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CARTA APOSTÓLICA
DO PAPA JOÃO PAULO II
POR OCASIÃO DO TERCEIRO CENTENÁRIO
DA UNIÃO DA IGREJA GRECO-CATÓLICA DA ROMÉNIA
COM A IGREJA DE ROMA

 

Caríssimos Irmãos e Irmãs
da Igreja greco-católica da Roménia!

1. No tempo pascal deste Jubileu do Ano 2000 ocorre o terceiro centenário da União da vossa Igreja com a Igreja de Roma. O Ano Jubilar é um ano de graça, no qual a Igreja inteira recorda que nosso Senhor Jesus Cristo, há dois mil anos, se fez Homem no seio da Virgem Santíssima. Na jubilosa evocação do admirável evento, a comunidade cristã retoma coragem para, com renovado entusiasmo, anunciar ao mundo a alegre notícia da salvação.

Verbum caro factum est: este é o motivo do nosso reconhecimento perene, esta é a alegria recordada e celebrada de modo especial no período do Jubileu. Ao colocarmo-nos nesta perspectiva, podemos ver com os olhos da esperança toda a história da humanidade.

A recordação e a presença

2. Neste contexto inscrevem-se com particular relevo também os trezentos anos de existência da Igreja greco-católica da Roménia. Exactamente há um ano rezámos juntos na vossa querida Pátria. Durante a Divina Liturgia celebrada convosco na Catedral de São José, em Bucareste, afirmei que "considero providencial e cheio de significado que as celebrações do terceiro centenário coincidam com o Grande Jubileu do Ano 2000" (Homilia de 8 de Maio de 1999, n. 3).

O facto de ter podido estar no meio de vós, em Maio do ano passado, foi para mim um dom especial do Senhor, que me consentiu reviver de algum modo, juntamente convosco, a experiência daqueles discípulos que "iam para uma aldeia": "Jesus aproximou-se e começou a caminhar com eles" explicando "todas as passagens da Escritura que falavam a respeito d'Ele" (Lc 24, 13-15.27).

Iluminados pelas palavras de Cristo, pudemos contemplar também a sua presença reflectida no rosto da vossa Igreja. Depois, Ele nutriu-nos com o seu Corpo e com o seu Sangue, e os nossos corações ardiam (cf. ibid., v. 32).

3. A partir de então, ficaram gravadas na minha alma a beleza da vossa terra e a fé do povo que ali habita. A recordação desse encontro tornou-se ainda mais viva no tempo pascal deste ano, no qual se celebra também o terceiro centenário da União da vossa Igreja com a Igreja de Roma. O meu coração deseja unir-se a vós neste cântico de júbilo Hristos a înviat! (Cristo ressuscitou!) que na ocasião da minha visita me encheu de comoção, deixando em mim uma profunda ressonância. Esse anúncio ultrapassa as palavras: ele está repleto da força vitoriosa do Ressuscitado, que caminha com a sua Igreja na história. É na luz desta Presença que me dirijo a vós que estais a celebrar na alegria o terceiro centenário da União.

A história e a unidade

4. É no mistério da Encarnação que tem origem o mistério da unidade. Com efeito, as Escrituras afirmam que é vontade do Pai "recapitular em Cristo todas as coisas" (Ef 1, 10). Ao dar actuação a este mistério é que se explicita a missão da Igreja, cuja tarefa é realizar progressivamente a unidade com Deus e entre os homens: "A Igreja, em Cristo, é como que sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano" (Lumen gentium, 1). Na Igreja germinam a unidade e a paz: é deste modo que a história dos homens se pode tornar história de unidade.

O mistério da unidade marca de modo particular o povo romeno. Sabemos, e aqui recordo-o com profunda veneração, que Cristo ressuscitado, através da pregação apostólica, se uniu ao caminho histórico do vosso povo já na época paleocristã e a ele confiou um peculiar empenho no precioso serviço da unidade. Neste sentido, os nomes do apóstolo André, irmão de Pedro, de Niceta de Remesiana, de João Cassiano e de Dionísio, o Moço, são emblemáticos. A Providência divina dispôs que, no tempo em que a Santa Igreja ainda não tinha experimentado no seu interior a grande divisão, acolhêsseis, com a herança de Roma, também a de Bizâncio.

