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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS PEREGRINOS
 DA FRANÇA E DO CANADÁ

Sábado, 30 de Outubro de 1982

 

Queridos peregrinos da França e do Canadá,
de Troyes e de Monreal, de Saumur e de Angers,
e vós queridas Irmãs de numerosos países

1. Vós deveis estar repletos de alegria e de honra ao preparar-vos para a celebração da canonização das beatas Margarida Bourgeoys e Joana Delanoue. Também eu me sinto feliz por vos receber neste ambiente familiar, nas vésperas da solenidade. Não temos tempo para falar longamente, aliás, é preciso deixar a esta liturgia, à homilia em particular, o propósito de exprimir a essência da mensagem. Limito-me portanto a três votos que são mais apropriados para este encontro.

2. Primeiro de tudo essas canonizações põem uma questão às vossas comunidades diocesanas ou nacionais. Poderia a santidade de um homem, de uma mulher, de um sacerdote, de um religioso, de um leigo, desabrochar facilmente hoje? Ela seria porventura preparada, acolhida, apoiada? Considero precisamente que a santidade é uma obra do Espírito Santo, actuando como o vento que "sopra onde quer", de maneira imprevisível, e que a resposta do interessado se exprime com uma tal originalidade que se choca muitas vezes com a incompreensão e até com a hostilidade do ambiente que nos circunda. Estas provas fazem parte integrante da vida dos santos. Mas nós sabemos também que a alma dos santos é geralmente preparada por todo um movimento religioso que a educou em profundidade e lhe permite encontrar pontos de apoio. Foi precisamente o caso francês do séc. XVII com S. Vicente de Paulo, o Cardeal Bérulle, Monsenhor Olier, e tantos outros que preparavam ou recolhiam os frutos de um dasabrochamento religioso muito profundo como eco da reforma do Concilio de Trento. E do mesmo modo, no início do séc. XVIII, sobretudo com S. Luís Maria Grignion de Montfort. Permanecei orgulhosos, queridos amigos franceses, destas grandes horas da vossa história e, na esperança, esforçai-vos por preparar novas páginas no contexto de hoje, dando o vosso apoio a vocações pessoais à santidade, e mantendo vivas as comunidades cristãs, que serão o húmus necessário. Eu penso o mesmo do Canadá: depois de muitas outras beatas, Margarida Bourgeoys é a primeira que vai ser canonizada. Ela queria lançar as bases de um mundo novo, para este "novo mundo": continuai, queridos amigos canadenses, a construir sobre estes fundamentos!

3. Saúdo de modo particular as Irmãs herdeiras de Margarida Bourgeoys e de Joana Delanoue. A Congregação de Notre-Dame, fundada pela primeira, chegou a ser muito numerosa, 2.600 —- eu creio — nas duas Américas, no Japão, no coração da África, e graças a um justo regresso, finalmente na França. Que Deus faça frutificar as vossas obras de educação dos jovens, o vosso trabalho com os pais e os antigos alunos, com as associações familiares, o vosso apostolado na preparação dos sacramentos e na promoção social. E vós, Irmãs de Joana Delanoue, fundadas como Servas dos Pobres, com o nome de Santa Ana da Providência, se o vosso nome é actualmente mais modesto, eu sei que vós dais um testemunho e uma ajuda mútua de grande qualidade na França, em Madagáscar, onde começastes a suscitar vocações missionárias para a Indonésia. Vós sois a voz dos "sem voz", que são os pobres, os doentes, os anciãos, os leprosos, os inválidos, os migrantes, as pessoas sem lar, das cidades e das aldeias, quer se trate das famílias a visitar quer das crianças a instruir ou dos indigentes a recolher no asilo. Por tudo isto vós sois simultaneamente uma imagem do amor que revela a bondade de Deus, uma mão disponível que ajuda a levantar-se e a caminhar, uma palavra que evangeliza.

4. Finalmente, eu formulo os votos por que, de uma maneira geral, na Igreja, muitos sacerdotes, religiosas e leigos aproveitem o exemplo e as graças características das duas Beatas, que são as vossas compatriotas e Mães. Que eles possam conhecer o fervor missionário de Margarida Bourgeoys, a sua preocupação de desenvolver todos os dons da juventude, de preparar famílias sãs e cristãs! Não teremos porventura grande necessidade da sua lucidez e do seu tenaz devotamento para sanar o clima da educação actual, quando, por exemplo, as realidades sexuais tal como são apresentadas muitas vezes aos adolescentes e aos jovens são deturpadas, baseadas no prazer de cada um, e não mais no amor pelo outro e nas responsabilidades a elas inerentes? Assim, a fim de que a Boa Nova seja ainda melhor anunciada aos pobres, com amor e espírito de pobreza que lhes são necessários, possam as novas gerações aprender de Joana Delanoue a oferecer a sua própria pessoa e os seus sacrifícios, a contar com a Providência, a pôr a caridade na aventura da união íntima com Deus!

Sim, nós pedimos estas graças para toda a Igreja. E com esperança, porque, como nos dirá a epístola de S. Paulo que será lida amanhã: "A palavra de Deus opera em vós, os crentes".

5. Obrigado pela vossa visita. Rezai também por mim, pelo meu ministério ao serviço da unidade e da fidelidade de todas as Igrejas locais, a fim de que eu possa corajosamente fazer conhecer o Evangelho. Recomendo-vos a minha próxima viagem apostólica à Espanha; vou realizá-la, como comecei a visitar a França e como espero fazê-lo um dia ao Canadá.

Abençoando-vos com todo o coração, abençoo também todos aqueles que vós representais, as vossas famílias, as vossas congregações, as vossas comunidades paroquiais ou diocesanas, sobretudo as pessoas que estão em provações. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

 

© Copyright 1982 - Libreria Editrice Vaticana

 



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