Sem dúvida, devem sentir-se comprometidos a contribuir para o País que os viu nascer e que continua sempre a considerá-los seus filhos não obstante a distância.

A Igreja não se limita a recordar o princípio ético fundamental de que "os emigrantes devem ser tratados sempre com o respeito à dignidade de todas as pessoas humanas" (Mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz, 1 de Janeiro de 2001, 13), mas coloca em acção todos os seus recursos para os assistir da melhor maneira possível. De facto, com muita frequência, os templos e outras instituições católicas são para eles o principal ponto de referência para se reunirem, celebrar as suas festas, mantendo viva a sua identidade pátria, e onde podem encontrar um apoio válido, e muitas vezes o único, para defender os seus direitos ou resolver situações difíceis.

7. Senhor Embaixador, neste momento desejo formular-lhe os melhores votos para o desempenho da sua missão junto da Sé Apostólica. Peço-lhe que transmita ao povo peruano a certeza da minha oração pelo seu progresso integral, recordando as palavras que pronunciei ao chegar ao Aeroporto de Lima na minha primeira viagem apostólica: "Os 500 anos de evangelização destas terras são uma exigência de construção de um homem latino-americano e peruano mais firme na sua fé, mais justo, mais solidário, mais respeitador dos direitos do próximo ao defender e reivindicar o próprio, mais cristão e mais humano" (Discurso, 1 de Fevereiro de 1985, n. 2). Peço a Deus que o assista na missão que hoje inicia e invoco todas as bênçãos celestes sobre Vossa Excelência, sobre a sua distinta família, os seus colaboradores, assim como sobre os governantes e cidadãos do Peru.


*L'Osservatore Romano n. 52 p. 7.

 

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