5. De facto, os romenos, permanecendo um povo latino, abriram-se para acolher os tesouros da fé e da cultura bizantina. Apesar da ferida da divisão, esta herança é compartilhada pela Igreja greco-católica e pela Igreja ortodoxa da Roménia. Aqui está a chave interpretativa da vicissitude histórica da vossa Igreja. Ela esteve enredada entre as tensões dramáticas que se desenvolveram entre o Oriente e o Ocidente cristão. Desde sempre, nos corações dos filhos e filhas dessa antiga Igreja pulsa com força a paixão pela unidade querida por Cristo. No ano passado, eu mesmo pude ser testemunha comovida disto.

Este anseio à unidade foi vivido de maneira singular pela Igreja romena na Transilvânia, sobretudo depois da tragédia da divisão entre a cristandade do Oriente e do Ocidente. Naquela terra muitos povos romenos, húngaros, arménios e saxões viveram juntos uma história comum, às vezes difícil, que deixou os seus vestígios na configuração humana e religiosa dos habitantes. Infelizmente, a unidade que caracterizou a Igreja dos primeiros séculos nunca mais foi alcançada e também a vossa história foi marcada com crescente intensidade pela divisão e pelas lágrimas.

Neste panorama resplandecem como luzes de esperança os esforços daqueles que, não se resignando à ferida da divisão, procuraram saneá-la. Na Transilvânia o desejo de restabelecer a perfeita comunhão com a Sé Apostólica do Sucessor de Pedro surgiu nos corações dos cristãos romenos e dos seus Pastores, sobretudo nos séculos XVI e XVII. Estes discípulos de Cristo, atraídos pela ardente aspiração à reforma da Igreja e à sua unidade, sentindo no mais íntimo dos seus corações um antigo vínculo com a Igreja e a Cidade do martírio e da sepultura dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, suscitaram um movimento que, passo a passo, chegou a actuar a plena união com Roma. Entre as etapas decisivas merecem ser recordados os Sínodos que se realizaram em Alba Júlia, nos anos 1697-1698, e se pronunciaram a favor da União: decidida de forma oficial a 7 de Outubro de 1698, foi solenemente ratificada no Sínodo de 7 de Maio de 1700.

6. Graças à obra de Bispos ilustres, como Atanásio Anghel (+1713), João Inocêncio Micu-Klein (+1768), Pedro Paulo Aron (+1764) e de outros beneméritos Prelados, sacerdotes e leigos, a Igreja greco-católica da Roménia fortaleceu a própria identidade e conheceu, em breve tempo, um desenvolvimento significativo. Em consideração disto, com a Bula Ecclesiam Christi de 16 de Novembro de 1853, o meu venerado predecessor Pio IX quis erigir a Sede Metropolitana de Fagaras e Alba Júlia para os Romenos unidos.

Como não reconhecer os preciosos serviços prestados pela Igreja greco-católica ao inteiro povo romeno da Transilvânia? Ao seu crescimento ela ofereceu um contributo decisivo, representado de maneira simbólica pelos "corifeus" da Escola transilvana de Blaj, mas também por numerosas personagens eclesiásticas e leigas que deixaram uma marca indelével também na vida eclesial, cultural e social dos Romenos. Mérito insigne da vossa Igreja foi, em particular, o facto de ser intermediária entre o Oriente e o Ocidente, assumindo por um lado os valores promovidos na Transilvânia pela Santa Sé; e por outro comunicando à catolicidade inteira os valores do Oriente cristão, que por causa da divisão existente eram pouco acessíveis. A Igreja greco-católica tornou-se por isso um testemunho eloquente da unidade da Igreja inteira, mostrando como ela inclui em si os valores da instituição, ritos litúrgicos, tradições eclesiásticas que, por vias diversas, remontam à própria tradição apostólica (cf. Orientalium Ecclesiarum, 1).

