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CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II
 AO CARDEAL UGO POLETTI
VIGÁRIO-GERAL PARA A DIOCESE DE ROMA

 

Ao venerado Irmão Cardeal Ugo Poletti
Vigário-Geral para a Diocese de Roma

A solicitude para com a querida diocese de Roma traz ao meu ânimo numerosos problemas, entre os quais se mostra digno de consideração, pelas suas consequências pastorais dele derivantes, o referente à disciplina do hábito eclesiástico.

Muitas vezes nos encontros com os Sacerdotes expressei o meu pensamento a respeito, ressaltando o valor e o significado deste sinal característico, não só porque ele contribui para o decoro do Sacerdote no seu comportamento externo ou no exercício do seu ministério, mas sobretudo porque evidencia na Comunidade eclesiástica o público testemunho que todos os Sacerdotes devem dar da própria identidade e especial pertença a Deus. E dado que este sinal exprime concretamente o nosso "não ser do mundo" (cf. Jo 17, 14), na oração composta para a Quinta-feira Santa deste ano, ao aludir ao hábito eclesiástico, dirigia-me ao Senhor com esta invocação: "Fazei com que não contristemos nunca o vosso Espírito... com aquilo que se manifesta como vontade de esconder o próprio sacerdócio diante dos homens e de evitar todos os seus sinais externos" (AAS 74, 1982, p. 526).

Enviados por Cristo para o anúncio do Evangelho, temos uma mensagem a transmitir, que se exprime seja com as palavras, seja também com os sinais externos, sobretudo no mundo de hoje que se mostra tão sensível à linguagem das imagens. O hábito eclesiástico, como o religioso, tem um particular significado: para o sacerdote diocesano ele tem principalmente o carácter de sinal, que o distingue do ambiente secular em que vive; para o religioso e para a religiosa ele exprime também o carácter de consagração e põe em evidência o fim escatológico da vida religiosa, O hábito, portanto, favorece os fins da evangelização e induz a reflectir sobre realidades que nós representamos no mundo e sobre o primado dos valores espirituais que afirmamos na existência do homem. Por meio desse sinal, torna-se aos outros mais fácil chegar ao Mistério, de que somos portadores, Àquele a quem pertencemos e que com todo o nosso ser queremos anunciar.

Não ignoro as motivações de ordem histórica, ambiental, psicológica e social, que podem ser propostas em contrário. Poderei todavia dizer que motivações de igual natureza existem em seu favor. Devo, porém, sobretudo observar que razões ou pretextos contrários, confrontados objectiva e serenamente com o sentido religioso e com as expectativas da maior parte do Povo de Deus, e com o resultado positivo do corajoso testemunho também do hábito, mostram-se muito mais de carácter humano que eclesiológico.

Na moderna cidade secular onde se é tão timidamente debilitado o sentido do sagrado, o povo sente a necessidade destes apelos a Deus, que não podem ser transcurados sem um certo empobrecimento do nosso serviço sacerdotal.

Em virtude destas considerações, sinto o dever, como Bispo de Roma, de me dirigir a Vossa Eminência, Senhor Cardeal, que mais de perto compartilha os meus cuidados e solicitudes no governo da minha diocese, para que, de acordo com as Sagradas Congregações para o Clero, para os Religiosos e os Institutos Seculares e para a Educação Católica, queira estudar oportunas iniciativas destinadas a favorecer o uso do hábito eclesiástico e religioso, emanando para tal fim as necessárias disposições e cuidando da aplicação das mesmas.

Ao invocar sobre Vossa Eminência, Senhor Cardeal, e sobre a inteira diocese de Roma o omnipotente auxilio do Senhor, pela intercessão da Virgem Santíssima "Salus Populi Romani", de coração concedo a Bênção Apostólica.

Do Vaticano, 8 de Setembro de 1982.

 

JOÃO PAULO PP. II

 

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