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RADIOMENSAGEM DO PAPA PIO XII
 AO XXXVI CONGRESSO EUCARÍSTICO INTERNACIONAL
 NO RIO DE JANEIRO
(*)

Domingo, 24 de Julho de 1955

 

Entoai ao Senhor novos hinos,
ressoem os seus louvores na assem­bleia dos santos.
Regozije-se o povo de Deus no seu Criador,
e os filhos da Jerusalém celeste exultem no seu Rei.
(Ps.
149, 1-2)

 

Veneráveis Irmãos e amados Filhos!

Espectáculo sobremodo grandioso o que nesta hora solene se depara ao Nosso espírito. Além, no plinto excelso do Corcovado, a estátua do Redentor, de braços constantemente abertos em cruz, como a repetir, não só à grande Metrópole, estendida a seus pés, mas, baía do Guanabara em fora, a quantos labutam e sofrem nos mares revoltos da vida : « Vinde a Mim todos os que viveis sobrecarregados e oprimidos de trabalhos, e Eu vos restaurarei as forças; vinde, e encontrareis paz e conforto para as vossas almas! » (cfr. Matth. II,28-29).

Símbolo eloquente! mas símbolo que nestes dias se tornou maravilhosa realidade.

Rendendo imortais graças a Deus, dador de todos os bens, convosco, amados Filhos, exultamos pelas grandiosas homenagens de fé, amor e desagravo, que, á face do céu e da terra, prestastes ao Redentor divino e Rei eucarístico.

Comprazemo-Nos paternamente pelos frutos de bênção, pelos acréscimos de fervor e vida cristã, que todos sem dúvida colhestes nestes dias abençoados.

E já o Nosso espírito se regozija in Domino antevendo o salutar apostolado eucarístico, que, de volta aos vossos lares, exercereis com a actividade e exemplo.

Nestes dias tão cheios multiplicastes as demonstrações de piedade eucarística: horas santas de dia e de noite, nos templos e casas religiosas, nos hospitais e nos cárceres; comunhões concorridissimas para todas as classes da sociedade; procissões deslumbrantes por mar e terra; solenes pontificais em todos os ritos.

Mas não vos bastou tudo isto. Sob a presidência de honra e com a protecção de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil e Sede de Sapiência, esmerastes-vos em meditar e estudar os mistérios da Realeza eucarística do Redentor sob todos os seus aspectos, com relação à Igreja, seu Reino eucarístico, aos indiví­duos, à família e à sociedade.

Abençoada ciência, que deve ser ciência de salvação para vós e para muitos. A ciência da Eucaristia é luz e é fogo: luz que tende a alumiar, fogo que precisa de atear-se. Não a deixeis esmorecer, Erguei-a bem alto, para que alumie e inflame tudo em torno de vós.

Há hoje por esse mundo trevas tão densas de ignorância! tanto gelo de indiferentismo! Quem sabe realmente o que é a Eucaristia-sacrifício e a Eucaristia-comunhão?

A Eucaristia-sacrifício: o Calvário dilatado no espaço até encher toda a terra, prolongado no tempo até ao fim dos séculos ! No Calvário, na hora mais augusta do universo, o sacrifício cruento, em que o Filho de Deus incarnado operou, imolando-se, a Redenção do mundo ! Na Eucaristia, o mesmíssimo sacrifício, renovado de modo incruento, cada dia duzentas, trezentas mil vezes em outros tantos pontos da terra.

Caeli enarrant gloriam Dei! Os céus apregoam a glória de Deus! E hoje que a ciência devassou tantos dos seus incomensuráveis abismos, quanto mais potente não ressoa ao nosso espírito esse pregão da divina glória! Mas que é todo ele, nem que fosse milhões de vezes mais poderoso, que é em comparação da glória literalmente infinita, que no silêncio dos nossos altares rende ao Eterno Padre o Deus eucarístico, imolando-se perenemente?

A Terra: um ponto na imensidade do universo ! Mas o sacrifício eucarístico transforma-a num turíbulo imenso, que vai através dos espaços exalando-se em espirais de glória infinita ao Creador.

O si scires donum Dei! Oh! se verdadeiramente se conhecesse e reconhecesse o dom de Deus! Não haveria fiel que nos dias do Senhor faltasse em tomar parte activa no divino Sacrifício.