Testemunhas e mártires da unidade

7. O caminho da Igreja greco-católica da Roménia jamais foi fácil, como demonstram as suas vicissitudes. Ao longo dos séculos, foi-lhe pedido um doloroso e difícil testemunho de fidelidade à exigencia evangélica da unidade. Assim, ela tornou-se de modo especial a Igreja das testemunhas da unidade, da verdade e do amor. Não obstante as numerosas dificuldades encontradas, a Igreja greco-católica da Roménia, diante da inteira comunidade ecuménica crista, mostrou-se sempre mais como testemunha singular do valor irrenunciável da unidade eclesial. Mas é sobretudo na segunda metade do século XX, na época do totalitarismo comunista, que a vossa Igreja teve de sofrer uma prova duríssima, merecendo justamente o título de "Igreja dos confessores e dos mártires". Foi então que se manifestou com maior evidencia a luta entre o mysterium iniquitatis (cf. 2 Ts 2, 7) e o mysterium pietatis (cf. 1 Tm 3, 16), que actuavam no mundo. E é também a partir de então que a glória do martírio resplandece com maior clareza no rosto da vossa Igreja, como luz que se reflecte na consciência dos cristãos do mundo inteiro, suscitando-lhes admiração e gratidão.

8. Impelido por esta consciência, aproveitei todas as ocasiões para obter notícias de vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, e agora desejo fazer-vos chegar uma ulterior expressão da minha solidariedade e do meu apoio. Quando, no ano passado, durante a peregrinação na vossa Terra, me foi dado orar juntamente convosco no cemitério católico de Bucareste, fi-lo levando no meu coração toda a Igreja de Cristo e, juntamente com a Igreja inteira, ajoelhei-me em silêncio junto dos túmulos dos vossos mártires. De muitos deles nem conhecíamos o lugar da sepultura, porque o perseguidor os tinha privado também deste último sinal de distinção e de respeito. Mas os seus nomes encontram-se inscritos no Livro dos vivos e cada um deles recebeu "uma pedrinha branca, na qual está escrito um nome novo que ninguém conhece; só quem a recebe" (Ap 2, 17). O sangue destes mártires é um fermento de vida evangélica que age não só na vossa terra, mas também em muitas outras partes do mundo.

Nesta "multidão imensa" (Ap 7, 9), vestida de branco (cf. ibid., v. 13), de mártires e de confessores da vossa Igreja, "que vieram da grande tribulação e lavaram e branquearam as suas roupas no sangue do Cordeiro" (ibid., v. 14) e que "ficam diante do trono de Deus" (ibid., v. 15), resplandecem os nomes ilustres de Bispos como Vasile Artenie, Ioan Bälan, Valériu Traian Frentin, Joan Suciu, Tit Liviu Chinezu, Alexandru Rusu e do Cardeal Iuliu Hossu. Estes, como os orantes que "servem a Deus dia e noite no Seu templo" (ibidem), juntamente com os outros mártires e confessores intercedem pelo seu povo, recebendo da parte deste uma veneração verdadeira e profunda. O testemunho do martírio e a profissão de fé em Cristo e na unidade da sua Igreja elevam-se como o incenso do sacrifício vespertino (cf. Sl 141, 2) ao trono de Deus, no nome de toda a Igreja, da qual gozam a estima e a devoção!

Revisitar o passado: a purificação da memória

9. O esplendor do testemunho de fé e o serviço generoso à unidade devem ser sempre acompanhados, na Igreja, pelo incansável empenho na verdade, no qual o dinamismo da esperança se purifica e se consolida. Este é o clima do Jubileu do Ano 2000, por ocasião do qual a Igreja inteira sente o dever de reexaminar o seu passado, para reconhecer as incoerências em que incorreram os seus filhos a respeito do ensinamento evangélico e poder assim caminhar com o rosto purificado rumo ao futuro querido por Deus.

As dificuldades actuais que a vossa Igreja encontra para se recuperar após a supressão, assim como os recursos humanos e materiais limitados que lhe detém o impulso, poderiam debilitar os ânimos. Mas o cristão sabe que quanto maiores são os obstáculos com que se deve medir, tanto mais confiadamente pode contar com a ajuda de Deus, que lhe está próximo e caminha com ele. Isto é recordado também no vosso magnífico cântico "Deus está connosco", tão rico de significado e tão profundamente impresso na alma do vosso povo.

