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DISCURSO DO SANTO PADRE
AO NOVO EMBAIXADOR DO REINO DO NEPAL
JUNTO À SANTA SÉ

18 de Maio de 2001

Senhor Embaixador

É com imenso prazer que aceito as Cartas Credenciais mediante as quais Sua Majestade o Rei Birendra Bir Bikram Shah Dev o designou Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino do Nepal junto da Santa Sé. Agradeço a Sua Majestade as saudações que Vossa Excelência me transmitiu em seu nome e retribuo com a expressão dos bons votos e da certeza das minhas preces pela paz no seu País e pelo bem-estar dos seus compatriotas.

O Senhor Embaixador referiu-se aos esforços da Santa Sé no campo das relações internacionais, com vista a construir um mundo assente na cultura da paz, da fraternidade e dos valores religiosos. As actividades da Santa Sé neste sector são motivadas pela singular natureza da sua missão religiosa e humanitária, que está na base da sua solicitude pelo bem integral de cada ser humano. O novo milénio é um convite aos povos de toda a parte a olharem para o futuro com esperança e a cooperarem na edificação de um mundo em que todos os membros da família humana possam ocupar o seu justo lugar e viver em paz e harmonia.

Os desafios que se apresentam à comunidade internacional neste campo são imensos. Sofrimentos indizíveis têm sido provocados pela trágica sequência de guerras, conflitos e casos de genocídios, que atingiram várias regiões do mundo, até mesmo no passado mais recente. Contudo, estas tragédias não deveriam desencorajar as pessoas a trabalhar para superar os factores que as produzem:  o desejo de dominar e de explorar os outros, as ideologias do poder, o nacionalismo exasperado e o ódio étnico. A causa da paz, hoje como sempre, deveria estar no centro dos nossos esforços com vista a melhorar a sorte da humanidade e garantir um futuro mais  luminoso  para  as  gerações vindouras.

A paz é possível, mas somente "na medida em que toda a humanidade for capaz de redescobrir a sua vocação primordial de ser uma única família, na qual a dignidade e os direitos das pessoas de qualquer estado, raça, religião sejam afirmados como anteriores e predominantes relativamente a qualquer diferenciação e especificação" (Mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz de 2001, n. 5). A convicção geral de que a humanidade é uma única família deve levar a uma maior aceitação das legítimas diferenças políticas e culturais, produzindo o comum desejo de trabalhar em favor do respeito e da reconciliação entre os grupos, quando as relações são interrompidas pela hostilidade e pelo conflito. Não é meramente a ausência da guerra que garante a paz genuína; a paz exige a rectidão, a verdade, a justiça e a solidariedade. Um maior sentido de fraternidade entre os povos do mundo, que encontra a sua expressão concreta em gestos de solidariedade e de compromisso no autêntico desenvolvimento humano, é necessário a fim de pôr termo às excessivas desigualdades económicas e sociais, e aos efeitos prejudiciais da desconfiança e do orgulho.

Felizmente, aceita-se cada vez mais a convicção de que uma condição essencial para a paz é o respeito pela dignidade da pessoa humana e para os direitos do homem. Só se o valor e os direitos singulares da pessoa forem reconhecidos, salvaguardados e promovidos é que o tecido social se fortalecerá genuinamente, as prioridades dos indivíduos e das nações se ordenarão de maneira adequada e a qualidade das relações internacionais melhorará. Os direitos do homem estão inscritos na própria natureza da pessoa e reflectem as exigências objectivas e invioláveis da lei moral universal. Eles não são concedidos pela sociedade ou pelo Estado, mas precedem as leis e os acordos, enquanto determinam o valor destes e a sua validade. O futuro da família humana exige da parte de todos a aceitação da universalidade e da objectividade da dignidade e dos direitos humanos, se os povos do mundo quiserem ter a possibilidade de se empenhar num diálogo significativo para o bem-estar genuíno de todos. Daqui o dever que o Estado tem de defender as dimensões morais e espirituais da vida, sem as quais os seres humanos não se podem realizar plenamente, nem edificar uma sociedade que respeite a sua natureza transcendental.

O reconhecimento da dimensão espiritual e transcendente da vida humana e do direito da liberdade religiosa está no próprio centro da estrutura dos direitos humanos. A devida atenção a este aspecto leva a uma mais profunda consciência do valor inalienável da pessoa humana, à maior abertura aos outros, a uma sociedade mais justa e humana, e ao uso mais sábio e mais responsável dos recursos para o bem comum. Com as suas antigas tradições espirituais e o seu património religioso, a pátria do Senhor Embaixador é abençoada com uma sabedoria capaz de oferecer discernimento e inspiração para um desenvolvimento equilibrado, no respeito do bem comum de todos os seus cidadãos.

A este respeito, embora seja pequena numericamente, a comunidade católica no Nepal sente-se feliz por desempenhar o papel que lhe é próprio, através da sua missão espiritual e dos seus trabalhos nas áreas da educação, dos cuidados médicos e da assistência social. Os seus membros não buscam privilégios especiais, mas somente a garantia da liberdade de seguir os ditames da consciência e a liberdade de praticar a sua religião aberta e pacificamente, num espírito de respeito pelos seguidores das outras tradições espirituais.

Senhor Embaixador, estou persuadido de que durante o mandato da sua missão a amizade e a compreensão que têm caracterizado as relações entre o Reino do Nepal e a Santa Sé continuarão a aumentar, e asseguro-lhe a plena colaboração dos vários departamentos da Cúria Romana. Sobre Vossa Excelência e o seu País, invoco as abundantes Bênçãos divinas.

 

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