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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO NOVO EMBAIXADOR DO BURUNDI JUNTO DA SANTA SÉ
POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
 DAS CARTAS CREDENCIAIS

5 de Janeiro de 1984

 

Senhor Embaixador

1. Tenho muita satisfação em receber aqui Vossa Excelência, como novo Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Burundi. Esta apresentação das suas Cartas Credenciais é um acontecimento desejado, em que a Santa Sé quer ver um sinal prometedor da relações de amizade, de confiança e de cooperação entre o seu país e a Santa Sé.

As suas palavras, cheias de estima pela fé cristã, pela comunidade católica e pela acção da Sé Apostólica, são penhores das mesmas relações e por isto lhe agradeço vivamente. Ficar-lhe-ei grato se digne exprimir igualmente o meu reconhecimento a Sua Excelência o Presidente Jean-Baptiste Bagaza pelos sentimentos e os bons votos que o encarregou de me transmitir.

2. A Santa Sé, por seu lado, aprecia manter tais relações com o fim de contribuir para harmonizar a acção da Igreja e do Estado nos países, e também de se esforçar em comum para promover a justice e a paz nas relações internacionais. Cada povo pode estar certo da estima e da amizade desinteressada da Santa Sé, que, além disso, não deixa de manifestar o seu respeito e os seus encorajamentos às Autoridades que têm o cargo de o governar e que se interessam pelo seu bem comum.

Mas a situação do Burundi chama de modo particular a atenção e a solicitude da Santa Sé. De facto, encontra-se ali uma proporção de católicos mais elevada do que em qualquer outro país da África. A evangelização, em pouco tempo, deu frutos notáveis e permitiu que a fé cristã fosse integrada na alma dos Burundeses e marcasse profundamente a sua vida pessoal, familiar e social.

Por outro lado, as qualidades naturais das suas populações são conhecidas por todos e, Vossa Excelência dizia-o justamente, são os recursos humanos que contam. A Santa Sé aprecia igualmente a preocupação manifestada pelos Governantes de instaurar mais justiça social e solidariedade para consolidar a paz interior, de fazer face às situações de pobreza acelerando o desenvolvimento económico e cultural, de manter relações de boa vizinhança com os outros países africanos.

3. É neste contexto que se deve, aos nossos olhos, desenvolver a harmonia entre os esforços das comunidades cristãs e os da sociedade civil. Certamente os dois campos, o espiritual e o temporal, são distintos. É normal que as responsáveis de um outro actuem segundo a própria competência, com as suas iniciativas e os seus meios próprios, para responder às necessidades que devem ser satisfeitas no campo que lhe compete, e isto no respeito da outra parte.

Mas os responsáveis nestes dois campos estão todos igualmente ao serviço dos Burundeses, da sua felicidade, do seu progresso, da sua vida mais plenamente humana. A Igreja, no que lhe diz respeito, não procure nada mais do que este serviço; não pede mais do que cooperar na obra comum e ajudar, com lealdade, aqueles que têm o pesado encargo do bem comum, quando procuram em conjunto justiça social, a paz, o progresso cultural e moral.

É assim que ela foi levada a criar e a manter, com os seus meios e numa perspectiva de caridade fraterna, um certo número de obras muito úteis à sociedade; tendo em vista sobretudo a instrução e a educação, a assistência sanitária, a organização de lares, de cooperativas. Mas o seu principal contributo é naturalmente principal cristãos convictos da própria fé, homens e mulheres competentes e generosos também pare as responsabilidades humanas — familiares, profissionais e civis — que são chamados a exercer, consciências íntegras e zelosas de justice em todas as suas acções, pessoas animadas pelo amor da sua pátria e de todos os seus compatriotas. Além do benefício que daqui provém então para a religião, constitui para o futuro do país um valor precioso que não pode deixar de fazer parte da preocupação dos Governantes.

Acrescentarei mesmo: os sacerdotes e as religiosas que vieram propositadamente de outros países para ajudar os seus irmãos e irmãs burundeses não têm outra ambição nem outro amor. Toda a Igreja no Burundi, que, como árvore bem radicada, conhece felizmente hoje a sua florescência e os seus frutos, nasceu desta generosidade missionária; e ela própria considera que ainda tem necessidade deste contributo como um verdadeiro serviço, esperando fazer beneficiar, outros Países da África da maturidade da sua fé e de algumas das suas vocações, que já começam a sentir-se.

4. Quer dizer que entre a Igreja e o Estado, para responder às esperanças dos Burundeses, para consolidar e fazer aumentar o que foi adquirido e constitui o seu legítimo orgulho, parece necessário desenvolver cada vez mais uma compreensão adequada da especificidade e ao mesmo tempo da complementariedade da convergência das tarefas religiosas e civis, uma atmosfera de confiança de acolhimento, um clima de paz e de estima recíproca, o sentido da solidariedade e um zelo de colaboração, respeitando os direitos e as liberdades de cada uma das partes e reconhecendo que a Igreja dispõe dos meios necessários para a sua missão religiosa, quer se trate do pessoal ou dos instrumentos pastorais, incluindo, entre outros, os meios de comunicação social.

Tal estado de espírito permite superar definitivamente, no diálogo, na confiança mútua, as dificuldades, por vezes graves, que puderam surgir nestes últimos anos. A sua missão junto da Santa Sé, Senhor Embaixador, poderá contribuir grandemente para isto. Nutrimos esta esperança. Faço-lhe os meus melhores votos pela sua realização. E formulo cordiais bons votos pela felicidade o  progresso de todos os seus compatriotas, pelo futuro da nação Burundesa tão cara à Santa Sé, e pela missão dos seus Governantes. Sobre todos imploro as bênçãos, a inspira­ção e a ajuda de Deus, que vem em. auxílio dos nossos esforços. Ele. Autor de todo o bem.

 



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