Index   Back Top Print

[ DE  - ES  - IT  - PT ]

VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE
À REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA
[15-18 DE NOVEMBRO DE 1980]

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
À CONFERÊNCIA EPISCOPAL ALEMÃ

Seminário de Fulda
Segunda-feira, 17 de Novembro de 1980

 

Caros e dilectos irmãos no Episcopado

1. O nosso memorável encontro de hoje, diante do túmulo de São Bonifácio, tem como fundo a longa e rica história do Povo alemão, que traz a marca determinante do Cristianismo. Formada por tantas forças, deu no decurso dos séculos numerosos impulsos de carácter religioso, cultural e político, muito para além das suas fronteiras. Baste-vos recordar aqui o nome glorioso e carregado de história de "Nação alemã do Sacro Império Romano".

O vosso Povo deu à Igreja sete Papas, incluindo um dos actuais Países Baixos, sobre quem a história nos informa que prestaram conscienciosamente o seu serviço como Pastores supremos da Cristandade — mesmo nas grandes agitações externas e internas daquele tempo. Esforço comum de quase todos, durante pontificados muitas vezes demasiado breves, foi a renovação da Igreja. Merece particular menção o esforço zeloso do Papa Adriano VI para a manutenção e o restabelecimento da Cristandade unida. Muitos deles fizeram uma visita pessoal, mesmo como Papas, à própria Pátria alemã e às suas precedentes Dioceses.

A renovação interna da vida religiosa e eclesiástica, e o esforço ecuménico para uma aproximação e compreensão com os cristãos separados, constituem o principal intento, também das minhas viagens apostólicas às várias igrejas locais e aos vários continentes. São-no ainda na minha visita pastoral à Igreja do vosso País e neste encontro hodierno. A renovação espiritual da Igreja e a unidade dos cristãos são o encargo explícito imposto pelo Concílio Vaticano II, em que estão igualmente empenhados o Papa, os Bispos, os Sacerdotes e os Crentes. Tomar a responsabilidade conjunta de tais encargos é o imperativo urgente desta hora. Constituem o grande desafio e a tarefa especial da nossa responsabilidade colegial como Pastores da Igreja. As minhas considerações de hoje valem para eles e são a eles destinadas.

Desde a primeira hora do meu pontificado, entendi o encargo de Supremo Pastor especialmente como serviço à colegialidade dos Bispos, que estão unidos ao Sucessor de Pedro, e por outro lado compreendi a "colegialidade efectiva e afectiva" dos Bispos como importante auxílio ao meu próprio serviço.

Sinto urgente, nesta visita ao vosso País, começar por exprimir a minha proximidade de vós, a minha comunhão convosco, e reforçá-la com o meu testemunho. E agora o meu pensamento volta a Setembro de 1978 quando, aqui, mesmo na zona de Fulda, me detive convosco para uma troca fraterna entre os episcopados da minha Pátria, a Polónia, e do vosso País. Sinto alegria revendo os mesmos rostos, e ao mesmo tempo o meu pensamento e a minha oração acompanham aqueles que o Senhor chamou entretanto para Si. Por fim, quero saudar de modo especial também aqueles irmãos eclesiásticos que entrementes foram acolhidos, no vosso País, no colégio dos Sucessores dos Apóstolos.

2. Tende coragem para o testemunho comum.

"Se chamamos já com bom direito 'irmão' ao homem e particularmente a todo o cristão, esta palavra", como escrevia na minha carta a todos os irmãos Bispos do mundo, na quinta-feira santa de 1979, "assume para nós Bispos e para as nossas relações recíprocas um significado de facto particular: relaciona-se em certo modo directamente àquela comunidade fraterna que unia os Apóstolos à volta de Cristo".

Sinto-me feliz e reconhecido porque, na vossa conferência, tenhais já experimentado em muitas ocasiões esta unidade com os Sucessores de Pedro e esta concórdia entre vós. Quereria reforçar-vos mais ainda nesta disposição. Digo-vos portanto: não vos deixeis enganar pela opinião, muitas vezes ouvida, de que uma forte porção de concórdia dentro de uma Conferência de Bispos prejudica a vivacidade e a credibilidade do testemunho episcopal. É exactamente o contrário. Certamente cada um deveria entrar numa atmosfera fraterna sem medo ou reservas, e seguramente cada um deve ajudar a edificar com o seu contributo a unidade do corpo, que encerra membros, serviços e dons de muitas espécies. O fruto destes serviços e dons depende todavia da vossa inserção no único corpo do único espírito.

