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 DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA
 DA CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA

 

 

Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado
Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Tenho a alegria de vos dar as boas-vindas, por ocasião da Assembleia Plenária da Congregação para a Educação Católica, que teve início hoje e que vos verá empenhados nos próximos dias a aperfeiçoar algumas linhas gerais, a fim de orientar melhor a obra educativa da Igreja. Este encontro permite-me exprimir a minha gratidão a todos vós, que me coadjuvais no sector tão relevante para a vida da Igreja como é o da educação.

Agradeço ao Senhor Cardeal Pio Laghi as palavras que me dirigiu e as felicitações que teve a bondade de me apresentar, por ocasião do vigésimo aniversário da minha eleição à Cátedra de Pedro. Saúdo o novo Secretário, D. Giuseppe Pittau, e exprimo vivo apreço aos Oficiais da Congregação, pelo seu trabalho que às vezes parece ser árido e escondido mas que, ao contrário, é precioso para os Seminários, as Faculdades Eclesiásticas, as Universidades e as Escolas Católicas, os Centros vocacionais.

2. Todos nós estamos convictos da prioridade do empenho educativo da Igreja a todos os níveis. De igual modo, estamos conscientes das dificuldades deste empenho, que deve confrontar-se com o desenvolvimento tecnológico e as mudanças culturais actualmente em curso. A aplicação das novas tecnologias informáticas aos vários âmbitos da vida e da convivência civil, já provocou e há de provocar ainda mais mudanças notáveis nos processos de aprendizagem, de inter-relação e de maturação da personalidade. Há efeitos positivos, tais como a facilitação da comunicação, o enriquecimento do intercâmbio e da informação, a superação das fronteiras; não faltam, porém, consequências negativas, como a superficialidade, a falta de criatividade, a fragmentação.

Diante disto a Igreja é chamada a exercer a sua profecia, propondo um modelo de homem unificado e completo. São Paulo escreve na segunda Carta a Timóteo: «Toda a Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, para convencer, para corrigir, para instruir na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e apto para toda a boa obra» (cf. 3, 16). O desafio é o de formar pessoas completas, desenvolvidas de maneira harmónica em todas as suas faculdades e dimensões, pessoas capazes de se elevar com as duas asas da fé e da razão para a contemplação da verdade. Propor essa visão do homem e pôr em prática as relativas opções pedagógicas, não é fácil nem gratuito. Como ainda nos recorda São Paulo, «desejosos de ouvir novidades, os homens escolherão para si uma multidão de mestres, ao sabor das suas paixões, e hão-de afastar os ouvidos da verdade, aplicando-os às fábulas » (2 Tm 4, 5). Nós, porém, como Timóteo, somos chamados a vigiar com atenção para que o anúncio do Evangelho seja feito de maneira integral e possa conduzir os homens à salvação.

3. É-me grato ler, à luz de todos estes textos paulinos, o trabalho do vosso Dicastério e o programa destes dias de Assembleia Plenária. O grande empenho do Departamento dos Seminários é cuidar de uma formação integral dos candidatos ao sacerdócio, atenta à dimensão humana, espiritual, intelectual e pastoral.

Quanto a isto, constitui um elemento particularmente relevante a relação entre formação humana e formação espiritual. Competir-vos-á determinar os critérios para o uso das ciências humanas na admissão e formação dos candidatos ao sacerdócio. Considero útil que se recorra ao contributo destas ciências, para discernir e favorecer a maturidade no âmbito das virtudes humanas, da capacidade de relação com os outros, do crescimento afectivo-sexual, da educação para a liberdade e a consciência moral. Contudo, isto deve permanecer circunscrito nos limites das próprias competências específicas, sem sufocar o dom divino e a dimensão espiritual da vocação nem corroer o espaço do discernimento e do acompanhamento vocacional, que por sua natureza competem aos educadores do Seminário.

Outro elemento importante da formação integral refere-se à plena sintonia entre a proposta educativa em sentido estrito e a teológica, que incide em profundidade na mentalidade e na sensibilidade dos alunos e, portanto, deve estar coordenada com o projecto educativo global.

Recomendo portanto que se reflicta, onde for possível, sobre o ensinamento teológico em função da formação sacerdotal e se faça evoluir nesse sentido a ratio studiorum dos Seminários. Nesta tarefa muito têm a ensinar-nos os Padres da Igreja e os grandes teólogos santos, «non solum discentes sed et patientes divina» (Dionísio pseudo-areopagita, De divinis nominibus, II, 9: PG 3, 674), pessoas que conheceram o Mistério pela via do amor, «per quandam connaturalitatem », como diria S. Tomás de Aquino (S. Th. II-II, 9. 45, a. 2) e que viveram intensamente o vínculo com as Igrejas em que estavam a trabalhar.

