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DISCURSO DO SANTO PADRE
AO NOVO EMBAIXADOR DO IRAQUE
JUNTO À SANTA SÉ
POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS

Sábado, 28 de Abril de 2001

 


Senhor Embaixador Abdul-Amir Al-Anbar

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Iraque junto da Santa Sé. Desejo que Vossa Excelência tome conhecimento da estima que nutro pelo povo iraquiano, de quem me recordo quotidianamente nas minhas orações, de forma especial à luz das constantes dificuldades que ele enfrenta. Enquanto o embargo ao seu País continua a ceifar vidas, renovo o meu apelo à comunidade internacional a fim de que as pessoas inocentes não sejam obrigadas a pagar as consequências de uma guerra destruidora, cujos efeitos ainda estão a ser sentidos pelos indivíduos mais frágeis e vulneráveis.

Vossa Excelência referiu-se à presença da Santa Sé no seio da comunidade internacional e aos seus esforços em servir a família humana mundial. Efectivamente, a Santa Sé promove aquela "cooperação mútua global" (Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 76) entre a Igreja e a comunidade política, que beneficia tanto os indivíduos singularmente como os povos, as nações e o mundo em geral. Com efeito, embora a tensão, a violência e o conflito armado tristemente o aflijam em muitas das suas regiões, o mundo de hoje está à procura de maiores igualdade e estabilidade para que toda a família humana possa viver na verdadeira justiça e na paz duradoura. Estes conceitos não são abstractos, nem ideais remotos; pelo contrário, são valores radicados no coração de cada indivíduo e nação, e aos quais todas as pessoas têm direito.

É precisamente a promoção desta justiça e desta paz que constitui o motor que está por detrás de todas as actividades da Santa Sé no campo da diplomacia internacional. Embora seja verdade que a actual situação mundial com as enfermidades, a pobreza, a injustiça e a guerra que ainda são causas de demasiados sofrimentos e dificuldades pode levar as pessoas a duvidarem da capacidade da comunidade internacional sarar os males deste mundo, a Santa Sé acredita plenamente que, como tive a ocasião de pôr em evidência no início do corrente ano, "sem a solidariedade social ou o recurso ao direito e outros instrumentos da diplomacia, estas situações terríveis seriam ainda mais dramáticas e poderiam mesmo tornar-se insolúveis" (Discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, 13 de Janeiro de 2001, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 20/1/2001, pág. 4, n. 1).

Milhares de anos de história humana demonstraram com toda a clarividência que a humanidade de todos os tempos se sente tentada a "fechar o homem em si mesmo, numa atitude de auto-suficiência, domínio, poder e orgulho" (Ibid., n. 6). Portanto, a Santa Sé considera que um dos seus principais deveres consiste em recordar à opinião pública que "nenhuma autoridade, nenhum programa político, nenhuma ideologia está autorizada a reduzir o homem àquilo que ele é capaz de fazer ou produzir" (Ibid., n. 7). Os direitos e a dignidade pessoal inalienáveis de cada ser humano devem ser salvaguardados e a dimensão transcendente da pessoa humana há-de ser defendida. "Ainda que a alguns repugne evocar a dimensão religiosa do homem e da sua história, ainda que outros queiram reduzir a religião à esfera do privado, que outros ainda persigam a comunidade dos crentes, os cristãos continuarão a proclamar que a experiência religiosa faz parte da experiência humana. É um elemento vital para a construção da pessoa e da sociedade à qual os homens pertencem" (Ibidem).

Neste contexto, o meu pensamento volta-se naturalmente para os membros da comunidade católica presente no Iraque. Juntamente com os seus compatriotas muçulmanos, os cristãos iraquianos desejam trabalhar em prol da unidade e da harmonia. A sua fé e os seus valores cristãos inspiram-nos a cultivar um espírito de respeito mútuo, com orgulho pela sua identidade nacional e solicitude pelo progresso do seu País. No Iraque, assim como no resto do mundo em geral, o diálogo entre os cristãos e os muçulmanos é mais necessário do que nunca. Através do diálogo, os fiéis tornar-se-ão capazes de corresponder de maneira positiva ao apelo para se respeitarem reciprocamente, ultrapassarem toda a discriminação e servirem o bem comum num espírito de fraternidade e de compreensão. Da mesma forma, cada governo tem a obrigação de garantir que a igualdade de todos os cidadãos perante a lei jamais seja violada por motivos religiosos, quer estes sejam abertos ou dissimulados.

Senhor Embaixador, com a sua longa experiência e as elevadas qualificações com que assume os seus deveres, estou persuadido de que o seu mandato de serviço muito contribuirá para fortalecer os vínculos de amizade entre o seu Governo e a Santa Sé. Formulo-lhe os meus melhores votos para o bom êxito da sua missão e asseguro-lhe toda a assistência no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e sobre o amado povo iraquiano, invoco cordialmente as copiosas Bênçãos do Altíssimo.

 

© Copyright 2001 - Libreria Editrice Vaticana

 



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