3. Estai amorosamente preocupados com a unidade do presbitério em cada Diocese.

As expectativas e as súplicas apresentadas aos Sacerdotes cresceram nestes últimos decénios de maneira opressora. Em consequência de ter diminuído o número dos Sacerdotes, impende sobre eles maior número de encargos. As súplicas que são apresentadas aos Sacerdotes, no desempenho da orientação espiritual que ministram, aparecem aumentadas ainda mais por numerosos serviços profissionais e honoríficos dos Leigos na cura de almas. Numa sociedade que dispõe de uma rede de comunicação cada vez mais estreita, torna-se necessário para os Sacerdotes um diálogo espiritual cada vez mais complexo. Muitos Sacerdotes consumem-se no trabalho, mas tornam-se solitários e perdem a orientação. É muito mais importante que a unidade do presbitério se torne vivida e experimentável. Mantende tudo o que reforça os Sacerdotes, encontrando-se eles entre si e ajudando-se reciprocamente a viver da palavra e do espírito do Senhor.

Três coisas me estão particularmente a peito:

a) Os seminários. Devem ser viveiros de uma verdadeira comunidade e amizade sacerdotal e também lugar de uma decisão clara e sólida para a vida.

b) A teologia deve fornecer capacidade para um testemunho de fé e deve conduzir a um aprofundamento da fé; de maneira que os Sacerdotes compreendam os problemas dos homens, mas também as respostas do Evangelho e da Igreja.

c) Os Sacerdotes devem receber auxílio para responderem alta exigência da vida celibatária e da dedicação a Cristo e aos homens, e para as testemunharem por meio da simplicidade, da pobreza e da disponibilidade sacerdotal. Precisamente a comunidade espiritual pode prestar neste caso serviço precioso.

4. Tomai seriamente a oração do sumo sacerdote Jesus Cristo, para todos serem um, como encargo urgente para vencer a fractura da Cristandade.

Viveis no País de origem da Reforma. A vossa vida eclesiástica e a espiritual estão profundamente marcadas pela cisão da Igreja, que já dura há mais de quatro séculos e meio. Não deveis resignar-vos a que os discípulos de Cristo deixem de dar o testemunho de unidade diante do mundo. Fidelidade inabalável verdade, abertura e auscultação para os outros, paciência e simplicidade no caminho, amor e sensibilidade — tudo isto é necessário. O compromisso estabelecido não conta; só conta aquela unidade que o Senhor mesmo fundou: a unidade na verdade e no amor.

Ouve-se hoje repetir que o movimento ecuménico das Igrejas está parado, que depois da primavera do caminho conciliar começou uma época de resfriamento. Apesar de muitas dificuldades desagradáveis, não posso estar de acordo sobre este juízo.

A unidade que vem de Deus é-nos dada diante da cruz. Não devemos desejar fugir à cruz, passando a rápidas tentativas de harmonização naquilo que difere, excluindo a questão da verdade. Mas não devemos também desistir, não devemos separar-nos uns dos outros, porque aproximarmo-nos requer o amor paciente e doloroso do Crucifixo. Não nos deixemos separar do caminho trabalhoso para ficarmos parados ou escolhermos caminhos aparentemente mais curtos, estradas enganadoras.

O caminho ecuménico e o esforço pela unidade não devem limitar-se apenas às Igrejas nascidas da Reforma; também no vosso País as relações e atitude fraterna para com as outras Igrejas e as outras comunidades eclesiais, por exemplo para com as Igrejas da Ortodoxia, são da maior importância. Todavia a memória da Confissão de Ausburgo, publicada há 450 anos, é apelo especial para o diálogo com a Cristandade que leva a marca da Reforma e tem tão grande parte na população e na história do vosso País.

5. Recolhei o povo de Deus, oponde-vos ao falso pluralismo e reforçai a verdadeira comunhão.

Já falei do alto valor da unidade fraterna no colégio dos Bispos e do presbitério. Esta unidade deve todavia ser a alma, da qual viva também a unidade do inteiro povo de Deus, em todas as comunidades. Não se trata, na verdade, de enfrear ou limitar a legítima pluralidade de expressão da espiritualidade, da piedade e das escolas teológicas. Mas tudo isto deve ser expressão da plenitude e não da pobreza da fé.

