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VISITA PASTORAL À  ALBANO LAZIALE
19 DE SETEMBRO DE 1982

SANTA MISSA NA PRAÇA CENTRAL

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Albano, 19 de Setembro de 1982  

 

1."Diz o Senhor: 'Eu sou a salvação do meu povo'" (Antífona da entrada).

Desejo repetir estas palavras da Liturgia de hoje ao encontrar-me convosco, caros Irmãos e Irmãs: convosco, na presença do novo Bispo de Albano, D. Dante Bernini. Convosco, sacerdotes, religiosos e religiosas. Convosco, pais e esposos. Convosco, provados pela velhice. Convosco, caríssimos doentes. Convosco, amados jovens. Convosco, queridas crianças. Com todos.

Desejo que este encontro constitua uma expressão de convite, com que Deus nos chama constantemente mediante o Evangelho, e uma expressão da verdade que o Senhor é a salvação do seu povo.

Foi assim que o eco daquele convite salvífico pôde ultrapassar os muros da Urbe e atingir as campinas dos arredores, encontrando entre a população dos centros circunstantes corações generosos de pessoas bem dispostas. Surgiram deste modo outras tantas Comunidades de fervorosos cristãos, que mantinham especiais vínculos de comunhão com a Sé romana, da qual recebiam luz e orientação e à qual ofereciam, quando necessário, o apoio e a ajuda das suas melhores energias. Para tais Igrejas, dispostas na região que se estende entre o mar e as colinas do Lácio, a aproximação geográfica a Roma torna-se razão de uma aproximação espiritual toda particular.

Com o passar do tempo, os Bispos a elas destinados tiveram de desempenhar as funções de primeiros colaboradores do Papa no serviço da Igreja universal. Historicamente, antes, merece ser recordado que os titulares destas Sés, juntamente com os outros membros dos grãos superiores do Clero romano, foram chamados a constituir o colégio dos "Cardeais da Santa Igreja Romana", aos quais competia o dever de eleger, por morte do Papa, o legitimo sucessor.

Em homenagem a um passado tão glorioso, o Papa João XXIII quis dar maior dignidade e prestígio às "Sés suburbicárias" estabelecendo que, além de um Cardeal titular, elas tivessem o próprio Bispo residencial, que atendesse com plena dedicação às exigências pastorais emergentes das mudadas situações hodiernas.

Se nos perguntamos qual tenha sido o serviço prestado por estas Igrejas ao convite que Deus dirigiu, e ainda hoje dirige, à humanidade necessitada de salvação, a resposta parece clara: foi um serviço singular, que ultrapassou largamente os limites geográficos em que se movem os fiéis das várias Comunidades diocesanas, e se estendeu, mediante a estreita colaboração com o Sucessor de Pedro, a todas as Igrejas irmãs, espalhadas no mundo. E é precisamente este particularíssimo papel, reservado no plano de Deus a estas igrejas dispostas ao redor da diocese de Roma como esplêndida grinalda, que as destina à veneração e ao afecto de todos os que na Sé romana vêem o centro da comunhão católica.

3. Entre estas Igrejas, que a Providência distinguiu com uma particular tarefa, está também a vossa, caríssimos fiéis da diocese de Albano. Quais e quantos são os vínculos que ligam a vossa Cidade com a de Roma! O meu pensamento dirige-se neste momento para os vínculos de carácter eclesial que desde a antiguidade se estreitaram entre as duas Comunidades cristãs.

O Liber Pontificalis recorda que o imperador Constantino "fecit basilicam in civitate Albanensi sancti Iohannis", "construiu na cidade de Albano uma basílica dedicada a São João" (ed. Duchesne, I, p. 184). Uma basílica, portanto, irmã da Arquibasílica Lateranense, que o mesmo imperador mandara construir em Roma, dedicada, também ela, a S. João Baptis ta. Desde o século IX S. Pancrácio veio fazer companhia ao Precursor,' como titular da vossa igreja catedral,' e assim novo vínculo se acrescentou aos já existentes: a tradição de um Santo romano, a quem a população de Albano dedica ainda hoje sincera e profunda devoção.

Como não sublinhar que dois Bispos de Albano foram elevados à Cátedra de Pedro: Adriano IV, no século XII; e Leão XI no início do século XVII? Os Papas, por sua parte, manifestaram desde os tempos antigos particular benevolência por esta Cidade: não se devem talvez à generosidade deles a construção ou o embelezamento de alguns dos mais insignes templos que ornam o seu centro e os arredores?

Devo além disso mencionar o precioso auxilio que muitos Bispos de Albano ofereceram à Sé Apostólica, merecendo o direito ao reconhecimento dos Papas e da Igreja inteira. De entre todos é-me grato recordar S. Boaventura, um dos maiores Doutores da Igreja, que foi Bispo de Albano, durante a segunda metade do século XIII.

Não existe talvez em toda esta riqueza de dados históricos uma prova evidente da particular presença de Deus no caminho que a vossa Comunidade percorreu no decurso dos séculos? Deus continuou a fazer ressoar de geração em geração aos ouvidos dos Albanenses — e por meio deles aos de tantos outros — o alegre anúncio: "Eu sou a salvação do meu povo".

4. Este mesmo anúncio deve ressoar também hoje na Comunidade constituída pelos actuais cidadãos de Albano, isto é, por vós, caríssimos Irmãos e Irmãs.

