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DISCURSO DO SANTO PADRE
À EMBAIXADORA DE RUANDA JUNTO À SANTA SÉ
 POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS

6 de Dezembro de 2001  


Excelência

No momento de receber as Cartas que a acreditam como Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República de Ruanda junto da Santa Sé, apresento-lhes as boas-vindas ao Vaticano. Peço-lhe que tenha a amabilidade de transmitir ao Presidente, Sua Excelência o Senhor Kagame, assim como a todos os seus concidadãos, a certeza da minha proximidade, enquanto o seu País dá continuidade à difícil tarefa de reconstrução material e espiritual, depois dos imensos sofrimentos causados pela violência genocida na década passada. Deus omnipotente inspire no coração de todos um compromisso cada vez mais determinado em defesa dos valores da justiça, da solidariedade, da reconciliação e do perdão, que constituem o único fundamento seguro para o renascimento da Nação.

Tenho acompanhado com profundo interesse os incessantes esforços do seu País em ordem a restabelecer a unidade nacional, com base numa nova Constituição e renovados programas sociais, destinados a recuperar a prática da lei, a oferecer assistência aos sobreviventes do genocídio e a reintegrar os refugiados. O exigente compromisso de todos os ruandeses em favor da renovação social, política e moral é essencial não só para o futuro do seu País mas também, a nível mais vasto, para a pacificação de toda a Região dos Grandes Lagos. Formulo votos a fim de que, restabelecendo-se do pesadelo do passado ainda recente, Ruanda receba a assistência da Comunidade internacional nos seus esforços de reforma das estruturas da sociedade civil e de promoção de um desenvolvimento económico e humano integral, capaz de eliminar as mais profundas causas de injustiça e da agitação social.

Excelência, se os trágicos acontecimentos do passado recente revelaram o poder destruidor do mal e do ódio, a presente obra de reconstrução nacional oferece uma importante oportunidade para o povo ruandês dar testemunho do maior poder da magnanimidade, sempre presente no coração do homem, um bem que se exprime politicamente na busca de uma sociedade justa e fraternal, fundamentada no respeito incondicional pela dignidade e pelos direitos inatos de cada pessoa humana, independentemente da sua origem étnica ou da sua opinião política. Como a doutrina da Igreja afirma e a experiência no-lo demonstra, as mudanças externas nas estruturas e nos programas nunca são suficientes em si mesmas:  o autêntico restabelecimento social exige uma notável renovação dos corações e das mentes, que possa transformar as atitudes inflexíveis e inspirar programas concretos. Isto é particularmente verdade no que se refere à administração da justiça, que deve salvaguardar e promover o bem comum e, ao mesmo tempo, tutelar escrupulosamente os direitos humanos, a prática da lei, a justiça e a equidade na aplicação do castigo, evitando de maneira especial as medidas drásticas como o recurso à pena de morte. Em última análise, não pode existir paz sem a firme resolução de respeitar e proteger a vida, como a realidade humana mais sagrada e inviolável:  "Não se pode invocar a paz e desprezar a vida" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, n. 19).

A Igreja católica no seu País colocou-se ao serviço deste grandioso renascimento moral e do programa de reconciliação e de renovação sociais. Durante este ano, a Igreja que está em Ruanda comemora o centenário da sua fundação e, recentemente, celebrou em união com a Igreja universal o grande Jubileu do nascimento de Jesus Cristo. Estes dois acontecimentos representaram um desafio para uma sóbria avaliação do seu passado, a "purificação da memória" e um renovado compromisso na sua missão divina. Através da sua proclamação do Evangelho e do seu testemunho das obrigações morais, a Igreja procura inculcar a reverência a Deus, Criador de todos, a compreensão do destino sublime de cada homem e de cada mulher, e a consciência da unidade divina da raça humana, uma unidade que abrange a diversidade e é por ela enriquecida. Aprecio profundamente as expressões de gratidão com que Vossa Excelência falou sobre as contribuições passadas e presentes da Igreja católica para a vida nacional, exercidas através dos programas de educação, do auxílio caritativo e da assistência médica. Em todos estes sectores, a Igreja procura expressar a sua própria natureza, como comunhão de fé que é exercida mediante o amor (cf. Gl 5, 6). Exortando a uma conversão constante do coração e a um sincero exame de consciência, ela procura ser uma voz profética no seio da sociedade ruandesa. Além disso, é impelida unicamente pelo desejo de contribuir para o bem-estar da Nação, em cooperação com as autoridades civis, os membros das outras tradições religiosas e todos os homens e mulheres de boa vontade.

Em Ruanda, assim como noutras regiões do continente africano, o futuro já se encontra nas mãos dos jovens. A vigorosa tradição da vida familiar constitui o recurso mais precioso da África, na preparação da geração mais jovem, para que possa enfrentar os desafios do novo século. As famílias de Ruanda precisam de ser encorajadas e de receber apoio e assistência concretos na sua tarefa de modelar as mentes e os corações dos jovens, formando-os a fim de que se tornem membros responsáveis e generosos da sociedade. O Ruanda do futuro tem grande necessidade do imenso entusiasmo e das reservas de energia que se desencadeiam, quando os jovens são inspirados por ideais sublimes e por finalidades dignas de mérito, e quando podem recorrer aos recursos culturais e espirituais em ordem a alcançá-los. A cada um dos níveis da vida nacional, devem realizar-se esforços destinados a combater as ameaças que se apresentam aos jovens, como o analfabetismo, o ócio, o abuso das drogas e a importação de modos de pensar e de modelos de comportamento que vão contra os valores nobres da tradição africana. O que é mais importante, é que os jovens precisam de receber exemplos concretos de integridade, de honestidade e de solicitude pelo próximo, tornando-se capazes de compreender que a felicidade e a realização humanas autênticas só podem chegar mediante o generoso dom de si mesmo aos outros. Desta maneira, eles serão "artífices de uma nova humanidade onde irmãos e irmãs, todos membros da mesma família, possam finalmente viver em paz!" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, n. 22).

Excelência, nos longos anos dos sofrimentos do seu País e da sua paciente luta para o reconstruir depois da destruição, permaneci próximo do seu povo através da oração. No momento em que a Senhora Embaixadora dá início à sua missão junto da Santa Sé, desejo assegurar-lhe de novo a minha estima e solicitude por todos os ruandeses e exprimir-lhe a minha confiança de que a justiça e a solidariedade fraternal hão-de prevalecer. Enquanto invoco sobre Vossa Excelência e os seus compatriotas as Bênçãos divinas da sabedoria e da fortaleza, imploro a Deus omnipotente que oriente a sua Nação pelas veredas do progresso e da paz.

 

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