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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Como deve ser o bispo

Segunda-feira, 12 de novembro de 2018

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 47 de 20 de novembro de 2018

«Quando se fazem averiguações para a eleição dos bispos», é necessário seguir o critério sugerido por Paulo na sua carta a Tito: «Que sejam administradores de Deus, irrepreensíveis, servos humildes», e pouco importa se «são habilidosos com os planos pastorais ou simpáticos». Realçando que as indicações remontam precisamente a São Paulo — portanto, muito antes do Concílio Vaticano II — o Papa Francisco pediu para rezar a fim de que todos os bispos se reconheçam no perfil traçado pelo apóstolo «para pôr ordem na Igreja».

«No livro dos Atos dos Apóstolos lemos como nasceu a Igreja», sugeriu o Papa. «A Igreja — explicou — nasceu na confusão e na desordem; com fervor, mas na desordem, a ponto que as pessoas que ouviam os apóstolos falar, diziam: “Estão bêbados”».

«A Igreja nasceu na confusão», frisou Francisco. «E esta confusão vê-se também, por exemplo, quando Pedro vai ter com Cornélio: há imediatamente confusão e Pedro entende que o Espírito está ali e batiza, mas sem confusão, aliás, com gestos admiráveis». E ainda, acrescentou, «pensemos por exemplo no ministro da economia da rainha Candace, algo é estranho: também este homem leva a Igreja ao seu país». Mas «há sempre confusão, a força do Espírito, desordem, mas não devemos assustar-nos». A Igreja «nasce assim: este é um bom sinal».

«A Igreja nunca nasceu totalmente estruturada, em ordem, sem problemas, sem confusão», frisou o Pontífice. «Nasceu sempre assim, e esta confusão, esta desordem deve ser arrumada: é verdade, porque é preciso pôr tudo em ordem; pensemos, por exemplo, no primeiro concílio de Jerusalém: havia a luta entre os judaizantes e os não-judaizantes; pensemos bem: realizam o concílio e resolvem os problemas».

«Isto acontece todas as vezes que a Igreja é anunciada pela primeira vez», frisou o Papa, referindo-se ao trecho da carta a Tito (1, 1-9) proposto pela liturgia como primeira leitura. «É isto que Paulo põe nas mãos de Tito: “Foi por isto que te deixei em Creta: para acabares de organizar tudo”». Em síntese, para que Tito «ponha ordem na Igreja». Mas Paulo «recorda-lhe» que o «aspeto mais importante é a fé, dá-lhe o tesouro, a transmissão da fé firme: “Paulo, servo de Deus, apóstolo de Jesus Cristo, para levar à fé aqueles que Deus escolheu e para revelar a verdade, em conformidade com a religiosidade autêntica, na esperança da vida eterna — prometida desde a eternidade por Deus que não mente e, no tempo estabelecido, e manifestada na sua palavra mediante a pregação que me foi confiada por ordem de Deus, nosso Salvador — a Tito, meu verdadeiro filho na nossa fé comum: graça e paz da parte de Deus Pai”».

Paulo «transmite todo esta “bagagem de experiências de fé”» a Tito, afirmou o Pontífice. E «depois diz: “organiza” essa Igreja, e que tu “estabeleças alguns anciãos em cada cidade, de acordo com as normas que te tracei”». Na verdade, pede-lhe que «estabeleça os bispos e escolha leigos; e fala — leremos isto amanhã — dos jovens, dos idosos, das viúvas, das mulheres: como todos devem ser escolhidos». Em síntese, Paulo «oferece critérios para a organização».

«Hoje — realçou Francisco — falarei sobre o perfil do bispo, do modo como Tito deve escolher os bispos e, com todos os sacerdotes que estão aqui, este parece um colégio presbiteral!». «Falemos, pois, do bispo como administrador de Deus: a definição que dá do bispo é “administrador de Deus”, não dos bens, do poder, dos grupinhos, não: de Deus». Por este motivo, afirmou o Papa, o bispo «deve corrigir-se sempre a si mesmo e interrogar-se: “Sou administrador de Deus ou um especulador?”». Dado que «o bispo é administrador de Deus, deve ser irrepreensível: este foi o mesmo pedido que Deus fez a Abraão: “Caminha na minha presença e sê irrepreensível”. Esta é a palavra fundamental, de um chefe».

Ainda na carta a Tito, São Paulo «diz o que o bispo não deve ser, e depois o que deve ser», afirmou o Pontífice. Portanto, o bispo «não deve ser arrogante, soberbo, colérico — que discute sempre — não se deve dar ao vinho — podemos dizer, aos vícios: o vinho era bastante comum naquela época, porque até às viúvas ele recomenda que não sejam dadas ao vinho. Vê-se que era um dos vícios mais comuns — não-violento — pensemos num bispo colérico, arrogante, dado ao vinho, violento».

«Um bispo deste tipo seria uma calamidade para a Igreja, mesmo se tivesse um só destes defeitos», observou o Papa. Além disso, o bispo não deve ser «ávido de lucros desonestos: não deve ser especulador, apegado ao dinheiro». «O bispo não deve ser assim».

«Como deve ser o bispo?», questionou-se então o Papa. E a sua resposta foi: «Hospitaleiro — dar hospitalidade — amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente, fiel à palavra fidedigna que lhe foi ensinada». E «todas estas virtudes “para ser capaz de exortar com a sua sã doutrina e de rejeitar os seus opositores”», como escreve São Paulo a Tito.

«Assim é o bispo, este é o perfil do bispo», insistiu o Pontífice. «E quando se fazem averiguações para a eleição dos bispos seria bom formular estas perguntas no início, para saber se se pode continuar». Mas «vê-se sobretudo que o bispo deve ser humilde, manso, servo, não príncipe». E «esta é a palavra de Deus: “Ah, sim, padre, é verdade, depois do Vaticano ii é preciso fazer assim” — “Não, depois de Paulo!”». Porque «esta não é uma novidade pós-conciliar, mas desde o início, quando a Igreja se deu conta de que se devia organizar com bispos deste tipo».

«Aqui somos só dois — prosseguiu o Papa — mas isto é para todos, para rezar pelos nossos bispos a fim de que sejam assim: não importa se são simpáticos, ou se têm habilidades nos métodos pastorais — sim, tudo isto é bom! — mas que sejam humildes, mansos, servos, com todas estas qualidades, e não com os vícios mencionados por Paulo». E «não se põe ordem na Igreja sem esta atitude dos bispos: e também com a dos sacerdotes e dos leigos, mas pensemos nos bispos». E «Paulo deixa Tito para pôr ordem em Creta, escolhendo bispos deste género».

«O bispo conta perante Deus, não se for simpático, se pregar bem, mas se for humilde, manso, servo, com todas estas virtudes», concluiu o Pontífice, confidenciando que propôs esta meditação também porque «na liturgia de hoje festejamos um bispo»: São Josafat Kuncewicz. E pediu para reler «este trecho e rezar pelos bispos: que sejam assim, como Paulo pede».

 



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