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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS DIRIGENTES DA CENTRAL
LATINO-AMERICANA DE TRABALHADORES

Segunda-feira, 22 de Março de 1982

 

Queridos irmãos,
dirigentes da Central Latino-americana de Trabalhadores

Aceitei, com muito prazer, o pedido de um encontro convosco, representantes qualificados do mundo do trabalho, ao qual me unem tantas recordações e vínculos de profunda estima.

É-me grato ver nesse sector da sociedade, como homens e como cristãos, uma admirável capacidade de comparticipação, que tanto enriquece o ser humano; sobretudo quando não só estimula a uma solidariedade externa entre pessoas, famílias ou grupos sociais, mas também se abre à esfera do espírito, compartilhando igualmente as riquezas religiosas e morais.

Quero antes de tudo expressar-vos o meu vivo apreço pela carta que me enviastes há alguns meses, para manifestar a vossa plena identificação com o espírito e as orientações da encíclica Laborem Exercens. Apreciei também as vossas iniciativas em favor da difusão, do estudo e da actuação do mencionado Documento pontifício entre os trabalhadores da América Latina. Tanto mais que a vossa Central conta com mais de 9 milhões de trabalhadores nesse "continente da esperança". Estimulo-vos, pois, a continuar prestando atenção aos princípios éticos que inspiram os ensinamentos sociais da Igreja.

O trabalho sindical é uma verdadeira vocação que deve servir para a autêntica participação dos trabalhadores na defesa e promoção dos seus valores e interesses vitais: desde a sua dignidade integral como pessoas, seja em ordem das suas necessidades económicas individuais, familiares, culturais e éticas, seja em ordem de uma participação pública tendo em vista o bem comum.

Não ignoro as dificuldades e os obstáculos que o vosso serviço sindical deve enfrentar perante condições de vida e de trabalho, muitas vezes duras, de milhões de trabalhadores, e também em consequência de indevidas restrições que atentam contra o legítimo direito de liberdade associativa, ou de pressões ideológicas que tendem reduzir a acção sindical a tarefas burocráticas alheias à vida dos trabalhadores, ou limitadas a puros horizontes económicos.

O sindicalismo vem deformado se é expressão de corporações egoístas ou instrumento de manipulação por parte de interesses ideológicos e políticos. Pelo contrário, exalta a sua missão quando, num clima de respeito a todo o grupo social e acima de ódios, assume a dignidade humana integral como critério de serviço aos trabalhadores, como tomada de consciência do sentido profundo do trabalho na realização do homem, como busca de elevação e democratização autêntica dos ambientes de trabalho e da vida social. E esse substrato ético que deve inspirar e guiar a actividade sindical.

Muitas esperanças pode oferecer na América Latina um sindicalismo revitalizado na prova, se é capaz de se fazer herdeiro e intérprete das melhores tradições populares e nacionais de essência cristã e baseadas nos ensinamentos sociais da Igreja. Do reencontro cordial e respeitoso entre a Igreja e o mundo do trabalho podem brotar tantos frutos dessa "civilização do amor", para a qual convocaram o meu Predecessor Paulo VI e os Bispos latino-americanos em Puebla.

A Igreja continua a oferecer ao mundo do trabalho a presença estimulante e esperançosa de Cristo, Senhor da história, que chama os sistemas económicos, as culturas, pessoas, grupos sociais, os Estados e a ordem internacional a abrirem-se a novas perspectivas de acção em favor do homem, partindo da comum filiação em Deus Pai e da consequente fraternidade entre todos os homens.

Ao concluir este encontro, saúdo em vós, com grande estima e afecto, todos os trabalhadores da América Latina e peço a Deus que vos abençoe, bem como as vossas famílias e todos aqueles que representais.

 

© Copyright 1982 - Libreria Editrice Vaticana

 



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