Neste Jubileu a vossa Igreja, juntamente com a Igreja universal, tem o dever de retornar ao próprio passado e, sobretudo, ao período das perseguições para actualizar o próprio "martirológio". Não é uma tarefa fácil por causa da escassez das fontes e do tempo transcorrido, um tempo muito breve para a maturação de um juízo bastante imparcial, mas também bastante longo para expor a desagradáveis esquecimentos. Felizmente ainda vivem muitas testemunhas do passado recente. Portanto, é imperioso pôr em prática os esforços necessários para enriquecer a documentação acerca dos eventos transcorridos, de maneira a consentir às gerações futuras o conhecimento da sua história, examinada de maneira crítica e por isso digna de fé. Nesta perspectiva, será oportuno que o testemunho e o martírio oferecidos pela vossa Igreja sejam examinados no contexto mais amplo dos sofrimentos e das perseguições sofridas pelos cristãos no século XX.

Na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente fiz uma referência específica aos mártires do nosso século, "muitas vezes desconhecidos, como que "milites ignoti" da grande causa de Deus" (n. 37) e afirmei que "no final do segundo milénio, a Igreja se tornou novamente Igreja de mártires... O seu testemunho, dado por Cristo até ao derramamento do sangue, tornou-se património comum de católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes... É um testemunho que não se pode esquecer" (ibid.). Na fé e no martírio destes cristãos a unidade da Igreja aparece numa luz nova. O seu sangue, derramado por Cristo e com Cristo, é uma base segura sobre a qual fundar a busca da unidade de toda a comunidade ecuménica cristã.

Em Bucareste, pus em evidência o facto que também na Roménia sofrestes juntos: "O regime comunista suprimiu a Igreja de rito bizantino-romeno unida a Roma e perseguiu Bispos e sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, não poucos dos quais pagaram com o sangue a sua fé em Cristo... Quereria tributar o devido reconhecimento também àqueles que, pertencentes à Igreja ortodoxa romena e a outras Igrejas e Comunidades religiosas, sofreram perseguições análogas e graves limitações. A morte uniu estes nossos irmãos de fé no heróico testemunho do martírio: eles deixam-nos uma inesquecível lição de amor a Cristo e à sua Igreja" (Discurso durante a cerimónia de boas-vindas, Aeroporto de Bucareste, 7 de Maio de 1999, n. 4). A respeito disso, encorajo-vos também agora, na celebração do Jubileu e do terceiro centenário da vossa União, a descobrir e valorizar as figuras dos mártires da Igreja greco-católica da Roménia, reconhecendo o seu mérito de ter dado um notável impulso à causa da unidade de todos os cristãos.

10. Além disso, será muito útil considerar a situação hodierna à luz da vossa história. De facto, parece necessário um exame aprofundado do contexto, do espírito e das decisões dos vossos Sínodos que se realizaram nos anos 1872, 1882 e 1900. A mesma análise histórica deveria referir-se também a outros importantes eventos que marcaram a história da Igreja greco-católica romena. O exemplo dos ilustres estudiosos da Escola transilvana de Blaj, que realizaram um exame minucioso dos acontecimentos, inspirado numa séria análise histórica e linguística, pode ser útil para esta pesquisa como uma importante base de referência, a fim de obter resultados credíveis.

No âmbito deste tipo de reexame, não deixarão de ser evidenciados os aspectos fundamentais para a tradição teológica, litúrgica e espiritual da Igreja greco-católica da Roménia. Desse modo, a identidade da vossa Igreja e o seu perfil espiritual aparecerão com um vigor novo, contribuindo para a cultura tanto da Roménia quanto da inteira comunidade ecuménica cristã. Encorajo e abençôo do íntimo do coração todo o esforço que for feito quanto a isto.

Dever-se-á também resolver com especial empenho o problema da recepção do Concílio Vaticano II por parte da Igreja greco-católica da Roménia. Por causa das perseguições feitas naquela época, a vossa Igreja não teve a possibilidade de participar de modo pleno naquele evento histórico, nem sentiu a acção do Espírito de modo clarividente. Foi precisamente aquele Concílio que enfrentou com maior atenção as delicadas questões das Igrejas orientais católicas, do ecumenismo e da Igreja em geral. O ensinamento conciliar encontrou depois a sua continuidade no sucessivo Magistério. É de bom grado que reconheço que hoje em dia a Igreja greco-católica da Roménia está empenhada num longo e laborioso esforço para acolher plenamente as indicações da Santa Sé.

