Index   Back Top Print

[ DE  - EN  - ES  - FR  - IT  - PT ]

ENCONTRO DO PAPA BENTO XVI
COM AS CRIANÇAS DA PONTIFÍCIA
OBRA PARA A INFÂNCIA MISSIONÁRIA

Sala Paulo VI
Sábado, 31 de Maio de 2009

Chamo-me Anna Filippone, tenho doze anos, sou ministrante e venho da Calábria, da Diocese de Oppido Mamertina-Palmi. Papa Bento, o pai do meu amigo Giovanni é italiano e a mãe equatoriana, e ele é muito feliz. Pensas que as diversas culturas um dia poderão viver sem entrar em conflito em nome de Jesus?

Compreendi que desejais saber como fazíamos nós, quando éramos crianças, para nos ajudar reciprocamente. Tenho que dizer que vivi os anos da escola elementar numa pequena aldeia de 400 habitantes, muito distante dos grandes centros. Portanto, éramos um pouco ingénuos e nessa aldeia havia, por um lado, agricultores muito ricos e também outros menos ricos mas abastados e, por outro, pobres empregados, artesãos. Pouco antes do início da escola elementar a nossa família chegara a esse povoado vinda de outra cidade, portanto éramos um pouco estrangeiros para eles, e até o dialecto era diferente. Portanto, nessa escola reflectiam-se situações sociais muito diversas entre si. Contudo, havia uma bonita comunhão entre nós. Ensinaram-me o seu dialecto, que eu ainda não conhecia. Colaborámos bem e, tenho que admitir, às vezes naturalmente também discutíamos, mas depois reconciliávamo-nos e esquecíamos quanto tinha acontecido.

Isto parece-me importante. Por vezes na vida humana parece inevitável discutir; todavia, é sempre importante a arte da reconciliação, do perdão, do começar de novo e não deixar amargura na alma. Recordo-me com gratidão do modo como todos nós colaborávamos: um ajudava o outro e juntos percorríamos o nosso caminho. Todos nós éramos católicos, e isto era naturalmente uma grande ajuda. Assim, em conjunto, aprendemos a conhecer a Bíblia, a começar pela criação até ao sacrifício de Jesus na cruz, e depois também os primórdios da Igreja. Juntos aprendemos o catecismo, juntos aprendemos a rezar e juntos nos preparamos para a primeira confissão, para a primeira comunhão: aquele foi um dia maravilhoso! Compreendemos que o próprio Jesus vem até nós, e que Ele não é um Deus distante: entra na minha própria vida, na minha própria alma. E se o próprio Jesus entra em cada um de nós, somos irmãos, irmãs e amigos, e portanto temos que nos comportar como tais.

Para nós, esta preparação quer para a primeira confissão como purificação da nossa consciência e da nossa vida, quer também para a primeira comunhão como encontro concreto com Jesus que vem ter comigo, que vem ter com todos nós, foram factores que contribuíram para formar a nossa comunidade. Ajudaram-nos a caminhar juntos, a aprender em conjunto a reconciliar-nos quando era necessário. Fazíamos inclusive pequenos espectáculos: também é importante colaborar, prestar atenção uns aos outros. Depois, com oito ou nove anos tornei-me coroinha. Nessa época ainda não havia meninas coroinhas, mas elas liam melhor do que nós. Portanto, eram elas que liam as leituras da liturgia, e nós desempenhávamos a função de coroinhas. Nesse período ainda havia muitos textos latinos para aprender, e de tal modo cada um teve a sua parte de canseiras a assumir. Como disse, não éramos santos: tivemos as nossas discussões, e no entanto havia uma bonita comunhão, onde as distinções entre ricos e pobres, entre inteligentes e menos inteligentes não contavam. Era a comunhão com Jesus no caminho da fé comum e na responsabilidade coral, nos jogos e no trabalho conjunto. Tínhamos encontrado a capacidade de viver juntos, de ser amigos e, embora a partir de 1937, ou seja, há mais de setenta anos, tenha deixado de viver nessa aldeia, ainda permanecemos amigos. Portanto, aprendemos a aceitar-nos reciprocamente, a carregar o peso uns dos outros.

Isto parece-me importante: não obstante as nossas fraquezas, aceitamo-nos uns aos outros e, com Jesus Cristo, com a Igreja, encontramos juntos o caminho da paz e aprendemos a viver bem.

