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MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
AOS PARTICIPANTES DA XVIII SESSÃO PLENÁRIA
DA PONTIFÍCIA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

 

A Sua Excelência Professora Mary Ann Glendon
Presidente da Pontifícia Academia das Ciências Sociais

É-me grato saudá-la, bem como a todos aqueles que se reuniram em Roma para a XVIII Sessão Plenária da Pontifícia Academia das Ciências Sociais. Escolhestes celebrar o cinquentenário da Carta Encíclica Pacem in terris, do beato João XXIII, examinando a contribuição oferecida por este importante documento para a doutrina social da Igreja. No auge da guerra fria, quando o mundo ainda estava a enfrentar a ameaça constituída pela existência e pela proliferação de armas de destruição de massa, o Papa João escreveu aquela que foi definida «uma carta aberta ao mundo». Tratava-se de um apelo sincero de um grande Pastor, próximo do final da sua vida, a fim de que a causa da paz e da justiça fosse promovida com vigor em todos os âmbitos da sociedade, a nível nacional e internacional. Enquanto o cenário político global se transformou significativamente ao longo deste último meio século, a visão proposta pelo Papa João ainda tem mundo a ensinar-nos, enquanto lutamos por enfrentar os novos desafios à paz e à justiça na era do pós-guerra fria, no meio da proliferação contínua dos armamentos.

«Só haverá paz na sociedade humana, se ela estiver presente em cada um dos seus membros, se em cada um se instaurar a ordem querida por Deus» (Pacem in terris, n. 164). No centro da doutrina social da Igreja está a antropologia que reconhece na criatura humana a imagem do Criador, dotada de inteligência e de liberdade, capaz de conhecer e de amar. Paz e justiça são frutos da ordem justa, que está gravada na própria criação, inscrita no coração humano (cf. Rm 2, 15) e, por conseguinte, é acessível a todas as pessoas de boa vontade, a todos os «peregrinos de verdade e de paz». A Encíclica do Papa João foi e continua a ser um convite vigoroso a comprometer-nos naquele diálogo criativo entre a Igreja e o mundo, entre os crentes e os não-crentes, que o Concílio Vaticano II se propôs promover. Ela oferece uma visão profundamente cristã do lugar que o homem ocupa no universo, confiante de que agindo deste modo propõe uma mensagem de esperança a um mundo que tem fome dela, uma mensagem que pode ressoar entre as pessoas de todos os credos, e de nenhuma crença, uma vez que a sua verdade é acessível a todos.

Nesse mesmo espírito, depois que os ataques terroristas abalaram o mundo em Setembro de 2001, o beato João Paulo II reiterou que «não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2002). O conceito de perdão deve inserir-se no debate internacional sobre a resolução dos conflitos, com a finalidade de transformar a linguagem estéril da recriminação recíproca, que não leva a lugar algum. Se a criatura humana é feita à imagem de Deus, de um Deus de justiça que é «rico em misericórdia» (Ef 2, 4), então estas qualidades devem reflectir-se na gestão dos assuntos humanos. É a combinação entre a justiça e o perdão, entre a justiça e a graça que se encontra no cerne da resposta divina à maldade humana (cf. Spe salvi, n. 44), por outras palavras, no âmago da «ordem instituída por Deus» (Pacem in terris, n. 1). O perdão não é negação do mal, mas participação no amor salvífico e transformador de Deus, que reconcilia e restabelece.

Portanto, como foi eloquente a escolha do tema para a Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, de 2009: «A Igreja na África, ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz». A mensagem vivificadora do Evangelho deu esperança a milhões de africanos, ajudando-os a superar os sofrimentos que lhes foram infligidos por regimes repressivos e por conflitos fratricidas. De maneira análoga, a Assembleia de 2010 sobre a Igreja no Médio Oriente exaltou os temas da comunhão e do testemunho, da unidade entre a mente e a alma, que caracteriza quantos se comprometem em seguir a luz da verdade. Os erros históricos e as injustiças só podem ser superados, se os homens e as mulheres forem inspirados por uma mensagem de purificação e de esperança, uma mensagem que oferece um caminho para ir em frente, para sair do impasse que muitas vezes bloqueia as pessoas e as nações num círculo vicioso de violência. Desde 1963, alguns conflitos que nessa época pareciam insolúveis passaram à história. Portanto, não desanimemos, enquanto lutamos pela paz e pela justiça no mundo contemporâneo, confiantes de que a nossa busca comum da ordem estabelecida por Deus, de um mundo no qual a dignidade de cada pessoa humana receba o respeito que lhe é devido, pode dar fruto e dá-lo-á.

Confio as vossas deliberações à orientação materna de Nossa Senhora, Rainha da Paz. A Vossa Excelência, ao Bispo Sánchez Sorondo, bem como a todos os participantes na XVIII Sessão Plenária, concedo de bom grado a minha Bênção Apostólica.

Vaticano, 27 de Abril de 2012.

 

BENEDICTUS PP. XVI

  



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