Sinal da unidade

11. Graças à presença do Espírito Santo, a multiformidade na Igreja pode resplandecer de beleza inefável, sem causar prejuízo à unidade. A respeito disso, o Concílio Vaticano II falou dos tesouros das Igrejas orientais em comunhão com Roma: "Com efeito, ilustres em razão da sua veneranda antiguidade, nelas brilha aquela tradição que vem dos Apóstolos através dos Padres e que constitui parte do património divinamente revelado e indiviso da Igreja universal" (Orientalium Ecclesiarum, 1). A inteira comunidade ecuménica cristã tem, por conseguinte, necessidade da sua voz e da sua presença: "A santa Igreja católica, Corpo místico de Cristo, consta de fiéis que se unem organicamente no Espírito Santo pela mesma fé, pelos mesmos sacramentos e pelo mesmo regime. Juntando-se em vários grupos unidos pela Hierarquia, constituem as Igrejas particulares ou os ritos. Entre elas vigora uma comunhão admirável, de tal forma que a variedade na Igreja longe de prejudicar-lhe a unidade, antes a manifesta" (ibid., n. 2).

Sustentada pelos ensinamentos do Concílio Vaticano II, a Igreja católica está empenhada com toda a determinação, sobretudo no decurso das últimas décadas, no caminho da busca da unidade entre os discípulos de Cristo. Os meus imediatos predecessores, a começar por João XXIII de venerada memória, multiplicaram os esforços a favor da reconciliação ecuménica, em particular com as Igrejas ortodoxas, reconhecendo nisto uma precisa exigência que deriva do Evangelho e uma resposta aos impulsos insistentes do Espírito Santo. Sob o olhar misericordioso do seu Senhor, a Igreja faz memória do seu passado, reconhece os erros dos seus filhos e confessa a sua falta de amor para com os irmãos em Cristo e, por conseguinte, pede perdão e perdoa, procurando restabelecer a plena unidade entre os cristãos.

12. A tentativa de buscar a comunhão plena está sem dúvida condicionada pelo contexto histórico, pela situação política e pela mentalidade dominante de todas as épocas. Neste sentido, a União transilvana conformou-se ao modelo de unidade que prevalecia depois dos Concílios de Florença e de Trento. Naquele tempo, foi o desejo ardente da unidade que levou os Romenos da Transilvânia à união com a Igreja de Roma e, por este dom, todos nós estamos profundamente gratos a Deus. Contudo, visto que a comunhão entre as Igrejas nunca pode ser considerada uma meta atingida de maneira definitiva, ao dom da unidade, oferecido pelo Senhor Jesus uma vez por todas, deve corresponder uma constante atitude de acolhimento, fruto da conversão interior de cada um. As mudadas circunstâncias do presente requerem, de facto, que se persiga a unidade num horizonte ecuménico mais amplo, no qual é preciso tornar-se disponível à escuta do Espírito e reflectir com coragem sobre as relações com as outras Igrejas e com todos os irmos em Cristo, na atitude de quem sabe "esperar contra toda a esperança" (cf. Rm 4, 18).

Precisamente a propósito do dom da unidade, na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente eu observava: "É-nos pedido para secundar este dom, sem cairmos em abdicações nem reticências no testemunho da verdade" (n. 34). Portanto, será necessário reconsiderar a história tricentenária da Igreja greco-católica da Roménia com ânimo novo, mediante uma abordagem calma e serena das vicissitudes que lhe marcaram o caminho.