4. A perspectiva do homem unificado, completo, presta-se optimamente para integrar o esforço que o Departamento das Universidades dessa Congregação realiza para uma sempre maior qualificação das Faculdades e Universidades eclesiásticas e para um crescimento de consciência por parte das Universidades Católicas, no que se refere à sua identidade e missão.

A respeito disso, quereria recordar que com a proximidade do Ano 2000, avizinha-se o decénio da Constituição Apostólica Ex corde Ecclesiae, com a qual eu quis dar um sinal da minha particular solicitude pelas Universidades católicas. Sem dúvida, estas têm uma tarefa específica ao testemunharem a sensibilidade da Igreja pela promoção de um saber global, aberto a todas as dimensões humanas. Mas, com o passar dos anos, torna-se evidente como esta função específica da Universidade católica não pode ser realizada até ao fundo, sem uma adequada expressão da sua natureza eclesial, do seu vínculo com a Igreja, a nível tanto local como universal.

Um papel determinante quanto a isto é o dos Bispos, chamados a assumir em primeira pessoa a responsabilidade da identidade católica, que deve caracterizar estes Centros. Isto significa que, sem transcurar as exigências académicas requeridas a todas as Universidades, para serem acolhidas na comunidade internacional da pesquisa e do saber, os Bispos têm o papel de acompanhar e guiar os responsáveis pelas várias Universidades católicas, no exercício da sua missão como católicas e de modo particular na evangelização. Só assim elas poderão cumprir a sua vocação específica: levar os estudantes, mais do que a uma habilidade técnica ou a uma alta qualificação profissional, a uma plenitude humana e a uma disponibilidade ao testemunho evangélico na sociedade.

5. Na linha da formação do homem completo, está empenhado também o Departamento das Escolas do vosso Dicastério. Diante dos olhos de todos apresenta-se a dificuldade que o mundo escolar está a viver nestes anos. Nele se reflecte o caminho da humanidade, com as suas dificuldades, os seus limites, mas também com as suas esperanças e potencialidades. Basta considerar a atenção reservada à escola pelos Organismos internacionais, actividades dos governos e opinião pública.

No contexto histórico que estamos a viver, marcado por transformações profundas, a Igreja é chamada, na perspectiva que lhe é própria, a pôr à disposição o amplo património da sua tradição educativa, procurando responder às sempre novas exigências da evolução cultural da humanidade.

Encorajo, portanto, as Igrejas particulares e os Institutos religiosos responsáveis de instituições educativas a prosseguirem no investimento de pessoas e meios, numa época tão urgente e essencial para o futuro do mundo e da Igreja, como foi bem reafirmado na recente Carta circular «A escola católica no limiar do Terceiro Milénio».

6. O princípio dinâmico do homem unificado e completo de todas as dimensões que lhe são próprias, pode constituir o quadro de referência da actividade realizada pela Pontifícia Obra das Vocações. Isto pode ser cultivado facilmente, se se considera que só em torno do mistério da vocação podem convergir de maneira vital as várias componentes da existência humana.

A partir deste ponto de vista, a realidade hodierna não está isenta de motivos de preocupação. Muitos jovens, sem a percepção de si mesmos como chamados, se disperdem num oceano de informações, de estímulos desiguais e dados, experimentando uma espécie de nomadismo permanente e sem referências concretas.

Essa situação, muitas vezes fonte de temor em relação ao futuro e ao empenho definitivo, deve induzir a Pontifícia Obra a prosseguir com decisão pelo caminho empreendido, sustentando, através de iniciativas oportunas, aqueles que a vários níveis estão encarregados deste delicado aspecto da pastoral eclesial.

Confio estes temas, objecto de estudo durante a vossa Assembleia Plenária, à Virgem Santa, Mãe da Igreja e Sede da Sabedoria. A Ela confio o vosso trabalho quotidiano, caríssimos Membros e Oficiais da Congregação para a Educação Católica. Seja Nossa Senhora a guiar-vos e a acompanhar-vos no serviço ao Evangelho e à Sede Apostólica. Asseguro-vos que também eu sigo de perto e vos acompanho com a oração, e é-me grato conceder agora a vós e a todos os Seminários e Institutos de estudo uma especial Bênção Apostólica.

 

 

 



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