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HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II 
NO OFÍCIO DAS VÉSPERAS
 "TE DEUM"

31 de Dezembro de 1997

 

1. «Ubi venit plenitudo temporis, misit Deus Filium suum...». 

«Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que se encontravam sob o jugo da Lei e para que recebêssemos a adopção de filhos» (Gl 4, 4). 

A expressão latina plenitudo temporis indica que o mistério da Encarnação assinala a plenitude dos tempos. O Filho de Deus, ao fazer-Se homem, entrou na dimensão temporal e, com a Sua presença, introduziu-a na eternidade. Jesus Cristo, o Verbo, o Filho consubstancial ao Pai, Deus de Deus, pertence por Si mesmo à dimensão divina da eternidade mas, ao tornar-Se homem, acolheu em Si a dimensão do tempo. O nascimento do Redentor em Belém deu assim início a um novo modo de contar os anos: costuma-se, de facto, dizer «antes» e «depois» de Cristo.

2. Christus heri et hodie, Principium et Finis, Alpha et Omega. Ipsius sunt tempora et saecula. Ipsi gloria et imperium per universa aeternitatis saecula. A liturgia faz proclamar estas palavras durante a Vigília pascal, enquanto se gravam os números do ano no Círio pascal, símbolo de Cristo ressuscitado. O tempo pertence a Cristo. O Filho de Deus, ao fazer-Se homem, aceitou como medida da Sua existência terrena o tempo, que submeteu a Si. Por Sua obra a história do homem e a salvação encontram-se e fundem-se. 

Hoje, último dia do ano, queremos olhar para os dias, as semanas, os meses transcorridos, como para um ulterior fragmento da história da salvação, que a todos nós concerne. Na atmosfera espiritual que caracteriza este tempo natalício, a Diocese de Roma, em comunhão com a inteira cristandade difundida em todas as partes do mundo, detém-se nesta tarde para reflectir sobre 1997, um outro ano solar que dentro de pouco deixaremos atrás. 

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs, o ano que hoje se conclui, no que se refere à nossa comunidade diocesana, está ligado de maneira preeminente à Missão da Cidade que, após um período de preparação, foi envolvendo cada vez mais as paróquias e todas as realidades eclesiais. Trata-se da execução de um trabalho de evangelização comunitário e permanente que se demonstra, com a graça de Deus, uma via singularmente eficaz para anunciar o Evangelho aos habitantes da nossa Metrópole. 

Durante a passada Quaresma cerca de doze mil missionários, na grande maioria leigos, visitaram as famílias da Cidade para oferecer como dom o Evangelho de Marcos. O gesto de entrar com o Evangelho nas casas e o bom acolhimento, que em geral foi reservado aos missionários, são por si mesmos altamente significativos: os Romanos, mesmo os que não frequentam ou frequentam pouco a Igreja, esperam encontrar o Senhor. Isto é confirmado, ainda, pelo notável interesse e pela ampla participação que suscitaram os encontros sobre o tema da fé e da busca de Deus, que se realizaram na Basílica-Catedral de São João de Latrão. Através deles estabeleceu-se um diálogo sincero entre quem anuncia Cristo e quem está em busca de respostas exaustivas aos interrogativos fundamentais da vida. 

A Missão convida-nos a olhar para o futuro, a fim de prepararmos o terreno para a evangelização desta nossa Cidade, em vista do terceiro milénio. Para isto, na última parte do ano reservámos especial atenção aos jovens, aos quais eu mesmo me dirigi a 8 de Setembro, festa da Natividade de Maria, com uma apropriada carta, exortando-os a ser protagonistas no anúncio e no testemunho de Cristo aos seus coetâneos. Faço votos por que a paixão pelo Evangelho penetre cada vez mais na alma de muitos jovens romanos

4. Enquanto, no decurso desta celebração, abraçamos na oração a inteira comunidade citadina, quereria dirigir uma saudação cordial ao caro Cardeal Ruini, com os seus Bispos Auxiliares, e ao Padre Kolvenbach, Prepósito-Geral da Companhia de Jesus, a cujos Religiosos está confiada a igreja que nos acolhe. A saudação alarga-se depois a todos os habitantes da Cidade. Em primeiro lugar ao Presidente da Câmara Municipal, que também neste ano quis estar presente neste rito para oferecer, em nome da Administração, o tradicional cálice votivo. Saúdo, além dele, os membros da Junta e do Conselho Municipal, que terei a alegria de encontrar no dia 15 de Janeiro próximo, durante a visita ao Capitólio. Saúdo os agentes sociais ao serviço da população e os voluntários empenhados em múltiplas actividades. Uma recordação particular dirige-se a quantos estão em dificuldade e transcorrem, entre contratempos e sofrimentos, estes dias de festa. A todos e a cada um asseguro o meu afectuoso pensamento, corroborado por constante oração. 