Assim como encorajei o processo de revisão das modalidades de exercício do serviço petrino no interior da comunidade ecuménica crista, salvaguardadas as exigências derivantes da vontade de Cristo (cf. Enc. Ut unum sint, 95), de igual modo exorto a iniciar uma actualização e um aprofundamento da vocação específica das Igrejas orientais em comunhão com Roma no novo contexto, fazendo apelo ao contributo de estudo e de reflexão de todas as Igrejas. As Comissões teológicas, estabelecidas pelos Pastores da Igreja católica e das Igrejas ortodoxas no seu conjunto, se esforcem por trabalhar nesta complexa perspectiva. Actualmente, diante dos cristãos apresenta-se o problema de "como receber os resultados conseguidos até agora. Estes não podem permanecer como simples afirmações das Comissões bilaterais, mas devem tornar-se um património comum. Para que isto se verifique, reforçando assim os laços de comunhão, é preciso um sério exame que, segundo modos, formas e competências diversas, há-de envolver todo o povo de Deus" (Enc. Ut unum sint, 80). Para que "este processo... tenha êxito favorável, é necessário que os seus resultados sejam oportunamente divulgados" (Ibid., n. 81). A busca da unidade entre os cristãos, no amor e na verdade, é elemento fundamental para uma evangelização mais incisiva. De facto, por vontade de Cristo, a Igreja é una e indivisível. Um retorno autentico às tradições litúrgicas e patrísticas, tesouro que compartilhais com a Igreja ortodoxa, contribuirá para a reconciliação com as outras Igrejas presentes na Roménia. Neste espírito de reconciliação deve-se encorajar de maneira calorosa o prosseguimento do diálogo entre a vossa Igreja e a Igreja ortodoxa, a níveis quer nacional quer local, na esperança de que logo todos os pontos controversos sejam esclarecidos em espírito de justiça e de caridade cristã.

O espírito do diálogo requer, ao mesmo tempo, que a vossa Igreja descubra cada vez mais, com acção de graças, o rosto de Jesus Cristo, que o Espírito Santo delineia na Igreja irmã ortodoxa, e é para esperar que esta última faça o mesmo em relação a vós. Assim, dareis o testemunho ao qual o apóstolo Paulo convida os cristãos de Roma (cf. Rm 12, 9-13).

Importância da oração

13. Mediante o Jubileu a Igreja procura renovar-se na luz jubilosa de Cristo ressuscitado, convidando os seus filhos a corresponderem à graça divina, com um sério exame de consciência e o esforço da purificação e da penitência. É um longo processo que teve início no tempo do Concílio Vaticano II e ainda não se concluiu. Redescubramos aquela que sempre foi a raiz santa que nutre a Igreja: a Palavra de Deus, interpretada factis et verbis pela Liturgia, pelos Concílios, pelos Padres e pelos Santos. Mas repitamos também com força que a fonte principal da unidade na Igreja é a Santíssima Trindade (cf. Lumen gentium, 1-8).

Também a Igreja greco-católica da Roménia aprofunda as suas raízes na Palavra de Deus, no ensinamento dos Padres e na tradição bizantina, mas além disso encontra uma sua peculiar expressão na união com a Sé Apostólica e no estigma das perseguições do século XX, bem como na latinidade do seu povo. É de todos estes elementos que resulta a identidade da vossa Igreja, cuja raiz última é a Santíssima Trindade. Esta é a origem primeira, a fonte "de água viva" (Jo 7, 38), à qual é necessário recorrer continuamente.

A minha firme convicção é de que o retorno às nascentes das tradições eclesiais deve ser acompanhado por um constante e fervoroso recurso à Fonte trinitária. Isto poderá acontecer sobretudo graças à recuperação daquela intimidade profunda de cada um de nós, que se exprime na oração. A oração dá força e ilumina o caminho do homem. No profundo silêncio da experiência orante pode-se chegar a reconhecer o verdadeiro perfil da Igreja, na sua autêntica e eterna identidade, e pode-se descobrir também aquele nome conhecido somente por Deus, que constitui a identidade mais verdadeira de cada cristão. Por este motivo o Jubileu do Ano 2000, assim como o terceiro centenário da União da vossa Igreja com Roma, é o tempo da oração ao qual o próprio Deus nos convida.

A toda santa Mãe de Deus nos ilumine e acompanhe. Ela, que permanece sempre o ícone perfeito da Igreja e nossa advogada junto do trono de Deus.

Com estes votos, concedo de coração a propiciadora Bênção Apostólica ao Venerado Irmão Cardeal Alexandru Todea, Arcebispo-Metropolita Emérito de Fagaras e Alba Júlia, ao actual Arcebispo-Metropolita, Lucian Muresan, aos outros Irmãos no Episcopado, aos Sacerdotes, às Religiosas e a todos vós, amados Fiéis da Igreja greco-católica da Roménia.

Vaticano, 7 de Maio de 2000, vigésimo segundo ano de Pontificado. 

PAPA JOÃO PAULO II

 

 



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