A hodierna situação da diocese mudou de modo notável em relação ao passado. Bastaria, para demonstrá-lo, a referência a um simples dado estatístico: os habitantes da diocese, que em 1951 eram apenas 97.000, superam agora as 300.000 unidades; e é número que no período estivo quase se triplica.

Para além deste dado externo, porém, há, mais em profundidade, a incisiva transformação causada no contexto social pelo desenvolvimento industrial que deu, a partir dos anos sessenta, novo aspecto à economia da região, antes eminentemente agrícola e agora caracterizada pelo estabelecimento de centenas de fábricas. A primeira consequência desta transformação concentra-se na explosão demográfica: a maciça imigração de pessoas e de núcleos familiares de todas as partes da Itália não influiu somente nos antigos centros urbanos, mas até mesmo criou novos, transformando pequenos agrupamentos rurais em verdadeiras e próprias cidades.

Trata-se de um imponente movimento demográfico, cuja incidência no plano religioso, cultural e social está ainda em boa parte para ser explorada. As pessoas imigradas, desenraizadas da terra de origem e costumes de vida antigos e consolidados, trazem ao novo ambiente tradições e valores que são destinados, por falta de pontos seguros de referência, a sucumbir e a desaparecer no confronto com a invasão de estranhos modelos culturais.

Os problemas que preocupam o pastor de almas não são poucos nem pequenos. Nestes anos trabalhou-se muito, sob a orientação de zelosos Bispos como D. Macário e D. Bonicelli para com adequadas iniciativas pastorais responder às novas exigências impostas pela situação mudada. Valho-me de bom grado desta circunstância para tributar um devido reconhecimento a estes dignos Pastores que estão aqui presentes esta tarde; além disso é-me caro estender o meu apreço e a minha especial saudação as Eminentíssimo Cardeal Carpino, que não tem deixado de oferecer de muitos modos amparo e apoio à Igreja de que é titular.

Muitas, coisas foram feitas nos anos transcorridos, mas ainda muito resta fazer para levar a todos o libertador anúncio que escutámos na Liturgia de hoje: "Diz o Senhor: Eu sou a salvação do meu povo". É toda a Igreja de Albano, unida ao redor do seu novo Bispo, que deve fazer-se eco deste anúncio de salvação. Ao apresentar cordial augúrio de fecundo ministério a D. Dante Bernini, que há pouco iniciou o seu serviço nesta diocese a mim tão cara, dirijo a todos vós — sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos — um caloroso convite ao empenho do anúncio e do testemunho, da palavra e da vida.

Para desenvolver uma eficaz obra de evangelização é indispensável que todas as componentes eclesiais se apresentem unidas entre si pelo vínculo daquela caridade que tem a sua borbulhante fonte no coração de Cristo. No mundo de hoje a vossa acção, caros Irmãos e Irmãs, terá incidência e obterá frutos se se tornar expressão de uma única missão, embora na rica variedade dos carismas. Com este mote: "Muitos carismas, uma só missão" apresentastes-vos a mim no encontro do ano passado em Castel Gandolfo. Retomo agora este mote, para vo-lo confiar novamente como uma palavra de ordem e como uma específica recomendação. Empenhai-vos em viver em plenitude a comunhão eclesial. Será este testemunho de vida vivida o melhor aval ao anúncio que tantos irmãos e irmãs esperam hoje de vós: "Diz o Senhor: Eu sou a salvação do meu povo".

5. Sinto-me ligado, com um vínculo de particular aproximação, à diocese de Albano. É-me dado passar aqui (em Castel Gandolfo) algumas semanas do ano. Aqui, juntamente convosco e com os peregrinos, que por causa disso chegam de diversas partes da Itália e do mundo, todos os domingos por ocasião da prece do Angelus medito na palavra de Deus a nós oferecida na liturgia dominical.

Hoje, esta palavra parece quase fazer referência â festa da Exaltação da Santa Cruz que — como também a comemoração da Bem-aventurada Virgem das Dores — foi celebrada na semana passada. No Evangelho escutámos as palavras: "O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens que O hão-de matar, mas três dias depois de ser morto, ressuscitará" (Mc 9, 31). Também a primeira leitura e o salmo responsorial têm o carácter de paixão.

Contudo, as palavras pronunciadas por Cristo não encontram a compreensão: "Eles, porém, não compreendiam semelhante linguagem e tinham receio de O interrogar" (Mc 9, 32) — ao invés, "pelo caminho... tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior" (Mc 9, . 34).

Então Jesus "chamou os doze e disse-lhes: Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos" (Mc 9, 35).

Cristo repetirá este convite na vigília da sua paixão quando lavar os pés dos Apóstolos.'

E eu, terminando esta minha reflexão aqui diante da igreja catedral de Albano, desejo augurar a vós todos, caros Irmãos e Irmãs, que estimeis este serviço para o qual nos chama o Cristo Senhor. Sirva o Papa e o Bispo! Sirvam os Sacerdotes! os Religiosos e as Religiosas! os pais e os Jovens! os Doentes e os Sadios! Todos!

Neste recíproco serviço cristão se realize a nossa vida como a vocação com que Cristo nos chamou mediante o Evangelho, para obtermos a sua salvação.

 



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