Ao concluir o ano de 1997, surge espontânea uma confiante súplica ao Senhor, a fim de que dê o seu Espírito de sabedoria e de fortaleza aos anunciadores do Evangelho e abra o coração, a consciência e a vida de cada um para acolher sem temor o Cristo que vem. Olhando para o ano transcorrido, quereria depois dar graças a Deus, que me concedeu visitar outras comunidades paroquiais, atingindo assim o número global de 265 paróquias, desde o início do meu ministério episcopal em Roma. Também na variedade das condições sociais, encontrei em toda a parte comunidades vivas, desejosas de crescer na fé e no testemunho operoso da caridade cristã. 

Esta rede de paróquias, que abrange o inteiro território da Diocese e se vai completando também nas suas estruturas, em vista do grande Jubileu, representa para a própria cidade de Roma um recurso de inestimável valor. Com efeito, favorece a consolidação de relações sociais marcadas pelo conhecimento recíproco, amizade e a solidariedade. Contribui enormemente tanto para a educação dos meninos e dos jovens como para a capacidade moral das famílias, o acolhimento dos marginalizados, o cuidado das pessoas sozinhas e sofredoras. 

5. Cada comunidade paroquial, como toda a forma específica de pastoral diocesana, para bem funcionar, tem necessidade do serviço generoso e fiel dos sacerdotes. Agradeço, portanto, ao Senhor ter podido ordenar, no domingo 20 de Abril passado, trinta novos sacerdotes para a nossa Diocese.

O Seminário Romano, juntamente com os outros Seminários nos quais é preparado o clero da nossa Diocese, oferece, pela graça do Senhor, um qualificado itinerário formativo em que a seriedade dos estudos é acompanhada por uma intensa vida de oração e um empenho de uma autêntica comunhão fraterna. Enquanto encorajo os responsáveis pela formação a continuarem no seu trabalho meritório, o meu pensamento dirige-se antes de tudo ao Cardeal Ugo Poletti, que o Senhor chamou a Si no dia 25 de Fevereiro deste ano. Recordamo-lo hoje, renovando a nossa gratidão a Deus pelo bem que, através dele, realizou nesta Igreja e nesta Cidade. E com o Cardeal Poletti confiamos ao Senhor os outros sacerdotes falecidos no decorrer do ano, entre os quais o caríssimo Monsenhor Luigi Di Liegro. O testemunho e a obra de sacerdotes que dedicaram a vida a Deus e aos irmãos representam uma herança e um exemplo precioso para o clero e para a inteira comunidade diocesana. 

Outro motivo de profunda gratidão ao Senhor é o sensível aumento das vocações sacerdotais, que deixa bem esperar quanto ao futuro da nossa comunidade. Exprimo, aqui, os votos por que também para as vocações à vida consagrada, e especialmente para as vocações religiosas femininas, se possa registrar um aumento análogo, rico de promissores frutos apostólicos para todos. E isto acontecerá, estou certo, se sacerdotes e comunidades paroquiais tiverem ao seu lado o trabalho generoso que, neste sentido, está a ser realizado pelos Institutos de Vida Consagrada.

6. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Detivemo-nos a considerar alguns aspectos daquilo que Deus realizou neste ano na nossa Diocese. Ao dirigir o olhar para os meses transcorridos, surge natural o desejo de pedir perdão e de dar graças a Deus: pedir perdão pelas culpas cometidas e pelas faltas e carência registradas, confiando tudo à misericórdia divina; e, depois, dar graças por quanto Deus nos concedeu cada dia. Por isto cantamos o Te Deum: louvamos a Deus e damos-Lhe graças pelo bem que nos concedeu e que assinalou os vários momentos do ano, já no seu termo:

Salvum fac populum tuum,
Domine, et benedic hereditati tuae...
Per singulos dies benedicimus te;
et laudamus nomen tuum in saeculum,
et in saeculum saeculi
.

Amém!

 

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