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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Além dos formalismos

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 15 de 02 de Abril de 2014

«Se quiseres conhecer a ternura de um pai dirige-te a Deus: experimenta e depois conta-me!». Foi o conselho espiritual que o Papa Francisco sugeriu na missa celebrada a 28 de Março. Por muitos pecados que possamos ter cometido, afirmou o Pontífice, Deus espera-nos sempre e está pronto a acolher-nos e a festejar connosco e por nós. Porque é um Pai que nunca se cansa de perdoar e não se importa se no final o «balanço» é negativo: Deus sabe amar sem medidas.

Esta atitude, explicou o Papa, está bem descrita na primeira leitura da liturgia, tirada do livro do profeta Oseias (14, 2-10). «Só com esta palavra podemos passar tantas horas em oração» afirmou o Pontífice, fazendo notar como «Deus nunca se cansa», nunca: vemos isto em «tantos séculos» e «com tantas apostasias do povo». Todavia, «ele volta sempre, porque o nosso Deus é um Deus que espera». E assim também «Adão saiu do paraíso com uma pena e também com uma promessa. E o Senhor é fiel à sua promessa porque não pode renegar-se a si mesmo: é fiel!». E, a propósito, o Papa convidou a contemplar «aquele lindo ícone do pai e do filho pródigo».

«Do ponto de vista de uma empresa o balanço é negativo, não há dúvida! Ele perde sempre, perde no balanço das coisas. Mas vence no amor porque Ele — podemos dizê-lo — é o primeiro que cumpre o mandamento do amor: ele ama, só sabe amar!», como recorda o trecho evangélico da liturgia do dia (Marcos 12, 28-34).

É um Deus que nos diz, como se lê no livro de Oseias: «Eu curar-te-ei porque a minha ira se afastou de ti!». Assim fala Deus: «Eu chamo-te para te curar!».

O Deus que espera e perdoa é também «o Deus que festeja». Mas não organizando um banquete, como «o do homem rico que tinha à porta o pobre Lázaro. Não, esta festa não lhe agrada!», afirmou o Santo Padre. Ao contrário, Deus prepara «outro banquete, como o pai do filho pródigo». No texto de Oseias, explicou, Deus diz-nos que «também tu florescerás como o lírio». É a sua promessa: far-te-á festa. A ponto que «os teus rebentos se espalharão, e terás a beleza da oliveira e ao perfume do Líbano».

O Papa Francisco concluiu a sua meditação reafirmando que «a vida de cada pessoa, de cada homem e mulher que tem a coragem de se aproximar do Senhor, encontrará a alegria da festa de Deus». Eis então os votos finais: «Que esta palavra nos ajude a pensar no nosso Pai, o Pai que nos espera sempre, que nos perdoa sempre e que festeja quando nós voltamos!».

Nem «cristãos errantes como turistas existenciais» nem «cristãos parados», mas testemunhas de uma «fé que caminha» seguindo as promessas de Deus. Foi a identidade cristã traçada pelo Papa Francisco na missa do dia 31 de Março.

O Pontífice falou do valor que tem, na vida de um cristão, a confiança em Jesus «que nunca desilude». Para ajudar a compreender melhor o valor da confiança, o Papa fez referência ao episódio narrado pelo Evangelho de João (4, 43-54) acabado de proclamar, no qual se narra do funcionário do rei que, tendo sabido da chegada de Jesus a Caná, vai ao seu encontro para lhe pedir que salve o filho doente e em fim de vida em Cafarnaum. Foi suficiente, recordou o Pontífice, que Jesus dissesse: «Vai, o teu filho vive» para que aquele homem acreditasse na sua palavra e se pusesse a caminho: «esta é a nossa vida: crer e pôr-se a caminho». Como fez Abraão, que teve «confiança no Senhor e caminhou também nos momentos difíceis», quando por exemplo a sua fé «foi posta à prova» com o pedido do sacrifício do filho. Também naquele caso ele «caminhou. Confiou no Senhor — frisou o Pontífice — e foi em frente. A vida cristã é assim: caminhar rumo às promessas». Por isso «a vida cristã é esperança».

«Temos tantos cristãos parados. Têm uma esperança débil. Sim, acreditam que existe o céu mas não o procuram. Seguem — observou o Pontífice — os mandamentos, cumprem os preceitos, tudo; mas estão parados. E o Senhor não pode extrair deles o fermento para fazer crescer o seu povo. Este é um problema: os parados».

