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VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AO BRASIL
(30 DE JUNHO - 12 DE JULHO DE 1980)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
NO ENCONTRO COM OS SEMINARISTAS

Basílica de Aparecida, 4 de Julho de 1980

 

Meus caros Seminaristas

1. Encontrando-me com vocês, esta tarde, no quadro de minha peregrinação à Aparecida, minha memória me reconduz espontaneamente ao meu próprio Seminário e ao tempo de minha formação para o Sacerdócio. Não me envergonho de dizer que me lembro com saudade daqueles anos de Seminário. Com uma comovida homenagem aos bons sacerdotes que com imenso zelo, entre não poucas dificuldades, me prepararam para ser padre, penso que foram anos decisivos para o ministério que o Senhor me reservava para o futuro. Por isso mesmo este encontro aqui à sombra do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, nesta atmosfera de cordialidade, de comunhão e de viva esperança, me traz emoção e alegria. Não preciso de muitas palavras para dizer-lhes minha grande afeição por vocês e o meu sincero desejo de alimentar e animar as suas santas aspirações, as suas certezas e os seus propósitos. Vocês ocupam um lugar multo especial no coração do Papa como no coração da Igreja. Em vocês, quero cumprimentar os aspirantes ao sacerdócio de todo o Brasil.

2. Vendo-os ao meu redor como vi antes tantos seminaristas no México, na Irlanda ou nos Estados Unidos, o meu pensamento, iluminado pela Fé, se dirige como que insensivelmente para a realidade misteriosa e visível ao mesmo tempo da Igreja de Deus. Jesus Cristo, Pastor Eterno, realizando a redenção da humanidade, constituiu o Povo da Nova Aliança. Para que a este Povo não faltassem guias e pastores, enviou os Apóstolos, como Ele próprio tinha sido enviado pelo Pai.

Por meio dos Apóstolos, Jesus Cristo, “Cabeça do Corpo, que é a Igreja”(Col 1,18), tornou participantes da sua consagração e da sua missão os sucessores deles, isto é, os Bispos. Estes, por sua vez, repartiram as funções do próprio ministério e as confiram em primeiro lugar aos Presbíteros.

Unidos aos Bispos na dignidade sacerdotal, os Presbíteros são consagrados pelo sacramento da Ordem para anunciar o Evangelho, guiar o Povo de Deus, celebrar a Liturgia, como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento (Lumen Gentium, 18. 28).

Meditando sobre esta disposição da vontade de Deus, que de tal modo constituiu a Igreja, obra de suas mãos e não invenção dos homens, compreendemos sempre melhor como na mesma Igreja, assim como não pode haver Pastores sem Povo, assim também não pode haver Povo sem Pastores. A continuidade da missão apostólica foi garantida por Aquele que fundou a Igreja com estas palavras: “Ide e ensinai a todos os povos... Eu estou convosco até o fim do mundo” (Lc 1,38). Para traduzir em realidade este mandato perene, o próprio Jesus Cristo continua a chamar os seus colaboradores no íntimo de suas consciências, enquanto que os Pastores da Igreja reconhecem a legitimidade desta vocação interior, com a vocação pública às Sagradas Ordens.

3. Mas o chamado divino, como aquele que o Anjo dirigiu à Virgem Maria no dia da Anunciação, respeita a liberdade e aguarda a resposta consciente: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”.

Por isso, é preciso que o chamado pessoal seja esclarecido, para que a voz do Senhor não passe despercebida. É preciso que ele seja estimulado e protegido, para que a resposta livre não seja embaraçada pelas hesitações interiores, nem sufocada pelas hesitações interiores, nem sufocada pelas dificuldades do mundo. A realidade do mistério da eleição divina compreende, portanto, a responsabilidade da cooperação de cada um, e, ao mesmo tempo, a actuação discreta dos que devem acompanhar e ajudar a formação dos jovens.

4. O chamado de Deus, meus caros seminaristas, é verdadeiramente sublime, pois se refere ao serviço mais importante do Povo de Deus. É o sacerdote quem torna sacramentalmente presente entre os homens a Cristo, o Redentor do homem. “Dele depende tanto a primeira proclamação do Evangelho, que reúne a Igreja, como a incessante renovação da Igreja reunida” (Synodi Episcoporum, De Sacerdotio Ministeriali). Se viesse a faltar a presença e a acção daquele ministério que se recebe pela imposição das mãos, faltaria à Igreja a plena certeza da própria fidelidade e da própria continuidade visível. Anunciando o Evangelho, guiando a comunidade, perdoando os pecados e sobretudo celebrando a Eucaristia, o sacerdote torna presente Cristo-Cabeça no exercício vivo da sua obra redentora. Ele age “in persona Christi”, ele fez as vezes de Cristo, quando derrama e renova existencialmente nas almas a vida do Espírito.

5. É para esta missão e função que vocês se preparam no Seminário. Exorto-os pois a considerar em toda a sua importância este período que vocês estão vivendo. É importante pela formação doutrinal que vocês devem receber, para serem deveras mestres da verdade e educadores na fé do Povo de Deus. Mas importante sobretudo pela formação inumana e espiritual. O “homo Dei” que vocês deverão ser (cf. 1Tm 6,11) ou é gestado neste tempo de seminário ou não o será nunca mais. As virtudes evangélicas típicas do sacerdote é aqui no seminário que as aprendemos a viver. Não seja para vocês um tempo vão mas frutuoso.

Por outro lado, diante da grandeza da vocação sacerdotal, vocação insubstituível que empenha em profundidade aquele que a recebe, convido-os a tomar consciência da predilecção que ela significa da parte de Cristo Jesus. Elevemos ao “Senhor da messe” a nossa confiante oração, para que neste imenso Brasil muitos jovens tenham abertura de consciência para perceber a disponibilidade para acolher, entusiasmo para seguir o chamado amigo que Ele lhes dirige.

6. Nos últimos seis anos, foram abertos no Brasil quinze novos Seminários Maiores, do clero secular e regular. Só no ano passado, cinco Seminários Maiores e quatro Menores. Este atual aumento do número de vocações é um fenómeno reconfortante, fruto da aço da Providência e da generosa correspondência dos que são chamados. Mas o fato é que o número de sacerdotes é de apenas um para cada vinte mil habitantes, se se consideram apenas os sacerdotes do clero secular, e de um para dez mil, se se consideram também os do clero regular. Não há dúvida que é ainda multo pouco, diante das enormes e urgentes exigências dos fiéis. Por isso, é dever de todos nós rezar com fervor e perseverança ao Senhor de todos os dons.

Confio a Nossa Senhora Aparecida cada um de vocês e todos os jovens deste querido Brasil chamados ao Sacerdócio. Pedindo à Mãe da Igreja que os anime e fortaleça no testemunho de uma resposta alegre, coerente e generosa, dou-lhes de todo o coração a Bênção Apostólica.

 



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