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VIAGEM APOSTÓLICA À ESPANHA
31 DE OUTUBRO - 9 DE NOVEMBRO DE 1982

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS REPRESENTANTES DOS MEIOS
DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA ESPANHA

Madrid, 2 de Novembro de 1982

 

Queridos amigos, representantes
dos Meios de Comunicação Social

1.Recebei antes de tudo a minha cordial saudação, com toda a estima pela importantíssima função que desempenhais na sociedade moderna.

Amanhã terei um breve encontro com os numerosos periodistas e profissionais da televisão que têm a incumbência de informar sobre a minha viagem a Espanha.

Agora quero deter-me convosco, vós que representais os centros programadores, colectores e difusores dessa ingente actividade do complexo mundo da comunicação nas suas várias formas. Um mundo de importância capital na vida do nosso tempo, pela delicadeza e extensão do fenómeno a que se refere.

Com efeito, através dos organismos que dependem de vós, podeis recolher e ponderar a palpitação vital das nossas sociedades, transmitindo essa "história diária", e dividindo-a em partes, a tantos milhões de pessoas. É um facto que se nos torna habitual, mas que nem por isso é menos espectacular. Hoje o mundo é com frequência uma imensa audiência e um único público, unido em volta dos mesmos acontecimentos culturais, desportivos, políticos e religiosos.

A informação e a cultura criaram a necessidade de as potenciar, e vós estais dedicados a essa linda tarefa. Um serviço de transcendência incalculável, pelas possibilidades enormes que encerra e pela necessidade de não se limitar a informar, mas de promover os bens da inteligência, da cultura e da convivência, criando ao mesmo tempo uma recta opinião pública, tal como solicita o Concílio Vaticano II (cf. Inter mirifica, 8).

2.Disse uma palavra bem pensada: serviço. Porque, com efeito, com o vosso trabalho servis e deveis servir a causa do homem na sua integridade: no seu corpo, no seu espírito, na sua necessidade de distracção honesta, de alimento cultural e religioso, de correcto critério moral para a sua vida individual e social.

Trata-se de uma nobre missão que inaltece a quem a exerce dignamente, porque presta um valiosíssimo contributo ao bem da sociedade, ao seu equilíbrio e enriquecimento. Por isso a Igreja atribui tanta importância ao sector da comunicação social e de transmissão da cultura. Por isso não hesita em convidar os cristãos a adquirirem a necessária competência técnica, e a trabalharem com boa consciência nesse sensível campo, onde estão em jogo tantos e elevados valores.

Ao fazer convosco estas reflexões, não posso deixar de pensar em que há muito de comum entre a vossa missão e a minha, enquanto servidores, como somos, da comunidade entre os homens. Cabe-me a mim, de maneira singular, transmitir à humanidade a Boa Nova do Evangelho e com ela a mensagem de amor, de justiça e de paz em Cristo. Valores que vós mesmos podeis favorecer tanto, no vosso esforço por tornar um mundo mais unido, pacífico e humano, onde brilhe a verdade e a moralidade.

3.Um sector que tão de perto toca a informação e a formação do homem e da opinião pública, é lógico que tenha exigências muito prementes de carácter ético. Entre elas está a de que, aqueles que se dedicam à comunicação, "conheçam e ponham em prática fielmente neste campo as normas de ordem moral" (Inter mirifica, 4), e que "a informação seja sempre verdadeira", respeitando "escrupulosamente as leis morais e os legítimos direitos e dignidade do homem" (ibid. 5).

Assim, de uma dimensão antropológica não redutora, poder-se-á oferecer um serviço de comunicação que responda à verdade profunda do homem, e no qual as normas da ética profissional encontrem o seu sentido de convergência com a Verdade anunciada pelo cristianismo.

A busca da verdade indeclinável exige um esforço constante, exige situar-se no nível adequado de conhecimento e de selecção crítica. Não é fácil, bem o sabemos. Cada homem leva consigo as suas próprias ideias, as suas preferências e até os seus preconceitos. No entanto, o responsável da comunicação não pode refugiar-se no que se costuma chamar a impossível objectividade. Se é difícil uma objectividade completa e total, não o é a luta por dar com a verdade, a decisão de propor a verdade, a práxis de não manipular a verdade, a atitude de ser incorruptível perante a verdade, só com a guia de uma recta consciência ética, e sem claudicações por motivos de falso prestígio, de interesse pessoal, político, económico ou de grupo.

4.Para as pessoas da vossa profissão existem numerosos textos deontológicos, na maioria elaborados com grande sensibilidade ética. Eles animam-vos a respeitar a verdade, a defender o legítimo segredo profissional, a fugir do sensacionalismo, a ter muito em conta a formação moral da infância e da juventude, a promover a convivência no legítimo pluralismo de pessoas, de grupos e de povos.

Encorajo-vos também a pensar nestes temas, não já como protagonistas da comunicação, mas como usuários, como receptores. Pensai nas vossas famílias e nos vossos filhos, receptores também eles de um grande número de mensagens; muitas delas não edificam, não constroem, mas transmitem uma ideia degradada do homem e da sua dignidade, em áreas, quem sabe, do permissivismo sexual, da ideologia de moda, de uma critica anti-religiosa, de velhos rancores, ou de uma certa condescendência perante fenómenos como a violência.

Não vos esqueçais nunca que do modo como agis depende às vezes, pelo menos em boa parte, a conduta moral de tantos homens e mulheres, na vossa Nação e também fora dela. Segundo o vosso comportamento, segundo o "produto" que aceitais, pedis aos vossos colaboradores ou ofereceis, será motivo de mérito ou de recriminação. E nunca será qualquer coisa isenta de valorização moral, perante Deus, perante a vossa consciência e a sociedade.

5.Não pode este colóquio terminar sem dirigir uma palavra mais especifica aos sacerdotes, religiosos e leigos católicos aqui presentes, responsáveis de órgãos de comunicação da Igreja nos diversos campos.

Sabeis que os vossos Pastores seguem com interesse e carinho esta precisa actividade, imprescindível para que se oiça a voz da Igreja, na opinião pública, através desses meios de comunicação e cultura criados pela própria Hierarquia, por alguma família religiosa, secular ou por grupos católicos.

Muitas vezes, pela vossa condição concreta e pelo ambiente em que trabalhais, os destinatários dos vossos serviços podem pensar que sois de um modo ou de outro a voz da Igreja ou dos vossos Prelados. Isso impõe-vos uma responsabilidade maior. Daí a necessidade de afinar a sensibilidade, para se identificar plenamente, nas questões fundamentais/ dogmáticas e morais, com a autêntica voz do Magistério, desde uma atitude de amor à Igreja e de colaboração leal com ela. Só assim se realiza um trabalho construtivo, só assim se evita dissolver a mensagem cristã e confundir os fiéis com tomadas de posição inaceitáveis ou com críticas destrutivas.

6. Queridos amigos: Permiti-me que, com profunda estima e respeito pela vossa justa liberdade, vos estimule na vossa alta missão humana e cristã: a de servidores do homem, filho de Deus e, cada vez mais, cidadãos do mundo. A Igreja aprecia e respeita o vosso trabalho. Pede também o respeito do vasto sector da comunicação.

Que Deus abençoe o vosso transcendental trabalho e a vossa vida. Esta é a minha oração por vós, pelas vossas famílias e por todos aqueles que servem a dignidade do homem na nobre causa da verdade.

 



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