O anúncio e também a vida eclesial podem desenvolver-se livremente para o exterior da vossa sociedade, demos graças a Deus. Todavia a contraposição, para a qual sois chamados, é exigente. Muitas vezes os homens encontram-se na situação de um grande armazém em que todas as mercadorias possíveis são louvadas e oferecidas ao livre uso. Assim na concepção de vida de muitos homens misturam-se elementos de tradição cristã com concepções inteiramente diversas. A liberdade externa, a de pensamento e a de dizer aquilo que se quer, é por vezes trocada com o desejo interno de convencer; em lugar de clara orientação, sucede a indiferença quanto a muitas opiniões e interpretações.

Quais são ao todo as vossas tarefas e as vossas possibilidades diante da situação indicada?

Queria bradar-vos duas palavras. Primeiro que tudo: anunciai a palavra com toda a clareza, indiferentes ao aplauso ou à rejeição. Não somos nós, afinal, quem determina a boa ou má aceitação do Evangelho, mas sim o espírito de Deus. Os crentes e os não-crentes têm o direito de ouvir claramente a mensagem autêntica da Igreja.

Segundo: anunciai a palavra com todo o amor do bom Pastor que se dá, que procura e compreende. Prestai atenção aos problemas enunciados por aqueles que julgam já não encontrar nenhuma resposta em Jesus Cristo e na Sua Igreja. Crede firmemente que Jesus Cristo se uniu, por assim dizer, a cada homem, e que cada homem pode encontrar, n'Ele mesmo, os seus valores humanos autênticos e os seus problemas (ver Gaudium et Spes, 22; Redemptor hominis, 13).

Desejaria recomendar especialmente dois grupos ao vosso cuidado de Pastores: trata-se daqueles que, dos impulsos do Concílio Vaticano II, tiraram a falsa conclusão de o diálogo, em que entrou a Igreja, ser incompatível com o claro compromisso do Magistério e das normas da mesma Igreja, e com o mandato do encargo jerárquico fundado inequivocamente na missão de Cristo entregue à Igreja. Mostrai que ambos correm juntos: fidelidade à missão imprescritível e proximidade do homem com as suas experiências e os seus problemas.

O outro grupo: o dos que, em parte por causa de consequências não conformes ou demasiado arriscadas, derivantes do Concílio Vaticano II, já não se sentem acolhidos na Igreja de hoje ou projectam mesmo apartar-se dela. Aqui trata-se de transmitir a estes homens com a maior decisão, mas simultaneamente como toda a prudência, que a Igreja — do Vaticano II e a do Vaticano I e a do Tridentino e dos grandes Concílios — é uma e a mesma Igreja.

A importância de uma recta mediação da fé não há-de subestimar-se. Quanto estou agradecido de tudo o que foi experimentado por vós na chamada catequese comunitária: crentes que testemunham a fé, que a transmitem a outros!

A situação da fé, indicada acima, diz respeito certamente, de modo especial, aos Sacerdotes. Será verdadeiramente anunciado a todos, dentro de alguns anos, todo o património da fé como a Igreja o apresenta? Animai a isto, tomai-o a peito. E preocupai-vos, quanto possível, também por que o ensino religioso e a catequese abram o caminho da fé e da vida com a Igreja, que aumentam com a experiência de cada dia, muitas vezes tão diversa.

6. Empenhai-vos com todas as vossas forças a fim de os critérios inabaláveis e as normas do proceder cristão se fazerem valer de maneira tão clara como chamativa, na vida dos crentes.

Entre os hábitos de vida de uma sociedade secularizada e a exigência do Evangelho vai-se criando profunda fractura. Muitos querem participar na vida eclesial, mas já não encontram nenhuma relação entre o mundo em que vivem e os princípios cristãos. Julga-se que a Igreja adere fortemente às suas normas só por rigidez, e que isto está em contraste com aquela misericórdia de que Jesus nos dá exemplo no Evangelho. As duras exigências de Jesus e a Sua palavra "Vai e doravante não . tornes a pecar" (Jo 8, 11) são ignoradas. Muitas vezes recorre-se à consciência pessoal, mas passa despercebido que esta consciência é o olhar que não possui por si só a luz, mas só quando olha para a fonte autêntica da luz.

Outra coisa: diante da mecanização, da funcionalização e da organização, desperta-se, precisamente na geração mais jovem, profunda desconfiança na instituição, nas normas e na regulamentação. Contrapõe-se a Igreja — com a sua constituição jerárquica, a sua liturgia ordenada, os seus dogmas e as suas normas — ao espírito de Jesus. Mas o espírito precisa de bases para se conservar e transmitir. Cristo mesmo é a origem de cada missão e de cada mandato da Igreja, em que se cumpre a Sua promessa: "Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo" (Mt 28, 20).

