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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Servir e não servir-se

Sexta-feira, 6 de Novembro de 2015

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 47 de 19 de Novembro de 2015

Há «sacerdotes e bispos videirinhos e apegados ao dinheiro» que «em vez de servir se servem da Igreja», tornando-a «sem escrúpulos» e «tíbia» com o seu viver comodamente o próprio status sem honestidade, numa celebração matutina, confidenciou, na qual participam com frequência missionários e irmãs que oferecem toda a sua vida ao serviço dos outros, imitando o modelo de são Paulo e indo «sempre além, sempre em saída».

«A liturgia de hoje — afirmou imediatamente Francisco — faz-nos reflectir sobre duas figuras, duas figuras de servos, duas pessoas que se comprometeram, duas pessoas que são chamadas a desempenhar uma tarefa». No trecho da carta aos Romanos (15, 14-21), sobressai «a figura de Paulo: precisamente o zelo de evangelizar». Com efeito, o apóstolo escreve: «Vós sabeis, devido à graça que me foi concedida por Deus — qual era a graça que ele recebeu? — para ser ministro de Jesus Cristo, cumprindo o ministério sagrado». Ou seja, «ministrar, servir». E «Paulo levou a sério esta vocação e entregou-se totalmente ao serviço, sempre além, nunca estava parado: sempre além, sempre além... acabando depois aqui em Roma atraiçoado por alguns dos seus. E acabou precisamente como um condenado».

Mas «de onde vinha aquela grandeza, aquela audácia de Paulo?». Ele mesmo declara: «e eu orgulho-me disto». E «de que se orgulhava? Orgulhava-se de Jesus Cristo». De facto, lê-se no trecho litúrgico da carta aos Romanos: «Tenho, pois, essa glória em Jesus Cristo no que se refere às coisas de Deus. Eu não ousaria falar de coisas que Cristo não tivesse feito por meu intermédio, para obter a obediência dos gentios, pela palavra e pela acção, por virtude de milagres e de prodígios, pela virtude do Espírito Santo».

Com esta atitude, prosseguiu o Pontífice, são Paulo «foi a toda a parte: orgulhava-se de servir, de ter sido eleito, de ter a força do Espírito Santo, de ir a todo o mundo». Mas «havia algo que para ele era uma grande alegria». Fala disso do seguinte modo: «Sempre fiz questão — fez questão: de quê? — de pregar o Evangelho onde Cristo ainda não era conhecido, de forma que não estivesse edificando sobre um alicerce elaborado por outra pessoa». Em síntese, «Paulo ia onde Cristo não era conhecido; era o servo que servia, administrava, lançando as bases, ou seja, anunciando Jesus Cristo sempre além, sempre em saída, cada vez mais longe; nunca estagnava para ter a vantagem de um lugar, de uma autoridade, de ser servido». Paulo «era ministro, servo para servir, não para se servir».

Francisco manifestou a alegria que sente até à comoção quando, na missa celebrada de manhã em Santa Marta, participam «alguns sacerdote e me cumprimentam» dizendo: «Padre, vim aqui para visitar os meus amigos, porque há quarenta anos que sou missionário na Amazónia». Também suscita alegria e comoção o testemunho de uma irmã que trabalha «há trinta anos num hospital em África» ou que «há trinta ou quarenta anos trabalha num hospital na secção para deficientes, sempre sorridente». Eis, afirmou Francisco, «isto chama-se servir, esta é a alegria da Igreja: ir além, sempre; ir além e dar a vida». E foi precisamente isto que Paulo fez: servir».

Retomando depois o trecho evangélico de Lucas (16, 1-8) que fala do administrador desonesto, proposto pela liturgia, o Papa observou que «o Senhor nos mostra a imagem de outro servo que, em vez de servir os outros, se serve dos outros». No Evangelho «lemos o que este servo fez, com quanta astúcia se moveu para conservar o seu lugar, noutra parte, mas sempre com uma certa dignidade». E «também na Igreja — disse o Papa — há estes que, em vez de servir, de pensar nos outros, de lançar as bases, se servem da Igreja: os videirinhos, os apegados ao dinheiro. E quantos sacerdotes, bispos, vimos assim. É triste dizê-lo, não é?».

«A radicalidade do Evangelho, da chamada de Jesus Cristo» — recordou o Pontífice — consiste em «servir: estar ao serviço, não parar, ir sempre além, esquecendo-se de si mesmos». Mas por outro lado, há «a comodidade do status: eu obtive um status e vivo comodamente sem honestidade, como aqueles fariseus dos quais Jesus fala, que passeavam pelas praças, para se mostrarem». E estas são «duas imagens: duas imagens de cristãos, duas imagens de sacerdotes, duas imagens de religiosas. Duas imagens».

Em são Paulo, explicou o Papa, «Jesus mostra-nos» o «modelo» de uma «Igreja que nunca está parada, que lança sempre fundamento, que vai sempre em frente e nos indica o caminho». Ao contrário «quando a Igreja é tíbia, fechada em si mesma, até muitas vezes sem escrúpulos, não se pode dizer que é uma Igreja que ministra, que está ao serviço, mas que se serve dos outros».

Francisco concluiu pedindo ao Senhor «a graça que concedeu a Paulo, aquele fazer questão de ir sempre em frente, sempre, renunciando muitas vezes às próprias comodidades». Assim «nos salve das tentações, destas tentações que no fundo são tentações de uma vida dupla: apresento-me como ministro, como aquele que serve, mas no fundo sirvo-me dos outros».

 


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