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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR LARS PETTER FORBERG
NOVO EMBAIXADOR DA NORUEGA
JUNTO DA SANTA SÉ
POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS

16 de Dezembro de 2004

 

Excelência

É-me grato dirigir-lhe as saudações de boas-vindas, no dia hoje, e aceitar as Cartas Credenciais através das quais Vossa Excelência é designado como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino da Noruega junto da Santa Sé. Não obstante a minha visita ao seu país já tenha sido realizada há vários anos, é com simpatia que me recordo do grande afecto e da hospitalidade que então me foram reservados. Estou grato ao Senhor Embaixador pelas amáveis expressões de saudação que me quis transmitir da parte de Sua Majestade o Rei Harald V e da do Primeiro-Ministro, Sua Ex.cia o Senhor Bondevik. Pediria a Vossa Excelência que comunicasse à Família Real, aos membros do Governo e a todo o Povo da Noruega a manifestação dos meus bons votos, bem como a certeza das minhas orações pelo bem-estar de toda a nação.

No âmago das actividades diplomáticas da Santa Sé existe um compromisso duradouro em defesa da dignidade da pessoa humana. Esta promoção dos direitos do homem, da justiça social e da solidariedade deriva do reconhecimento da origem comum de toda a vida e, ao mesmo tempo, indica o destino conjunto de todos os homens e de todas as mulheres. Nesta amplitude de perspectiva, lança-se luz sobre a dimensão transcendental da humanidade, em vista de contrastar a fragmentação social e o secularismo, tão tristemente imperantes no âmbito de numerosas sociedades contemporâneas e, ao mesmo tempo, oferecendo um fundamento seguro para a solidariedade e para a harmonia no nosso mundo em geral.

No seio da comunidade internacional, a Noruega tem sido reconhecida desde há muito tempo pela sua generosidade em benefício das nações que se encontram em vias de desenvolvimento. Expressões tangíveis desta generosidade podem ser encontradas, por exemplo, na participação da sua nação nas várias operações de manutenção da paz, na contribuição para os projectos de assistência e na disponibilidade a lutar contra o tráfico armamentista, assim como na promoção do desenvolvimento sustentável e na salvaguarda do meio ambiente. Estes gestos de solidariedade constituem a expressão de uma vontade perseverante em ordem a promover o bem comum e, ao seu nível mais significativo, contribuem também para evidenciar o reconhecimento da natureza fundamental da vida humana como uma dádiva e do nosso mundo como uma família de pessoas. Com efeito, os verdadeiros actos de solidariedade constituem mais do que simples gestos unilaterais de boa vontade, dado que eles promovem o desígnio universal de Deus para toda a humanidade e, em sintonia com esta mesma visão, enfrentam os complicados desafios da justiça, da liberdade dos povos e da paz.

Como o Senhor Embaixador justamente desejou observar, no passado a cristandade foi de importância fundamental na história da Noruega. Mas deve sê-lo igualmente no presente e também no futuro. Na visita pastoral que pude realizar ao seu país, fui como um peregrino desejoso de prestar uma homenagem à vida de Santo Olavo e de outros grandes Santos do Norte, cujo exemplo ainda hoje nos fala acerca das profundas verdades e dos valores que forjaram a cultura norueguesa ao longo de um arco de tempo de mais de mil anos. E ainda agora estes princípios-guia conservam o seu significado para a sociedade contemporânea, uma vez que revelam "a esfera mais profunda do homem" e oferecem "o sentido da sua existência no mundo" (cf. Redemptor hominis, 10). Efectivamente, como podem ser considerados de maneira extraordinária através do testemunho dos Santos, os valores que se encontram no coração da Europa cristã exortam todos os homens e todas as mulheres "a orientar os seus passos também para uma realidade que os transcende" (cf. Fides et ratio, 5), a fim de que assim o bem consiga prevalecer e Deus possa ser honrado. Quando perdem de vista este objectivo, que é a sua única garantia de liberdade e de felicidade, os indivíduos tornam-se como que prisioneiros de ideologias falazes e então são incapazes de elevar o seu olhar para as alturas da finalidade da vida.

A este propósito, não se pode deixar de observar que o eclipse do sentido de Deus lançou as suas sombras não apenas sobre o seu próprio país, Senhor Embaixador, mas inclusivamente sobre as demais terras espalhadas pelo Norte. No contexto deste inquietador processo de secularização, como já tive a oportunidade de frisar em numerosas ocasiões, é o matrimónio e a família que passam a ser mormente ameaçados. Por este motivo, continuo a exortar tanto os chefes religiosos como os líderes civis em geral a promover a instituição sagrada do matrimónio, desejado por Deus a partir do próprio acto da criação, com a sua correspondente vida familiar estável. A verdade acerca da sexualidade humana manifesta-se na beleza do amor dos casais, como um dom singular e exclusivo de si mesmo ao outro, e na aceitação recíproca daquela maravilhosa dádiva, mediante a qual ambos se tornam cooperadores de Deus na geração da vida de uma nova pessoa humana (cf. Familiaris consortio, 14). Os desvirtuamentos seculares e pragmáticos da realidade do matrimónio jamais podem ser comparados com o esplendor da aliança que perdura uma vida inteira, fundamentada sobre a entrega pessoal generosa e sobre o amor incondicional, e por isso só prejudicarão a base sobre a qual se consolidam as aspirações legítimas de uma determinada nação.

Desde o início do meu Pontificado, comprometi-me no ecumenismo, escolhendo-o como uma prioridade da minha solicitude e das minhas actividades pastorais. A consciência da história conjunta, compartilhada por todos os cristãos, tem alimentado a fraternidade e o diálogo, unindo o testemunho cristão em prol do desenvolvimento do Reino de Deus no meio de todos nós (cf. Ut unum sint, 41). Neste sentido, encorajo todos os líderes religiosos da sua nação a perseverarem ao longo do caminho rumo à unidade cristã. Deste modo, eles contribuirão para ajudar todos os noruegueses a beber da sua rica herança de fé cristã, hoje já ultramilenária:  em Cristo, todas as pessoas tanto os autóctones, como os migrantes ou os estrangeiros são irmãos e irmãs, e os nossos gestos de solidariedade em favor deles tornam-se actos de amor e de fidelidade a Jesus Cristo, que veio para que nós pudéssemos ter vida, e vida em abundância (cf. Jo 10, 10).

Com estas palavras de encorajamento desejo assegurar-lhe, Senhor Embaixador, que a Igreja Católica continuará a trabalhar pelo enriquecimento espiritual e pelo progresso social de todo o povo norueguês. Mediante o seu testemunho de caridade, a Igreja vai ao encontro de todos os homens e mulheres, independentemente da sua etnia ou da sua religião, fomentando o desenvolvimento de uma "cultura da solidariedade" e dando uma renovada vida aos valores universais da coexistência humana (cf. Ecclesia in Europa, 85).

Senhor Embaixador, estou persuadido de que a missão que Vossa Excelência começa no dia de hoje há-de contribuir para fortalecer os cordiais vínculos de compreensão e de cooperação já existentes entre a Noruega e a Santa Sé. No momento em que assume as suas novas responsabilidades, o Senhor Embaixador pode ter a certeza de que os vários Departamentos da Cúria Romana estão prontos a assisti-lo no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família e os seus compatriotas, invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.

 



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