Dilectos irmãos, conservai presentes no vosso coração todas as necessidades e todos os problemas dos homens — e anunciai-lhes precisamente com firmeza o que Jesus exige, sem calar nada o homem que deveis ter a peito. Só o homem — que é capaz de uma decisão total e definitiva, o homem em que o corpo e a alma concordam, o homem que está pronto a aplicar toda a sua força pela salvação —, só este é invulnerável contra a secreta decomposição da substância fundamental humana.

Dirigi portanto especial atenção à juventude, na qual se observa um despertar tão prometedor, mas também tanto afastamento da Igreja. Dirigi-vos com particular cuidado e cordialidade aos casais e às famílias — o Sínodo dos Bispos, recém-terminado em Roma, não há-de ficar pura teoria, mas há-de desdobrar-se em vida. O afastamento entre grande parte da população trabalhadora e a Igreja, a distância entre intelectuais e Igreja, a exigência para a mulher de ser aceita e sentir-se plenamente realizada, tanto do ponto de vista cristão como do humano, em condições muito mudadas: estes pontos alargam o campo do nosso esforço comum, para os homens crerem também amanhã.

Estou convencido de um novo progresso da consciência moral e da vida cristã estar ligado intimamente, melhor indissoluvelmente, a uma condição: o reavivamento da confissão pessoal. Dai a isto prioridade na vossa cura pastoral.

7. Dirigi a vossa particular atenção ao futuro das vocações espirituais e dos serviços pastorais.

Segundo os cálculos humanos, o número dos Sacerdotes que estão disponíveis para o serviço na pastoral vai reduzir-se, não menos de um terço, dentro de um decénio. Partilho do fundo da alma a preocupação que disto vos vem. Estou convencido, juntamente convosco, que é bom estimular de todas as formas o serviço do Diaconado permanente e também o serviço, sobretudo honorário mas também profissional, dos leigos para os encargos da pastoral. O serviço dos Sacerdotes não pode todavia ser substituído por outros serviços. A vossa tradição da cura de almas não pode ser comparada, sem mais, com as condições da África ou da América Latina. Mas não posso deixar de pensar que lá encontrei maior optimismo, num número de encarregados de almas disponíveis sensivelmente menor do que na Europa Ocidental. Considero, como uma das tarefas mais importantes, fazer todo o possível, com o esforço total da oração e do testemunho espiritual, para que o chamamento de Deus aos jovens, a fim de que se ponham à disposição de um serviço total do Senhor, se faça ouvir. Deste modo e com este objectivo melhorarão as condições nas famílias, nas comunidades e nas associações de jovens. Mas o temor diante da situação difícil ofusca a visão daquilo que o Senhor quer de nós. Diminuírem fortemente a sensibilidade aos conselhos evangélicos e ao celibato sacerdotal, significa tanto um estado de perigo espiritual como a falta de Sacerdotes. Indubitavelmente a salvação das almas é o maior dos preceitos. Mas esta salvação das almas exige precisamente cultivarmos as comunidades mesmas, animarmos cada baptizado e confirmado a dar testemunho de fé, estimularmos a vitalidade espiritual nas famílias, nos grupos, nas comunidades e nos movimentos. Então o Senhor poderá falar e chamar — e os homens poderão ouvir.

Aludi também à grande importância do presbitério à volta do Bispo. Não poderia o serviço espiritual ser compreendido mais eficazmente, por meio de encontros mais frequentes e mais profundos dos Sacerdotes entre si? Desejaria aludir aqui, uma vez mais, à grande importância da comunidade espiritual dos Sacerdotes, capaz de libertar os particulares de pretensões efectivas e do isolamento. Na medida em que vos empenhardes, com unanimidade e clareza, no testemunho comum do presbitério no celibato e numa forma de vida fundada no espírito dos conselhos evangélicos, o Senhor oferecerá os Seus dons.

8. Preocupai-vos, com um coração universal e uma visão universal, dos vossos crentes.

Permiti-me que me refira à minha mensagem ao "Katholikentag" de Berlim: ajudai a construir uma "civilização do amor" universal. Desejaria fazer-vos notar, antes de tudo, a dimensão do "universal". Sermos cristãos e sermos homens exige agora sermos universais, sermos "católicos". Ao esforço da vossa disponibilidade para socorros materiais uni também o esforço das vossas forças espirituais e religiosas em favor de todos, e estai também prontos a receber e a aprender. Há tanta humanidade inutilizada, tanta experiência espiritual e tanto testemunho de fé construtiva nas Igrejas jovens, que o nosso Ocidente, que se tornou cansado, poderia rejuvenescer-se e renovar-se tomando delas.