«Depois — acrescentou — há outros, os que erram o caminho. Todos nós algumas vezes erramos o caminho». Mas o problema, explicou, é voltarmos quando nos apercebemos que erramos. E há depois «outro grupo que é mais perigoso — disse — porque se engana a si mesmo». São «os que caminham mas não percorrem a estrada: rodam, rodam como se a vida fosse um turismo existencial, sem meta, sem levar a sério as promessas. Aqueles que rodam e que se enganam porque dizem: «Eu caminho...». Não; tu não caminhas, tu rodas! Ao contrário, o Senhor pede-nos que não paremos, que não erremos caminho e que não rodemos pela vida. Pede que olhemos para as promessas, que vamos em frente com as promessas», como o homem do evangelho de João, o qual «acreditou nas promessas de Jesus e se pôs a caminho». E a fé põe-se a caminho.

A quaresma, disse em conclusão, é um tempo propício para pensar se estamos a caminho ou se estamos «demasiado parados» e então devemos converter-nos; ou se «erramos caminho» devemos neste caso ir confessar-nos «para retomar o caminho»; por fim, devemos pensar se somos «turistas teologais», como os que rodam na vida «mas que nunca dão um passo em frente».

«Peçamos ao Senhor a graça — foi a exortação do Papa Francisco — de retomar a estrada, de nos pormos a caminho rumo às promessas».

Aos numerosos feridos acolhidos no «grande hospital de campo, símbolo da Igreja» devemos aproximar-nos sem indolência espiritual nem formalismos. Foi o que o Papa Francisco recomendou na missa celebrada a 1 de Abril.

«Na liturgia de hoje — explicou, ao comentar as leituras — a água é o símbolo: aquela água saudável, que cura». E referiu-se sobretudo ao trecho do Evangelho de João (5, 1-16): é «a história de um homem paralítico havia trinta e oito anos» que estava com muitos outros doentes perto da piscina de Jerusalém, esperando ser curado. E quando «viu aquele homem, Jesus perguntou-lhe: queres ficar são?». A sua resposta foi imediata: «Senhor, não tenho ninguém que me lance na piscina, quando a água começa a agitar-se; e, enquanto eu vou, desce outro antes de mim». De facto, havia a ideia — explicou o Pontífice — de que quando as águas se agitavam era o anjo do Senhor que vinha para curar». A reacção de Jesus é uma ordem: «Levanta-te, toma o teu catre e anda!». E o homem sarou.

O Papa comentou que, em particular, «encontro aqui» a imagem de «duas doenças graves, espirituais». A «primeira doença» é a que aflige o paralítico e que já «se tinha resignado» e talvez dissesse «a si mesmo “a vida é injusta, outros têm mais sorte do que eu!”». No seu modo de falar «há um adágio lamentoso: está resignado mas também amargurado». Uma atitude, frisou o Papa, que faz pensar também em «muitos católicos sem entusiasmo e amargurados» que repetem «a si mesmos: “vou à missa todos os domingos mas é melhor não me misturar! Tenho fé para a minha saúde, mas não sinto a necessidade de a oferecer a outro: cada um na própria casa, tranquilo”», inclusive porque se «na vida fazes algo depois te repreendem: é melhor não arriscar!».

O outro pecado que o Papa indicou hoje é «o formalismo» dos judeus. Repreendem o homem que Jesus curou porque carrega o seu catre ao sábado. De nada vale que ele está feliz, até quase «a dançar no meio da rua», pois está finalmente livre «da doença física e também da indolência e da tristeza». A réplica dos judeus é curta: «Aqui as coisas funcionam assim, deves fazer isto!». Só lhes «interessavam as formalidades: era sábado e não se podiam fazer milagres ao sábado! A graça de Deus não pode agir ao sábado!». É a mesma atitude daqueles «cristãos hipócritas que não deixam espaço à graça de Deus». Porque para «estas pessoas a vida cristã é ter os documentos em regra, todos os atestados!». Agindo desta forma, contudo, «fecham a porta à graça de Deus».

Estas — afirmou o Pontífice — são «as duas palavras cristãs: “queres ficar são?” — “não voltes a pecar!”». Primeiro Jesus cura o doente e depois convida-o a «não voltar a pecar». É precisamente «esta a estrada cristã, o caminho do zelo apostólico». Sem dúvida, estas «duas palavras de Jesus — concluiu o Papa — são melhores do que a atitude da indolência e da hipocrisia».

 



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