A Eucaristia-comunhão: o Rei divino que se nos dá a nós. Oh! se bem se conhecesse e apreciasse devidamente este dom infinito do infinito Amor!

Mistério inefável de união, depois da União Hipostática e da divina Maternidade, a mais assomborsa e divinizante, que tende a revestir-nos, não da púrpura real, mas de Pessoa mesma do Rei divino (cfr. S. Io. Chrysostomi, In Ioann. Homil. 47 n. 4 - , Migne PG, t. 59 col. 262); a fazer-nos cristíferos, concorpóreos e consanguíneos seus (cfr. S. Cyrill. Hieros. Catech. Myst. 4 n. 3 - Migne PG, t. 33 col. 1100); a transformar-nos e converter-nos nele, até podermos dizer que, mais que nós mesmos, é Cristo que vive em nós (cfr. S. Thom. In IV Sent. dist. 12 quaest. 2 art. I et 2).

Conseguintemente, mistério de unidade, que incorporando e quase identificando os fiéis com Cristo, tende a uni-los numa só familia, num corpo único, em que palpite um só coração e uma só alma e cada membro zele solícito o bem dos outros, tanto ou mais que o próprio.

Mistério de vida, remédio divino de imortalidade (cfr. S.Ignat. Ad Eph. n. 20, 2), que sustenda a vida da alma, repara as forças e as renova, neutraliza os germes dos vícios e faz germinar todas as virtudes, desde os lírios de pureza virginal e angélica aos heroismos do zelo mais sacrificado.

Mistério de energias divinas, armadura invencível da milícia cristã. Na era dos mártires, toda a solicitude da Igreja era armar os seus atletas com o Corpo de Cristo para que pudessem aturar até conquistar a coroa (cfr. S. Cyprian. Ep. 54 n. 2.4 - Migne PL, t. 3 col. 883, 885; ep. 56 n. 1.9 - ib. t. 4 col. 360.367). E hoje, onde florescem densas as palmas do martírio, que ventura para o confessor da fé, se pode abraçar-se com Jesus sacramentado! Ora a vida cristã digna de tal nome, que é senão martírio incruento? carregar a própria cruz e seguir a Cristo? Para resistir ás seduções do mal, não diz Ele que é precisa a coragem de todos os sacrifícios, mesmo se equivalentes ao de vazar os olhos ou decepar mãos e pés? (cfr. Matth. 18, 8-9). Se a quereis ter, armai-vos de Jesus sacramentado!

Amados Filhos! quantos no Congresso meditastes os mistérios da divina Eucaristia, pensai que o Redentor e Rei eucarístico vos consagrou arautos e apóstolos seus, para em toda a parte fazerdes conhecer as maravilhas do seu Amor.

E vós em particular, os que no céu da pátria vedes brilhar o Cruzeiro, aceso pelo Criador, como a lembrar-vos constantemente que sois « Terra de Santa Cruz », povo à sombra da cruz nascido, organizado em nação à volta do altar e do trono eucarístico, que na Eucaristia encontrastes as melhores energias para « fazer cristandade » e para assegurar com feitos memoráveis a integridade de pátria e a unidade da fé, que vos encontrais aí, na Cidade de S. Sebastião, fundada ao pé do altar do Senhor, e, quase antes de nascer, salva para a fé católica mais pelo valor haurido na comunhão, que pela força das armas, vós singularmente deveis voltar a vossos lares, decididos a ser paladinos do Rei eucarístico sempre e por toda a parte, tanto na vida individual como na familiar, tanto na social e civil como na vida pública; para que o Redentor e Rei divino, não só de direito, mas de facto, reine em quantos corações palpitam do Amazonas ao Prata, estabelecendo em todos o seu reinado de paz e amor, de justiça e santidade, que só assim será, mesmo temporalmente, segundo as divinas promessas, reino de « Ordem e Progresso », de tranquillidade e concórdia e prosperidade verdadeiras.

Digne-se o divino Redentor, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, assistir-vos sempre com a abundância das suas graças, e seja penhor delas a Nossa paterna Bênção Apostólica.

(*) Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, vol. XVII, pág. 187-192.

 



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