Não podemos certamente subtrair-nos a uma dolorosa realidade. Em muitas partes do mundo, a Igreja é perseguida, muitos cristãos, muitos homens, são impedidos de gozar dos seus plenos direitos de liberdade. Não considereis como coisa óbvia e já conseguida a liberdade na vossa sociedade, mas como um esforço em favor de outros que não têm esta liberdade.

O vosso País encontra-se na Europa. Pude colaborar repetidamente com muitos de vós, quando era Arcebispo de Cracóvia, para animar a Europa, para firmar a sua unidade nas fundações espirituais e religiosa. de valor. Reflecti que a Europa pode renovar-se só recorrendo àquelas raízes que fizeram que a Europa existisse. Pensai por fim nisto, precisamente no vosso País: a Europa abraça não só o Norte e o Sul, mas também o Ocidente e o Oriente.

Um pedaço da Europa, um pedaço do mundo, torna-se cada vez mais presente no vosso Pais, através dos muitos estrangeiros que vivem e trabalham no meio de vós. Compete-vos aqui uma tarefa urgente, quer do ponto de vista eclesial quer do social. Pensai n'Aquele que morreu por todos e fez de todos nós Seus irmãos e Suas irmãs.

9. Empenhai-vos pelos direitos do homem e pelas sólidas fundações da convivência humana na vossa sociedade.

Viveis numa sociedade em que é garantido alto grau de protecção à liberdade e à dignidade humana. Estai agradecidos por isto mas não permitais que em nome da liberdade seja propagado um arbítrio que fira a inviolabilidade da vida de todo o homem, mesmo do que ainda não nasceu. Colocai portanto na frente a dignidade e o direito do matrimónio e da família. Só o respeito dos direitos e valores fundamentais inalienáveis garante aquela liberdade que não vem a converter-se em auto-destruição. Reflecti nisto: quanto mais diferem entre si direito e moralidade, tanto mais urgente é a protecção jurídica das convenções morais.

A Igreja do vosso País tem abundância de instituições para a educação e a instrução, secções da Cáritas e o serviço social. Defendei a possibilidade de fornecer o vosso contributo cristão para se construir a sociedade. Pensai, por outro lado, nisto: um testemunho crivei cresce, unicamente pela adesão interna a Jesus Cristo, e não por simples acordo externo com outras forças da sociedade.

10. Contraponde às excessivas exigências e ao consumismo a alternativa de uma vida no espírito de Cristo.

Por um lado, o desejo de posse e de consumo cresce, de maneira que o ter vale muito mais que o ser (ver Redemptor hominis, 16). Por outro lado, atingimos o limite do crescimento económico e técnico. Queremos acaso construir um caminho para o declínio e a ruína da vida na nossa terra, em vez de ser no sentido do progresso? Requer-se o exemplo dos cristãos que, na esperança dos bens futuros, não se prendem aos passageiros e portanto desenvolvem uma civilização do amor. Estimulai portanto a disponibilidade, tão indispensável para se ser cristão, disponibilidade ao sacrifício e à renúncia; reconheçamos também o significado dos conselhos evangélicos para a sociedade inteira.

11. "Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, amor e sabedoria" (2 Tim 1, 7).

Caros e dilectos filhos da missão episcopal! O vosso encargo é oneroso. Para que os Apóstolos, de quem somos sucessores, pudessem cumpri-lo, o Senhor deu-lhes o Seu Espírito Santo. A este Espírito queremos dar lugar em nós e entre nós. As Suas características são: fortaleza, sabedoria e amor. Fortaleza, falar ao Senhor mesmo e deixar que Ele opere, sem preocupações de aprovação ou de resistência; fortaleza, cuja medida mais interior é a fraqueza da cruz. Sabedoria, que olha com firmeza para á verdade de Jesus Cristo, mas atende igualmente, sem preconceitos, aos problemas e às preocupações do homem de hoje. Por fim e sobretudo, o amor, que tudo arrisca, tudo suporta e tudo espera, o amor que forma unidade, pois caminha com Jesus Cristo para a cruz, une céu e terra, e enlaça, uns com outros, todos os que estão separados. Prometo-vos levar fraternalmente convosco a vossa carga, e de vós imploro a unidade indefectível, cada vez mais profunda, neste espírito. Maria, Rainha dos Apóstolos e Mãe da Igreja, esteja connosco a fim de que se possa preparar um novo Pentecostes.

 



Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana