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DISCURSO DO SANTO PADRE
AO NOVO EMBAIXADOR DA INDONÉSIA JUNTO A SANTA SÉ

12 de Junho de 2000

 


Senhor Embaixador Widodo Sutiyo

Dou-lhe calorosas boas-vindas, no momento em que Vossa Excelência apresenta as Cartas Credenciais mediante as quais é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Indonésia junto da Santa Sé. Aproveito este ensejo para confirmar os meus sentimentos de estima e de amizade pelo povo do seu país. Estou grato pelas cordiais saudações transmitidas pelo Presidente, Sua Excelência o Senhor Abdurrachman Wahid e, com as agradáveis recordações da sua recente visita a Roma, peço que lhe assegure as minhas orações pela sua exigente missão e pela paz e o bem-estar da nação.

A amizade e a hospitalidade do povo da Indonésia não deixaram de me impressionar durante a minha visita ao seu país, realizada em 1989. Nessa ocasião, pude testemunhar pessoalmente a grande variedade de religiões, raças e culturas que forjam o mosaico da sociedade indonésia. Esta diversidade constitui um enorme manancial de enriquecimento, uma vez que amalgama os traços de complementaridade de diferentes grupos étnicos e, através da sua interacção, dá origem a uma comunidade nacional vibrante e produtiva. Ao mesmo tempo, esta diversidade também apresenta desafios formidáveis, enquanto a Indonésia luta para conservar a sua unidade e edificar um futuro em que todos os cidadãos sejam capazes de contribuir para o bem comum. A este propósito, reitero agora aquilo que disse em Jacarta em 1989: "A única base sólida da unidade nacional é o respeito por todos: o respeito pelas diferentes opiniões, convicções, costumes e valores que marcam muitos cidadãos da Indonésia". Efectivamente, "a base mais sólida para a unidade e o desenvolvimento duradouros duma nação é o profundo respeito pela vida humana, pelos direitos inalienáveis da pessoa humana" (Discurso durante a recepção oficial no Palácio "Istana Negara", 9 de Outubro de 1989: ed. port. de L'Osservatore Romano de 15.X.1989, pág. 7, n. 2).

Nos últimos tempos, tiveram lugar muitas transformações importantes no seu país. A Santa Sé está plenamente consciente dos numerosos aspectos positivos daquelas mudanças, mas também das dificuldades que a Indonésia deve enfrentar ao longo do caminho das reformas já iniciado e nos seus esforços em vista de desenvolver estruturas políticas e legais, capazes de satisfazer as expectativas e aspirações de todas as populações do arquipélago. Estou persuadido de que o compromisso do seu país em prol da democracia há-de contribuir para o progresso da nação e a promoção da harmonia e a reconciliação sociais. A democracia genuína está fundada no reconhecimento da dignidade inalienável de cada pessoa humana, da qual fluem os direitos e deveres humanos. O desrespeito desta dignidade leva a várias, e muitas vezes trágicas, formas de discriminação, exploração, sublevação social e conflito nacional e internacional, infelizmente muito familiares ao mundo. Somente quando a dignidade da pessoa é salvaguardada pode haver um desenvolvimento genuíno e uma paz duradoura.

Entre os direitos humanos fundamentais, a liberdade religiosa ocupa um lugar de importância primária. A liberdade dos indivíduos e das comunidades professarem e praticarem a própria religião é essencial para a pacífica coexistência humana. O recurso à violência em nome do credo religioso constitui uma paródia das doutrinas das principais religiões. O diálogo entre as religiões presentes num mesmo território é essencial a fim de que todos possam testemunhar que o credo religioso genuíno inspira a paz, encoraja a solidariedade, promove a justiça e defende a liberdade (cf. Discurso na celebração de encerramento da assembleia inter-religiosa, 28 de Outubro de 1999, n. 3).

Em conformidade com os valores da "Pancasila", a Indonésia tem grande consideração pela liberdade religiosa, que é essencial para o bem comum, e esta convicção torna as pessoas de diferentes tradições religiosas capazes de viver lado a lado, em harmonia. Ela permitiu aos seus concidadãos católicos, que sempre desejaram colaborar para o bem do próprio país, oferecer a plena contribuição à vida da nação, de modo muito especial no período da independência. A Igreja tem sido capaz de se demonstrar activa no campo da assistência médica e no sector social. Através das suas actividades educacionais, ela contribui para a formação dos cidadãos de todas as tradições e estilos de vida, em relação aos seus direitos e deveres como parte integrante da comunidade nacional. É essencial que os princípios que tornaram esta cooperação possível sejam proclamados de novo, a fim de impedir que a sua importância para a vida da nação não seja negligenciada ou esquecida.

No momento presente, é particularmente necessário repeti-lo, considerando o aumento da violência em algumas partes do seu país, entre as pessoas de diferentes pertenças religiosas. O meu pensamento volta-se de forma especial para as Molucas, onde têm ocorrido atrocidades, massacres e destruições, mesmo nos últimos dias, e onde a persistência das tensões continua a ser uma fonte de grave preocupação. A comunidade internacional faz votos por que a Indonésia adopte as medidas necessárias para resolver as tensões, assegurar que todos os cidadãos sejam tratados a nível de igualdade perante a lei e pôr termo imediato à violência. Convido todas as pessoas interessadas a voltarem a percorrer o caminho do diálogo e da negociação pacífica, num espírito de recíprocos respeito e tolerância. Exorto todos os que têm a peito o bem da Indonésia a trabalharem em benefício da cessação permanente do conflito.

Vossa Excelência referiu-se à questão de Timor Leste. Como o Senhor Embaixador sabe, desde há muito tempo este problema está no centro das solicitudes da Santa Sé, que se sente feliz porque enfim se chegou a uma solução global e internacionalmente aceite para o futuro dessa região. Não obstante os trágicos eventos do ano passado, agora o povo desse território tem a possibilidade de percorrer um novo caminho, de acordo com as suas aspirações mais profundas. A minha esperança mais veemente é de que as Autoridades de Díli e Jacarta despendam todos os esforços possíveis para entretecer um relacionamento de amizade e cooperação, assente nos princípios da justiça, do respeito mútuo e da solidariedade. Juntamente com as Autoridades e as Organizações internacionais, todos devem dedicar as próprias energias para identificar os meios que, a nível prático, melhor podem servir para aliviar o flagelo dos refugiados em Timor Leste, um problema ao qual até mesmo Vossa Excelência quis referir-se. Uma solução justa, que respeite a liberdade dos próprios refugiados e garanta a disponibilidade da assistência humanitária, exige uma maior cooperação entre as partes interessadas.

Excelência, ao formular-lhe os meus melhores bons votos no início da sua missão, asseguro-lhe a prontidão dos departamentos da Santa Sé em assisti-lo no seu trabalho. Sobre a sua pessoa e todos os cidadãos da República da Indonésia, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.

 

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