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MENSAGEM URBI ET ORBI
DE SUA SANTIDADE PAULO VI

Domingo de Páscoa, 11 de Abril de 1971

 PÁSCOA, MENSAGEM DE ESPERANÇA

 

Irmãos e Filhos,
que esperais dos nossos lábios a mensagem pascal:

Ouvi-nos: quando, dócil ao nosso ministério apostólico, vos falamos do alto desta tribuna e olhamos para o cenário do mundo, temos a impressão de nos encontrarmos diante da visão de um mar agitado, que ameaça tempestades ainda maiores. O que é que o homem prepara, realmente, para si mesmo e para as gerações vindouras, com a infidelidade, demasiado frequente e flagrante, aos supremos princípios de solidariedade, de justiça e de paz, depois de ter saído das terríveis experiências vividas, que ele próprio proclamou, para a civilização actual e para a futura? Não vemos, porventura, novas guerras e sinais de outras ainda mais assustadoras, armamentos terrificantes, revoluções que se reacendem, lutas sociais institucionalizadas, contestações endémicas, uma progressiva decadência moral, um recurso profissional e burocrático insuficiente aos paliativos do verdadeiro amor, um esquecimento cego e orgulhoso da insuprível religião? Não está a própria Igreja, não está ela, aqui e ali, a ser invadida por correntes doutrinais e disciplinares perturbadoras, que em vão se pretenderiam atribuir ao sopro autêntico do Espírito vivificador?

Ao mesmo tempo, apercebemo-nos de que na humanidade é sentida uma necessidade dolorosa e, em certo sentido, profética, de esperança, que se pode comparar à necessidade da respiração para a vida. Não é possível viver sem esperança! A actividade do homem é mais condicionada pela expectativa do futuro do que pela posse do presente. O homem tem necessidade do finalismo, do encorajamento e da prelibação da alegria futura. O entusiasmo, que é a mola real da acção e do risco, não pode surgir senão de uma esperança forte e serena. O homem tem necessidade de optimismo sincero e não ilusório.

Pois bem, homens amigos que nos ouvis: nós estamos em condições de vos dirigir uma mensagem de esperança. A causa do homem não só não está perdida, mas encontra-se, ao invés, em segura vantagem. As grandes ideias, que constituem os grandes faróis do mundo moderno, não se apagaram. A unidade do mundo há-de ser realizada. A dignidade da pessoa humana será, não apenas formalmente, mas sim realmente reconhecida. A intangibilidade da vida, desde o seio materno até à última fase da velhice, virá a ter um apoio efectivo. As indevidas desigualdades sociais serão aplanadas. As relações entre os Povos serão pacíficas, justas e fraternais. O egoísmo, a prepotência, a indigência, a licenciosidade dos costumes, a ignorância, e muita outras deficiências que ainda caracterizam e afligem a sociedade contemporânea, não devem impedir a instauração de uma verdadeira ordem humana, de um bem comum e de uma civilização nova.

A fraqueza humana, o deterioramento gradual das metas alcançadas, a dor, o sacrifício e a morte temporal não poderão ser abolidos; mas toda a miséria humana poderá vir a ter assistência e conforto; melhor, poderá vir a conhecer aquele supervalor, que o nosso segredo é capaz de conferir a toda e qualquer decadência humana. A esperança não se extinguirá; precisamente por força deste segredo, que hoje em dia, aliás, já deixou de o ser para todos os que nos ouvem... Entendeis ao que queremos aludir: ao segredo, ou antes, ao anúncio pascal.

Toda a esperança se funda numa certeza, numa verdade, a qual, no drama humano, não poderá ser somente experimental ou científica. A autêntica esperança, que deve amparar o homem no seu caminho, funda-se na fé. Esta, efectivamente, na linguagem bíblica, « é o fundamento das coisas que se esperam » (Hebr 11, 1); e, na sua realidade histórica, é o acontecimento, é Aquele, que hoje celebramos: Jesus Ressuscitado!

Não se trata de um sonho, nem de tuna utopia, nem de um mito; é realismo evangélico! E, neste realismo, nós, crentes, fundamos a nossa concepção da vida, da história e da própria civilização terrena, que a nossa esperança transcende, mas, ao mesmo tempo, impulsiona para as suas ousadas e confiantes conquistas.

Não é este o momento propício para nos determos a explicar-vos as razões válidas deste paradoxo; ou seja, como é que nós, homens da esperança transcendente e eterna, podemos sustentar, e com quanto vigor, as esperanças do horizonte temporal e presente; disso falou sapiente e amplamente o recente Concílio (cfr. Gaudium et Spes). Mas, por outro lado, é este o momento em que a nossa voz se torna eco da voz do vencedor, Cristo Senhor: «tende confiança, eu venci o mundo» (Jo 16, 33); e da voz do evangelista intérprete: « a vitória que vence o mundo é a nossa fé » (1 Jo 1, 4); (entendendo por mundo, óbviamente, todos os aspectos caducos e perversos do cenário natural da existência humana).

Olhamos, mais uma vez, do alto desta tribuna, ou seja, do vértice apostólico do nosso humilde ministério, para o panorama que se oferece à nossa vista e nele contemplamo-vos: a vós, homens que envidais todos os esforços para guiardes a sociedade pelos caminhos da justiça e da paz; a vós, jovens, ávidos de autenticidade e dedicação; a vós, plêiades inumeráveis de gente boa e honesta, que, em silêncio, dais sentido, com a oração e com as obras, com a fidelidade e com o sacrifício, à própria passagem no tempo; a vós, que sofreis e estais desiludidos com um bem-estar que já não vos diz nada; e, sobretudo, a vós, que connosco acreditais em Cristo Ressuscitado e a Ele vos consagrastes. E então, o nosso espírito inunda-se de alegria e de esperança e a todos proclama: «Alegrai-vos sempre no Senhor; repito: alegrai-vos sempre » (Flp 4, 4). Cristo ressuscitou! Aleluia!

 

                         



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