Chamo-me Letizia e queria fazer-te uma pergunta. Querido Papa Bento XVI, o que significava para ti, quando eras menino, o mote: "As crianças ajudam as crianças"? Alguma vez numa pequena aldeia pensaste em tornar-te Papa?

Para dizer a verdade, nunca pensei que viria a ser Papa porque, como já disse, fui um menino bastante ingénuo, numa pequena aldeia muito distante dos centros, numa província esquecida. Éramos felizes por viver nessa província e não pensávamos noutras coisas. Naturalmente, conhecíamos, venerávamos e amávamos o Papa era Pio XI   mas para nós estava numa altura inalcançável, quase noutro mundo: um nosso pai, e no entanto uma realidade muito superior a todos nós. E devo dizer que ainda hoje tenho dificuldade em compreender como o Senhor pôde pensar em mim, destinar-me para este ministério. Mas aceito-o das suas mãos, embora seja algo surpreendente e me pareça muito além das minhas forças. Contudo, o Senhor ajuda-me.

Amado Papa Bento, sou Alessandro. Queria perguntar-te: tu és o primeiro missionário; como podemos nós, crianças, ajudar-te a anunciar o Evangelho?

Diria que um primeiro modo é o seguinte: colaborar com a Pontifícia Obra para a Infância Missionária. Assim fazeis parte de uma grande família, que difunde o Evangelho no mundo. Assim pertenceis a uma rede grandiosa. Vemos aqui como se reflecte a família dos diversos povos. Vós estais nesta grande família: cada um desempenha o seu papel e, em conjunto, todos vós sois missionários, portadores da obra missionária da Igreja. Tendes um bonito programa, indicado pela vossa porta-voz: ouvir, rezar, conhecer, compartilhar e solidarizar. Estes são os elementos essenciais que realmente constituem um modo de ser missionário, de dar continuidade ao crescimento da Igreja e à presença do Evangelho no mundo. Gostaria de ressaltar alguns destes pontos.

Em primeiro lugar, rezar. A oração é uma realidade: Deus ouve-nos e, quando oramos, Deus entra na nossa vida, torna-se presente e operante no meio de nós. Rezar é algo muito importante, que pode mudar o mundo, porque torna presente a força de Deus. E é importante ajudar-se no acto de rezar: oremos juntos a liturgia, rezemos em conjunto na família. E aqui diria que é importante começar o dia com uma pequena oração e, depois, terminar o dia também com uma pequena prece, recordando os pais na oração. Rezar antes do almoço, antes do jantar e por ocasião da celebração coral do domingo. Um domingo sem Missa, a grande oração comum da Igreja, não é um domingo verdadeiro: falta precisamente o coração do domingo, e assim também a luz para a semana. E podeis ajudar também os outros — de modo especial quando em casa, talvez, não se reza, não se conhece a oração — ensinando os outros a rezar: orar com eles e desta forma introduzir os outros na comunhão com Deus.

Depois, ouvir, ou seja, aprender realmente o que Jesus nos diz. Além disso, conhecer a Sagrada Escritura, a Bíblia. Na história de Jesus aprendemos — como o Cardeal disse — o rosto de Deus, aprendemos como é Deus. É importante conhecer Jesus profunda e pessoalmente. Assim Ele entra na nossa vida e, através da nossa vida, entra no mundo.

E também compartilhar, não desejar as coisas unicamente para nós mesmos, mas para todos; dividir com o próximo. E se virmos outra pessoa que talvez tenha necessidade, que seja menos dotada, temos que a ajudar e assim tornar presente o amor de Deus sem grandes palavras, no nosso pequeno mundo pessoal, que faz parte do grande mundo. E desta maneira tornamo-nos em conjunto uma só família, onde todos se respeitam: suportar o outro na sua alteridade, aceitar precisamente também os antipáticos, não deixar que alguém seja marginalizado, mas ajudá-lo a inserir-se na comunidade. Tudo isto quer dizer, simplesmente, viver nesta grande família da Igreja, nesta grandiosa família missionária. Viver os pontos essenciais como a partilha, o conhecimento de Jesus, a oração, a escuta recíproca e a solidariedade é uma obra missionária, porque ajuda a fazer com que o Evangelho se torne uma realidade no nosso mundo.

© Copyright 2009 - Libreria Editrice Vaticana



Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana